3 ganhadores e 3 perdedores do colapso da Terra (LUNA)

A queda do ecossistema Terra representou um abalo para a indústria de criptomoedas, mas todas as histórias dramáticas registram ganhadores e perdedores – e dessa vez não foi diferente.

A irresistível ascensão do LUNA e da stablecoin algorítmica TerraUSD (UST) parecia um daqueles casos em que um projeto se torna “grande demais para falhar”. Com uma capitalização de mercado combinada de mais de US$ 40 bilhões pulverizada em poucas horas, muitos foram os perdedores do mais espetacular colapso da história da indústria de criptomoedas até hoje.

Com o LUNA reduzido a zero e o UST se encaminhando ao mesmo destino, tem surgido uma profusão de propostas para tentar salvar o pouco que restou do ecossistema – alguns dapps e seus desenvolvedores.

As últimas notícias dão conta de que o Terraform Labs pretende colocar em votação, a partir da quarta-feira, 18 de maio, uma proposta para fazer um hard fork da blockchain da Terra

A antiga blockchain da Terra continuará existindo com o UST e será chamada de Terra Classic (LUNC). Uma nova blockchain será lançada, mantendo o mesmo nome para a rede – Terra – e o seu token nativo – LUNA.

Se aprovada a proposta, os novos tokens LUNA serão distribuídos através de um airdrop para detentores de LUNC e de UST. Os desenvolvedores da antiga blockchain também serão recompensados. Além disso, a proposta prevê que a Terra torne-se uma rede de propriedade da comunidade de hodlers e desenvolvedores, excluindo a carteira do Terraform Labs da distribuição do novo token e – consequentemente – com menor ou nenhum poder em futuras decisões acerca da governança do protocolo renascido das cinzas.

Uma outra proposta que ganhou aderência entre a comunidade, especialmente no Crypto Twitter, propõe que as carteiras dos pequenos investidores até um determinado montante sejam integralmente ressarcidas. Como uma garantia bancária em instituições financeiras tradicionais.

A proposta prevê ainda que os fundos a serem utilizados para compensar os investidores prejudicados viriam do que resta das reservas da Luna Foundation Guard (LFG). O problema é que, a julgar pelo balanço apresentado pela organização sem fins lucrativos que tinha como dever zelar pelo ecossistema Terra, não há fundos suficientes para implementá-la.

As reservas em Bitcoin (BTC) da LFG foram empenhadas na tentativa fracassada de restabelecer a paridade do UST com o dólar durante a crise da semana passada. Assim, parece óbvio que os grandes perdedores compõem a massa de pequenos investidores anônimos que confiaram na estabilidade do UST e no LUNA enquanto ativo capaz de garanti-la. Mas eles não foram os únicos.

Se engana também quem pensa que não houve ganhadores.

Perdedores

1. Investidores do varejo

Houve muitos investidores do varejo que mantiveram suas posições em LUNA e UST durante a queda, confiando na eficácia do sistema de estabilização dos desequilíbrios na paridade do UST com o dólar, na capacidade das reservas em Bitcoin restabelecerem a indexação depois que o sistema econômico falhou e, principalmente, na palavra de seus líderes.

 2. Mike Novogratz

Diversos fundos de capital de risco, incluindo Pantera Capital, Three Arrows Capital e Jump Crypto, investiram recursos no desenvolvimento do ecossistema da Terra. Mas nenhum personificou tanto a adesão ao projeto quanto a Galaxy Digital na figura de seu CEO e fundador, Mike Novogratz.

No início deste ano, Novogratz demonstrou a sua confiança no projeto tatuando um lobo uivando para a lua com uma menção direta, em palavras, à LUNA em seu braço. Não só isso, o CEO da Galaxy Digital apresentou a tatuagem no Twitter declarando-se oficialmente um “lunático”, como são conhecidos os fãs declarados do protocolo, acompanhado de um agradecimento expresso à Do Kwon, o CEO do Terraform Labs.

Eu sou oficialmente um Lunático!!! Obrigado @stablekwon E obrigado meus amigos da Smith Street Tattoos.

— Mike Novogratz (@novogratz)

Desde que a crise se instalou entre os “Lunáticos”, Novogratz desapareceu, mantendo-se ausente do Twitter em silêncio absoluto.

