14 especialistas comentam: Bancos Vs Exchanges, quem vai vender mais Bitcoin e dominar o mercado

No passado os entusiastas de Bitcoin diziam que o BTC iria matar os bancos, no entanto, agora os bancos estão vendendo Bitcoin e competindo com as exchanges de criptomoedas. Quem vai vencer essa briga?

Foi-se o tempo em que os entusiastas de criptomoedas gritavam nas conferências de Bitcoin “Fuck the Banks” e discursavam por horas sobre como as criptomoedas acabariam com os bancos e iam remodelar todo o sistema financeiro sem intermediários. 

Agora, ao invés do Bitcoin acabar com os bancos, os bancos estão vendendo Bitcoin, Ethereum e até stablecoins e com isso ‘roubando’ clientes das empresas de criptomoedas. Só no Brasil, Mercado Pago e Nubank já afirmaram ter mais de 1 milhão de clientes que compraram Bitcoin em suas respectivas plataformas.

De olho nesse mercado, o BTG lançou uma exchange de criptomoedas e a XP já prometeu fazer o mesmo. Santander e Itaú também já disseram que também querem vender Bitcoin, mas estão atrasados quando comparados com fintechs como PicPay e 99Pay que estão aproveitando a onda cripto’ e vendendo criptomoedas.

Mas com tantos bancos e fintechs ‘tradicionais’ vendendo criptomoedas, como ficam as exchanges? Porque eu vou fazer um PIX do Itaú para o Mercado Bitcoin para compar BTC se eu posso, com 1 clique, comprar BTC no próprio Itaú? Os bancos, que seriam ‘mortos’ pelo Bitcoin agora vão ‘matar’ as exchanges de Bitcoin?

Para saber o que pensam as empresas e pessoas ligadas ao mercado de criptomoedas o Cointelegraph conversou com 10 especialistas no assunto. Posições diversas mas um mesmo ‘norte’: exchanges podem comprar bancos e bancos podem comprar exchanges, ou seja, com tanta concorrência, só os mais fortes vão sobreviver, mas há mercado para todos.

Ripio

Henrique Teixeira, Global Head of Business Development da Ripio destaca que com a entrada dos players tradicionais existirá mais oportunidades de se fazer negócios com as exchanges do que especificamente na concorrência. Ele aponta que o modelo de negócios de “Crypto as a Service” necessita de liquidez e as exchanges são parte crucial para que a solução seja competitiva para o mercado brasileiro.

Os bancos estão entrando para valer no mercado cripto e vão lançar produtos e serviços com foco no investimento em ativos digitais para atender à demanda dos seus próprios clientes. Sabemos que o campo de atuação das criptomoedas é vasto e que é possível oferecer, cada vez mais, produtos e serviços que contribuam para o desenvolvimento do mercado. Por enquanto estamos todos ajudando a fomentar este novo mercado de uma forma inovadora com muita responsabilidade e educação financeira”, destacou.

Ele também destaca que as médias e as pequenas exchanges ainda levam algumas vantagens que podem se sobressair. A primeira, segundo ele, é em relação à variedade de criptomoedas que essas corretoras possuem, que dão ao investidor um poder de autonomia significativo na escolha dos ativos que deseja transacionar.

Um segundo diferencial apontado por Henrique está no valor das taxas das exchanges que geralmente são menores até mesmo que as cobradas por fundos e ETFs. Desse modo, ele não acredita que bancos vão ‘matar’ exchanges e nem o inverso. 

“Estão surgindo muitas oportunidades de parcerias e com certeza a competição também ficará mais acirrada. Por outro lado, a entrada das grandes instituições financeiras no segmento cripto trará um desenvolvimento mais rápido do mercado com nossos serviços e inovação a todos os clientes, com uma maior exposição e credibilidade a indústria. Quem irá vencer é o consumidor brasileiro com maiores opções, produtos mais inovadores e taxas mais competitivas”, destaca.

Bitso

Para Thales Freitas, Chief Executive Officer da Bitso no Brasil, o mundo das plataformas de criptomoedas está se tornando mais diversificado, o que significa que novos competidores podem surgir no mercado todos os dias e, segundo ele, esse é um processo natural e importante para a inovação do mercado.

