2019: O ano dos saques atrasados e dos Bitcoins congelados no Brasil

Em 2019 empresas que chegaram a afirmar que eram as ‘maiores do Brasil’ como Unick Forex, Bitcoin Banco e Atlas Quantum atrasaram saques e até agora não pagaram seus clientes

Um dos fatos que mais chamaram a atenção em 2019 foi a ‘crise’ de grandes empresas de Bitcoin no Brasil e que levaram ao ‘congelamento’ dos recursos dos usuários custodiados nestes plataformas. Empresas que chegaram a afirmar que eram as ‘maiores do Brasil’, terminaram o ano sem pagar seus clientes, com processos judiciais, denúncias no Ministério Público, Polícia Federal e até no FBI.

Os saques atrasados, bitcoin congelados e os milhares de relatos de pessoas que ficaram sem acessos aos seus investimentos contribuíram para ‘manchar’ a imagem do Bitcoin e das criptomoedas no Brasil e inclusive foi usado como argumento por grandes bancos como Itaú e Santander para justificar o encerramento de contas de empresas do setor.

Grupo Bitcoin Banco

O Grupo Bitcoin Banco, por meio de suas plataformas NegocieCoins e TemBTC, ‘criaram’ um sistema que ficou conhecido como ‘arbitragem infinita’ começou 2019 sendo apontado como o principal grupo do mercado de criptomoedas do Brasil. Cláudio Oliveira, que até então era um ‘desconhecido’ entre os early adopters de Bitcoin no Brasil aparecia nos jornais como o “Rei do Bitcoin”. Em abril as exchanges do grupo figuravam nas primeiras posições do Coinmarketcap, negociando mais de 100 mil Bitcoin em menos de 24h.

No entanto em maio os problemas começaram e os clientes do GBB passaram a ter problemas para sacar valores nas plataformas do Grupo que declarou que um problema de ‘saldo duplicado’ teria sido usado por usuários para fraudar a plataforma. Com o problema começaram as promessas e os processos judiciais que chegaram até mesmo a uma ação de busca e apreensão aos sapatos de Cláudio Oliveira.

O GBB alega que tentou resolver o problema de diversas formas, com iphones, banco digital e canecas, no entanto, nenhuma das alternativas teve sucesso e os clientes permaneceram com os bitcoins bloqueados. Manifestações foram feitas, grupos criados na redes sociais e até supostas tentativas de sequestro contra familiares de Cláudio Oliveira ocorreram ao longo do ano.

Em novembro um pedido de Recuperação Judicial de todas as empresas do GBB foi aceito pelo Justiça do Paraná e em dezembro junto a este pedido o Grupo Bitcoin Banco pediu a suspensão de todas as ações, bloqueios judiciais e protestos contra o grupo. O pedido também foi aceito e ‘tudo voltou para o GBB’.

Agora, clientes da empresa que desejam receber seus valores devem entrar em contato com a administradora judicial EXM-Exame Auditores Independentes, tendo como responsável Eduardo Scarpellini, para se qualificarem como credores.

Atlas Quantum

A Atlas Quantum também afirmava ser a maior empresa de Bitcoins do Brasil. Oferecendo rentabilidade por meio de arbitragem com o “Quantum”, o CEO da empresa, Rodrigo Marques afirmava nos bastidores que sua meta era ‘superar a Binance’. Durante o ano, anunciou a pretensão de incluir novos produtos na plataforma como a stablecoin TrueUSD, novas opções de negociação, arbitragem, entre outros.

Afirmando ter 15 mil Bitcoins sob custódia a empresa possuia 4 andares em um Edifício na Alameda Santos. Contratou importantes personalidades do mundo cripto brasileiro como Solange Gueirros e Safiri Felix.

A Atlas patrocinava os principais eventos de criptomoedas do Brasil e chegou a fazer uma mega campanha publicitária com destaque em grandes emissoras como Rede Globo.