3. Do Kwon

O líder do Terraform Labs manteve sua onipotência em suas postagens no Twitter mesmo quando a crise de desindexação do UST já mostrava-se mais séria do que muitos poderiam supor – exceto, é claro, seus muitos críticos.

Quando o colapso se tornou irreversível, Do Kwon foi tomado por uma dose de humildade contrária a sua personalidade em um thread publicado no Twitter em 11 de maio. Finalmente teve que se render ao fracasso do projeto e condenar à morte o UST e o LUNA tal qual haviam existido até então.

Na ocasião, Do Kwon apresentou os primeiros traços do que viria a ser o projeto de reconstrução da Terra, conforme a proposta do Terraform Labs, a partir da criação de uma nova stablecoin colateralizada. Ou seja, valendo-se de ativos – e não pura e simplesmente de código – para garanti-la.

Além disso, surgiram boatos de que Do Kwon fora responsável por liderar o projeto de uma stablecoin algorítmica que jamais chegou a cumprir o objetivo de manter a paridade com o dólar, o Basis Cash.

Apesar do fracasso pessoal e de supostas ameaças à sua integridade física relatadas pela mídia sul-coreana, o líder da Terra claramente não pretende se desvincular do projeto, apesar da proposta de transferência do controle para a comunidade.

Embora o fracasso da Terra esteja em parte vinculado à centralização e, talvez até, ao culto da personalidade do seu fundador, Do Kwon, ao que parece, será protagonista do seu futuro destino:

“O grito de guerra da comunidade Terra sempre foi: ‘uma economia descentralizada precisa de dinheiro descentralizado’. Esta é uma visão empolgante e, embora a UST não tenha sido bem-sucedida, a comunidade Terra encontrará maneiras de reiterar essa ideia em algum momento no futuro.”

Ganhadores

1. Sensei Algod e GCR

Conforme relatado pelo Cointelegraph Brasil na ocasião, em março deste ano, o trader pseudônimo identificado como “Sensei Algod” no Twitter foi além das recorrentes menções ao Terra como um esquema de pirâmide financeira e propôs uma aposta endereçada à comunidade de apoiadores do protocolo: ele afirmou que estaria disposto a arriscar US$ 1 milhão na certeza de que daqui a um ano o preço do LUNA estaria mais baixo do que os US$ 88 em que o token era negociado naquele momento.

Em uma resposta praticamente imediata, Do Kwon aceitou o desafio e bancou a aposta na certeza de que o LUNA iria se valorizar ao longo dos próximos 12 meses. Um segundo trader, também pseudônimo, identificado como GCR, propôs multiplicar por 10 vezes o valor da aposta, elevando-a a US$ 10 milhões. Sem pestanejar, Do Kwon outra vez pagou para ver. 

Ambos questionavam a sustentabilidade do ecossistema Terra no longo prazo. Agora, em menos de dois meses, a aposta já tem um vencedor.

2. Freddie Raynolds

Em 25 de novembro do ano passado, Freddie Raynolds, um popular usuário do Crypto Twitter publicou uma postagem explicando passo a passo como um investidor de peso poderia atacar a Terra, provocando um colapso do ecossistema.

Dias depois, Do Kwon classificou a estratégia como a ideia de um “retardado”. Não se pode ter certeza de que a Terra foi, de fato, vítima de um ataque deliberado, mas surgiram alguns boatos dando conta de que algo do tipo poderia ter ocorrido. 

Se aconteceu ou não, o fato é que em 10 de maio, quando o colapso da Terra já era fato consumado, ele relembrou o alerta de forma irônica: “os bilionários, de fato, foram em frente”.

3. Reguladores

Se os reguladores precisassem de evidências concretas sobre o “perigo” das stablecoins e do mercado de criptomoedas de uma forma mais ampla, o caso Terra veio no momento exato para reforçar os clássicos lugares comuns de que as criptomoedas representam um risco ao sistema financeiro global e não passam de um “castelo de cartas” prestes a desmoronar.

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, o tesouro do Reino Unido apresentou uma proposta para regulação de stablecoins à luz do colaposo do UST.

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