“Porém, mais importante do que apontar quem é nosso concorrente ou não, o que eu posso te dizer hoje é que viemos ao Brasil para ficar, conquistar um espaço importante e pioneiro no mercado, e ser o elo entre o sistema financeiro tradicional e o novo sistema de finanças digitais de Cripto e DeFi, pois acreditamos que a criptoeconomia abre um mundo de possibilidade às pessoas e pode realmente revolucionar as finanças”, disse.

BlockBr

Já Cassio Krupinsk, CEO da BlockBr, disse que não há como não olhar para o passado e sorrir pois até muito pouco tempo os bancos falavam mal do universo crypto e hoje tentam surfar a onda.

“Alguns com pranchas até mesmo sem quilhas como é o caso das story tellings da Nubank, Pic Pay e Itaú e outros ainda tentando encontrar onde se constrói uma prancha ou como. Não acredito que bancos tradicionais irão concorrer diretamente com as exchanges que possuem clientes de perfil hard user investor. Mas indiretamente acredito que podem ter clientes pegos no susto, aqueles que nem sabem porque estão comprando BTC, mas como ouviram falar e agora os bancos oferecem, porque não”, destacou.

Porém ele aponta que as pequenas e médias exchanges neste cenário terão um árduo caminho e precisam trabalhar a estratégia certa para não serem ‘engolidas’ pelas inovações e concorrência do mercado.

“Estamos vivendo um mundo novo, descentralizado onde ativos digitais podem tem uma valorização e rentabilidade maior que ativos  tradicionais, e este universo de fato é globalizado e onde há muito capital para que pequenos ou médios possam se tornar gigantes em pouco tempo. Estamos vivendo algo onde o mundo precisa menos de bancos e mais transparência, menos intermediação e maior rentabilidade…. Não, os Bancos não irão dominar’, afirmou.

Coinxet

José Artur Ribeiro, CEO da Coinxet, também não acredita na concorrência pois o bancos não são exchanges mas oferecem serviços de exchanges dentro de suas plataformas. Desta forma ele acredita que os bancos podem atender clientes de varejo enquanto as exchanges atendem diretamente o mercado cripto e os grandes investidores.

“Isso torna as criptomoedas muito mais abrangentes. Vejo isso tudo de uma forma muito positiva. Tem lugar para todo mundo. O mercado é muito novo. Pouco mais de 1,5% da população apenas compra criptomoedas, então tem muita coisa ainda para acontecer. Todos que souberem trabalhar bem e de maneira séria vão se dar bem neste mercado. Os bancos não vão dominar o mercado, como não dominam o mercado de seguros, de investimento e outros”, revelou.

Foxbit

Ricardo Dantas, CO-CEO da Foxbit, destacou que o mundo cripto já nasceu de uma forma “open banking”. Portanto, todos que possuem uma carteira podem oferecer cripto para seus clientes. Essa é uma concorrência natural do ecossistema de cripto.

“Os bancos serão sempre parte desse mercado pois ainda viveremos muito tempo na relação FIAT/ Crypto.O universo cripto é muito grande e ainda está em desenvolvimento… acho difícil dizer que existirá um domínio. As exchanges pequenas e médias vão continuar existindo uma vez que consigam oferecer criptos e produtos que não serão oferecidos em grandes plataformas. A necessidade de se reinventar vai ser o diferencial”, aponta.

Rispar

Já Rafael Izidoro, CEO e fundador da Rispar, destacou que os bancos entrando no mercado de criptoativos vai aumentar a concorrência entre as empresas e isso também contribui para uma maior adoção dos criptoativos.

“Serão mais pessoas em contato com a criptoeconomia. A facilidade da compra integrada em uma conta bancária ou plataforma de investimentos possibilitará o contato de novos investidores com o universo cripto. Por consequência, fortalece o ecossistema. Os players cripto continuarão a jornada de inovação trazendo novas oportunidades para os usuários. O mercado financeiro é concorrido e a entrada de grandes instituições nesse meio pode ser um desafio para as pequenas e médias exchanges. O segredo talvez seja a diversificação e diferenciação que a sua empresa oferece”, disse.

Sobre os bancos dominar o mercado de criptomoedas ele destacou que, para isso, eles terão que investir neste “novo mercado” se eles não quiserem ficar para trás, assim como acontece bastante no mercado tradicional: os “menores” que se destacaram serão adquiridos pelos “bancões”.

