‘Mundo precisa de uma moeda global em 2021, mas BTC não tem sido usado dessa forma’, diz economista Helio Beltrão

Crescimento do Bitcoin tem atraído cada vez mais investidores, mas seu uso como forma de pagamento ainda está em xeque.

O economista Helio Beltrão escreveu um artigo para a Folha de S. Paulo sobre o crescimento do Bitcoin, dizendo que o BTC é a “internet do dinheiro”, que o mundo precisará de uma moeda global em 2021, mas que a maior criptomoeda tem sido usada como reserva de valor.

Segundo Beltrão, 2020 foi um ano em que “tudo pareceu dar errado”, mas o mercado de ações brasileiro “não deu bola para mortes desemprego e fechamento de empresas” e acabou em alta de 3%.

Ele celebrou o crescimento de investidores na bolsa de valores e ressaltou que outros ativos tiveram “desempenho superior”, como o dólar (+29%) e o ouro (56%).

O economista, porém, diz que o astro do último ano foi o Bitcoin, com valorização de 400% no ano e atraindo “pela primeira vez uma onda de investidores insititucionais de grande porte”, como Paul Tudor Jones e a Microstrategy.

Para Helio Beltrão, o Bitcoin é a “internet do dinheiro”, por ser descentralizado e sem intermediários. Por outro lado, o mundo no novo ano vai precisar justamente de um dinheiro global em rede, ele explica:

“O mundo em 2021 carece de um dinheiro global via internet. Hoje, há um retalho de sistemas financeiros fragmentados e centralizados, que dificultam a vida do usuário, por exemplo, nas transações internacionais. Além disso, há quase 2 bilhões de adultos, em particular em países mais pobres, que não conseguem fazer transferências de recursos que requerem conta em banco.”

A digitalização também acelerou uma série de iniciativas de pagamento digital, como ampliação do Alipay e do WeChat na China, da PayTM na Índia, da stablecoin Libra – hoje Diem – do Facebook e do sistema Pix, no Brasil. Apesar disso, o Bitcoin não tem sido usado como forma de pagamentos de forma ampla ainda:

“O Bitcoin, no entanto, não tem sido usualmente utilizado como meio de pagamento, que é a proposta dos demais. Tem, ao contrário, gradualmente avançado como reserva de valor, apesar de sua volatilidade alta. Mais de 60% de todos os bitcoins não saíram da carteira do dono nos últimos 12 meses. Ou seja, seu uso primário tem sido reserva de poupança de longo prazo.”

A emissão desenfreada de dinheiro desde a crise global de 2008 tem tornado, segundo ele, cada vez mais urgente a busca por ativos de proteção cambial, como tradicionalmente foi o ouro, e agora começa a tomar forma seu equivalente digital, o Bitcoin. Por isso, a adoção do Bitcoin como “porto-seguro” na crise que parece longe de ter um fim, deve ser cada vez maior:

“O Bitcoin já possui US$ 580 bilhões de valor de mercado total (menos de 1/10 do mercado de ouro). Quanto mais o valor de mercado cresce, mais atrai os grandes investidores, o que, por sua vez, tende a aumentar ainda mais esse valor. Esse é o momento Fomo, “fear of missing out”. Quando o próximo está lucrando, é difícil conter o ímpeto de embarcar. O risco de momentos como o atual é que todo exagero na alta enseja uma correção significativa. A ver.”

Como noticiou o Cointelegraph Brasil, o Fundo Monetário Internacional (FMI) sugeriu no fim de 2020 que a criação de moedas digitais de bancos centrais, as CBDCs, podem rivalizar com o domínio do Bitcoin no criptomercado.

Ainda segundo o estudo do FMI, uma moeda digital global poderia substituir o dólar como moeda-padrão para transações transfronteiriças. A moeda global poderia ser lastreada em uma cesta de CBDCs, podendo aumentar o valor das moedas fiduciárias de reserva apoiadas pela criptomoeda global.

A China é o país com o projeto mais avançado de CBDC, com testes do yuan digital em diversas províncias do país. Porém, o estudo do FMI não descarta que iniciativas privadas possam dominar as transações globais e superar o dólar, como o projeto Diem do Facebook.

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