Mas em agosto, um stop order emitido pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) iniciou a crise na empresa. Uma corrida aos saques revelou a falta de liquidez da plataforma que não conseguiu atender às solicitações dos usuários. Inicialmente o prazo para saques que era de D+1, passou para D+4, depois D+7, D+30, até que a empresa assumiu que não tinha prazo para pagar ninguém.

Assim como no caso do Grupo Bitcoin Banco, processos judiciais foram abertos, bloqueios bancários foram pedidos, mas Bitcoin, até agora, ninguém recebeu. O CEO Rodrigo Marques chegou a anunciar medidas para ‘aliviar’ a crise como um processo chamado “Saque em Reais” que consistia na compra e venda de Bitcoins bloqueados com deságio e que chegou a ter grande adesão, mas foi interrompida por ‘problemas técnicos’, assim como o processo de “Recompra”, iniciado pela empresa e que ‘comprava’ Bitcoin de clientes ao preço do mercado.

Os 4 andares na Alameda Santos foram entregues, mais de 150 pessoas demitidas e mais recentemente o “Projeto Fênix” anunciado que promete ‘reerguer’ a empresa com diversas ‘iniciativas’, mas, pagar todos os Bitcoins e o investimento de seus clientes têm prazo máximo estipulado em até 7 anos.

3xBit

A 3xBit, assim como o Bitcoin Banco “chegou chegando’ no mercado. Aparentemente desconhecida a plataforma que tem Saint Clair Izidoro como a figura mais conhecida patrocinou eventos, anunciou parceria com a OriginalMy e prometeu que instalaria mais de 200 mil PoS (maquininhas de cartão) para aceitar pagamentos em criptomoedas. No entanto, os problemas ficaram públicos em setembro, quando a empresa suspendeu o saque de seus clientes alegando “questões técnicas”.

Cerca de 15 dias depois os saques, na exchange, foram retomados, para serem suspensos definitivamente pouco mais de 20 dias depois. Além disso clientes que participavam de um programa de ‘lending’ passaram a alegar que não conseguiam sacar os Bitcoins custodiados.

Mesmo assim a empresa, junto com a Eletropay, foram ao Shark Tank e conquistaram o apoio de R$ 2 milhões (que seriam usados somente na Eletropay), contudo, ‘ganhou mas não levou’ e por questões burocráticas o incentivo foi perdido.

O roteiro foi praticamente o mesmo, processos judiciais, bloqueios bancários, demissões, promessas de pagamento e ‘silêncio’. Resultado: Bitcoins continuam ‘bloqueados’.

MyAlice

O MyAlice, assim como a Atlas Quantum afirmava realizar arbitragem de Bitcoin. A plataforma de Diego Velascos teria cerca de 100 Bitcoins custodiados. Em uma trama envolvendo supostas fraudes, mentiras e até trairagem, Velascos teria vendido a plataforma totalmente insolvente. Surgiram processos judiciais, bloqueios bancários mas ninguém ainda viu ‘a cor’ dos Bitcoins, enquanto isso, o antigo proprietário agora é empresário de casa noturna.

AnubisTrade

Matheus Grijó era um participante ativo na comunidade de Bitcoin no Brasil e por diversas vezes acusou a Atlas Quantum de “pirâmide financeira” em grupos nas redes sociais. Grijó era dono da AnubisTrade, a principal concorrente da Atlas por oferecer o mesmo serviço, arbitragem de Bitcoin, mas com recursos de transparência que a Atlas nunca entregou aos usuários.

Contudo, um ‘belo dia’, 26 de setembro, já com saques atrasados, a Atlas Quantum anunciou a compra da AnubisTrade, pegando de surpresa todo o mercado e principalmente os clientes da Anubis que, confiando principalmente em Grijó, haviam investido na plataforma.

Preocupados com a crise na Atlas e descontentes com a decisão, clientes ‘correram’ para sacar os Bitcoins mas poucos tiveram suas solicitações atendidas. Novos bitcoins bloqueados. Então a história começou: processos judiciais, promessas de pagamento, bloqueio de bens, mas, assim como os clientes da Atlas, aqueles que investiram na AnubisTrade ficaram sem seus BTCs.