“Desta forma acredito em uma consolidação, mas não no curto prazo. A brincadeira só está começando. Também precisamos lembrar que a premissa da criptoeconomia está justamente na descentralização que ela traz para o mercado financeiro. Pensando nisso, a tendência não é de dominância por nenhuma instituição, mas da consolidação do mercado cripto em larga escala”, afirmou.

Transfero

Thiago Cesar, CEO e cofundador da Transfero, afirma que o mercado financeiro/tradicional e o mundo cripto vão convergir cada vez mais para virar a mesma coisa.  Ele aponta que os bancos têm ofertas restritas de criptomoedas e apenas funções básicas (comprar e vender). Já as exchanges tem diversidade de criptos e mais ‘funções’ para as criptomoedas, como staking.

Porém, embora com ‘produtos’ diferentes, os bancos tem capacidade de engolir as pequenas empresas do setor que precisam inovar para continuarem relevantes. Já as grandes exchanges e empresas de criptomoedas, ao invés de serem ‘mortas’ pelos bancos, elas que podem ‘matar’ os bancos e virar as instituições financeiras do futuro.

“Eu acho mais fácil as exchanges internacionais se tornarem os próximos bancos do futuro do que os bancos tradicionais dominarem esse cenário. Nomes como FTX e Coinbase, por exemplo, têm tudo para ser o que foram J.P. Morgan e Goldman Sachs no passado. Pela aptidão tecnológica, pela mentalidade, pela forma como essas exchanges internacionais foram construídas, eu acredito que elas estão mais bem posicionadas para serem os grandes players financeiros do futuro e não o contrário”, disse.

TC Cripto

Paulo Boghosian, co-head do TC Cripto, destacou que no caso de 99pay e PicPay ele não vê uma concorrência muito significativa com as exchanges. Já no caso dos bancos, há uma concorrência um pouco maior, ou seja, grandes bancos e corretoras do mercado tradicional vão passar a dar aos seus clientes uma maneira de se expor ao mercado de criptoativos.

“Esses serviços atingem principalmente o público do mercado financeiro tradicional, acostumado com investimento em outras classes de ativos. Sob essa ótica, concorrem também com os ETFs que dão exposição passiva aos criptoativos pela B3. Mas, pelo menos no primeiro momento, não há uma intersecção grande com o público heavy user de cripto”

Portanto, segundo ele, o público nativo do mercado cripto deverá continuar a se expor por meio de exchanges e com uma boa parte fazendo custódia em carteiras pessoais. Além disso, ele aponta que o mercado de criptomoedas tem muito potencial de crescimento e há espaço para todos.

“Não é nada trivial montar corretoras de criptoativos, e os líderes do mercado já possuem interfaces avançadas e bases de clientes sólidas, tornando-se “top of mind” nesse segmento. Por isso, não vejo os bancos dominando esse mercado ao menos no curto e médio prazo. O que acho mais factível é ter um aumento na atividade de M&A nesse setor. Não muito tempo atrás, vimos a corretora americana FTX flertando com a Robinhood, e acredito que esse tipo de movimento se tornará mais comum daqui para a frente”, afirmou.

CriptoFácil

Paulo Aragão, co-fundador do CriptoFácil também não acredita em concorrência pois o foco dos bancos é o usuário que ainda não sabe muito sobre criptomoedas. “é o cara que só ouviu falar de Bitcoin” e, segundo ele, os bancos podem inclusive trazer mais clientes para as exchanges na medida em que as pessoas ganhem exposição ao mercado pelos bancos e queiram ‘aumentar’ seus investimentos neste mercado.

“Porém, sem sombra de dúvida os bancos podem um dia dominar esse mercado. De novo tudo depende do modelo de negócio se os bancos continuarem impedindo sacar as criptomoedas eles nunca serão competidores sérios para o mercado. Tudo vai depender do modelo de negócio que os bancos desenvolverem”, afirma.

Uniera

Caio Villa, CIO da Uniera, acredita que o movimento dos bancos vendendo criptomoedas é positivo pois durante muito tempo eles se posicionaram contrário ao mercado de criptoativos.

“Eu sempre falei que os bancos entraram no mercado de criptomoedas. Isso é um mundo novo cheio de oportunidades e compra e venda de criptomoedas é um novo serviço para os bancos oferecerem. Eu acho que eles vão concorrer com as exchanges em um primeiro momento com uma certa vantagem que são o número de clientes”, aponta.

Villa porém destaca que os bancos devem atender o público que está começando em criptomoedas e que aqueles que buscam uma exposição maior ou serviços mais avançados ligados ao mercado devem continuar nas exchanges e que há mercado para todos atuarem.

FMI Minecraft Manager

John Blount, CEO da FMI Minecraft Manager acredita que os bancos vão sim concorrer com as exchanges de criptomoedas mas que a burocracia e as altas taxas dos bancos vão deixar as exchanges um passo à frente, tal qual os bancos digitais que estão ‘obrigando’ os bancos à inovar.

“Os bancos com certeza têm mais clientes do que os exchanges, mas novamente, eles não são especializados neste assunto de bitcoin e as exchanges sempre terão o preço melhor do que o banco, mas com certeza eles podem incomodar as exchanges do país. Eles já têm os clientes captados. É simples apertar um botão no Nubank ou qualquer outro aplicativo que o cliente esteja acostumado em usar e comprar Bitcoin. Então simplesmente pela simplificação do uso serão concorrentes”, aponta.

CleanSpark

Bernardo Schucman, vice-presidente sênior da divisão de moedas digitais da CleanSpark aponta que os bancos tradicionais vão implementar uma camada de segurança e compliance muito maior que as corretoras atuais e isso traz confiança para investidores.

“Com a entrada de bancos e instituições financeiras tradicionais, as pequenas e médias exchanges terão dificuldades de manter os mesmos volumes transacionados hoje e isso pode impactar negativamente em suas operações a médio e longo prazo. A tendência a longo prazo é que o maior volume de transações vão migrar para essas instituições tradicionais que aos poucos estão demonstrando interesse no segmento de cripto ativos”, disse.

Ogawa, Lazzerotti e Baraldi Advogados

Já Thiago Barbosa Wanderley, mestre em direito tributário e sócio da área tributária do Ogawa, Lazzerotti e Baraldi Advogados, aponta que as exchanges têm pavimentado e educado os brasileiros há quase uma década, com um aumento significativo de investidores nos últimos 2 anos. 

Agora, segundo ele, com um mercado relativamente mais maduro, as exchanges precisaram competir com grandes bancos como o BTG e o Itaú. Por um lado, os bancos possuem capital massivo para utilizar em campanhas e atrair investidores (o que pode esmagar as pequenas e médias exchanges) mas, por outro, será preciso avaliar se eles estarão dispostos a reduzir suas taxas de intermediação para se mostrarem efetivamente competitivos.

“Caso sobrevenha a esperada regulação dos criptoativos, mediante aprovação do PL 4401/2021, os bancos ganharão uma vantagem adicional, uma vez que já possuem uma grande equipe para lidar com burocracias regulatórias, enquanto as exchanges terão que aumentar seus custos para lidar com a nova realidade.  Em qualquer cenário, tomando por premissa que os entusiastas de criptoativos são em sua maioria jovens, as empresas que melhor ajustarem o apetite pelas taxas de intermediação e invistam na entrega detalhada de informações no tocante a declaração de suas operações (poupando trabalho aos investidores) terão grandes chances de dominar o mercado”, disse.

Carvalho Borges Araújo Advogados

Rodrigo Caldas de Carvalho Borges, advogado especialista em Blockchain, sócio do Carvalho Borges Araújo Advogados, destaca que bancos e exchanges vão concorrer principalmente em relação à oferta dos criptoativos mais tradicionais, tal como o Bitcoin.

“A entrada desses players, com capital, credibilidade e relevância nos segmentos em que atuam, irá mexer no mercado das exchanges, ainda mais se possibilitarem aos investidores concentrarem todos os seus ativos em um mesmo ambiente, aumentando a oferta de ativos e melhorando a experiência do investidor’, 

Ele aponta que os bancos podem ter uma grande concentração deste mercado, mas as exchanges – como conhecemos hoje – podem dominar o mercado do ativos digitais alternativos e se tornarem grandes tokenizadoras de ativos, provendo soluções para distribuição junto a esses novo players, diante da experiência acumulada ao longo desses anos de operação.

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