Unick Forex

Diferente dos casos acima, a Unick Forex sempre foi um ‘desastre anunciado’. Acusada de ser uma pirâmide financeira a empresa comandada por Leidimar Lopes prometia retornos de até 400% por meio de supostas aplicações no Mercado Forex, que é proibido no Brasil pela CVM.

A Unick já tinha sido notificada pela CVM para suspender suas atividades pelo menos duas vezes e começou a atrasar os saques em maio. Diversas alegações foram feitas, promessas, novos lançamentos, mas pagamento…. nada… Até que em outubro a Polícia Federal realizou a Operação Lamanai prendendo 13 membros da suposta pirâmide, revelando uma trama que teria movimentado até R$ 28 bilhões, ocultado bens e que teria contato até mesmo com a ‘ajuda’ de ex-integrantes da própria PF.

Resultado: Ninguém recebeu nada até agora.

Indeal

Em maio a Policia Federal também ‘acabou’ com outro suposto golpe, a Indeal que foi alvo da Operação Egypto. O caso é similar ao da Unick. Promessas de rentabilidade garantida com Bitcoin e criptomoedas que atraíram diversos investidores e, no final, ninguém consegue receber os valores aplicados. Cerca de 5 mil Bitcoins foram apreendidos com a empresa mas os clientes, até agora não receberam nada.

Zero10/ GenBit

Alvo de denúncia no Ministério Público e também de inúmeros processos a Zero10 e a GenBit são suspeitas de integrarem o mesmo grupo econômico que também oferecia altos rendimentos em Bitcoin e criptomoedas. Assim como as empresas do mesmo segmento, usava táticas de Marketing Multinível para angariar clientes para a plataforma com bonus binários e rentabilidade garantida.
Resultado: Saques travados, bitcoins bloqueados e promessas de pagamento. Mas receber, até agora ninguém.

BWA

A BWA segue o mesmo roteiro: Promessas de rentabilidade garantida, sem registro na CVM, pacotes de investimento, saques atrasados, processos judiciais, bens bloqueados, clientes sem receber. O caso porém tem um agravante, Paulo Bilíbio, apontado como dono da BWA, chegou a ser sequestrado acusado de ser o dono do Grupo Bitcoin Banco, o que Paulo nega porém registrou uma ata notarial na qual declara ter mais de R$ 160 milhões ‘presos’ no GBB.

E não para por ai

Ainda tem os casos da A2 Trader, Vik Traders, Blue Bex, NYC Technology, Miner, XBitfinex, Best Web Fast, Investimento Bitcoin, Valour Invest, Marcel Mafra Bicalho, Wish Money, Hibridus Club, Luque Luque Investimentos, Trader Group, YouXWallet, BinaryBit, LBLV, F3 Tech, Investimento Bitcoin, KingForex, InstaForex, DD Corporation, Ronaldinho 18k, STM Investimentos, F2 Trading, King Investimentos, Krypton Unite, E-Bit FX….

CPI e CVM

Além de muitos outros que levaram a CVM a bater recorde em processos de investigação sobre empresas que oferecem pacotes de investimento sem autorização da autarquia, “A expectativa é batermos o recorde de processos de investigação de ofertas irregulares. Ainda temos cerca de 500 demandas enviadas por investidores na fila para serem analisadas”, disse o superintendente de Proteção e Orientação aos Investidores da CVM, José Alexandre Vasco.

As constantes denúncias de pessoas que perderam seus recursos com empresas que afirmavam operar com Bitcoin e criptomoedas levou o Deputado Federal aureo Ribeiro (SD-RJ) a abrir um pedido que ficou conhecido como “CPI das criptomoedas” para investigar as denúncias contra empresas. Atualmente o projeto de abertura da CPI está no Congresso Nacional aguardando a posição do presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

Embora tenha ocorrido ações policiais, prisões, busca e apreensões, processos, bloqueios de bens, condenações na CVM e na justiça e até a possível abertura de uma CPI, em 2019, clientes destas empresas e de outras espalhadas pelo Brasil ainda não conseguiram receber seus investimentos.

Resta saber como será 2020.

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