Bitcoin desafia ‘maldição’ de setembro em busca de nova alta histórica

Em apenas três dos seus doze anos de história o Bitcoin não registrou variações negativas de preço no mês de setembro.

Em doze anos de história, o Bitcoin (BTC) fechou setembro com uma vela verde em apenas três ocasiões: 2012, 2015 e 2016, sendo que nesses dois últimos anos as valorizações foram bastante modestas para os padrões do BTC: aproximadamente 3,4 % e 6%, respectivamente.

Até agora, neste mês, o desempenho da maior criptomoeda do mercado registra uma variação negativa de mais de 7%, a despeito de um repique de 3,7% nas últimas 24 horas em resposta às liquidações que tiveram início no domingo, se aprofundaram na segunda-feira e avançaram até o fechamento de terça-feira.

No momento em que este artigo está sendo escrito, o par BTC/USD está cotado a US$ 43.700 (R$ 233.400), de acordo com dados do CoinMarketCap.

Gráfico diário BTC/USD em setembro de 2021. Fonte: Trading View

No entanto, quando este mês de setembro começou, os analistas nutriam expectativas de que a tradicional tendência de baixa do último mês do verão no hemisfério norte, dessa vez, poderia ser quebrada, tal como acontecera anteriormente em janeiro e março, os outros dois meses historicamente mais favoráveis aos ursos. Em 2021, ambos foram extremamente positivos para os touros, com altas de 14,5% e 36,4%, que, na época, marcaram novos recordes históricos de preço para o BTC.

Nos primeiros dias de setembro de 2021, o mercado vivia a expectativa de que o Bitcoin finalmente rompesse a resistência de US$ 50.000, a qual fora brevemente testada – e rejeitada – em 23 de agosto. A consolidação do movimento de recuperação iniciado no final de julho poderia abrir caminho para a conquista de uma nova alta histórica antes do final do ano.

Em 4 de setembro, o gerente de inteligência da exchange Kraken, Pete Humiston, disse em depoimento ao Portal Cripto:

“Setembro é historicamente o mês de pior desempenho para o Bitcoin. Dito isso, ele tem pairado em torno de US$ 50.000 nas últimas três semanas. Se o Bitcoin romper acima desse marco psicologicamente significativo, ele poderá renovar o interesse do investidor e estimular o impulso necessário para voltar à faixa de US$ 60.000.”

Finalmente, em 5 de setembro, o Bitcoin conseguiu o seu primeiro fechamento acima de US$ 50.000 desde o crash de maio. No dia seguinte, o preço do BTC avançou um pouco mais e chegou a US$ 52.780. Tudo parecia estar se encaminhando conforme o planejado pelos touros. 

Até que veio o tão esperado 7 de setembro, dia em que o Bitcoin tornou-se moeda oficial de El Salvador, algo inimaginável há apenas um ano atrás. Porém, a data que será lembrada como um marco na história do Bitcoin acabou registrando a pior queda intradiária desde o fatídico 19 de maio, quando o BTC testou o suporte de US$ 30.000 pela primeira vez depois de atingir o preço recorde de US$ 64.800.

Considerando que a dinâmica de preço do Bitcoin estrutura-se em ciclos, é razoável esperar que este mês de setembro seja diferente do que aqueles dos últimos quatro anos? Vejamos.

2017

No terceiro trimestre de 2017, inquestionavelmente o Bitcoin encontrava-se em meio a um ciclo de alta. Depois de iniciar o ano cotado um pouco acima de US$ 1.000, o BTC abriu o mês de setembro valendo US$ 4.689 – uma valorização de 348%.

Os únicos meses de variação negativa haviam sido justamente janeiro e março. Mesmo assim, ao final do mês, o Bitcoin recuara aproximadamente 8%.

A correção se configurou como a calmaria que antecede a tempestade. Entre outubro e dezembro, o BTC foi de US$ 4.378 a US$ 19.798. A alta adicional de 350% após o final de setembro fez com que a euforia do mercado cripto rompesse a bolha definitivamente, atraindo uma atenção mais ampla sobre o ativo mais rentável da década.

2018

Quem olhasse para o mercado em setembro de 2018 encontraria o Bitcoin com o preço 60% acima do que estava há um ano atrás, valendo aproximadamente US$ 7.000. Parecia pouco para um ativo que se aproximara de US$ 20.000, mas o fundo do poço ainda não havia chegado.

Estava-se ainda nos momentos iniciais de um longo inverno durante o qual o descrédito e a desconfiança em relação ao real valor do BTC foi o sentimento predominante entre todos aqueles que não faziam parte da comunidade cripto. Em um mercado letárgico, setembro registrou perdas de 6%.

Depois, seguiram-se mais quatro meses vermelhos que levaram o Bitcoin até US$ 3.156, seu valor mais baixo desde então.

2019

Após altas constantes entre fevereiro e junho de 2019, o Bitcoin finalmente voltou a fechar um mês acima de US$ 10.000. No entanto, um período de correção veio logo em seguida e se estendeu por todo o terceiro trimestre. Setembro acumulou as maiores perdas e o par BTC/USD encerrou o período cotado a US$ 8.289, com uma desvalorização de 13,5%.

Após uma depressão profunda em 2018 e o ensaio de um novo rali no primeiro semestre de 2019, o mercado entrava em um período de acumulação que iria se estender até… o fim de setembro do ano seguinte.

2020

Janeiro começou sob a sombra da COVID-19, e embora não fosse possível prever a dimensão da tragédia devido à falta de informações concretas nos primeiros estágios da pandemia, logo ficou claro que 2020 seria um ano atípico.

Nada ainda mudara de fato no mercado cripto quando o evento que ficou conhecido como “Corona crash”, em 12 de março, jogou o Bitcoin de volta abaixo de US$ 4.000. Tratou-se de um golpe momentâneo, em grande parte impulsionado pelas liquidações de posições no mercado de contratos futuros, muito comuns no mercado de criptomoedas sempre que há volatilidade extrema.

Em abril, o mercado já voltara ao ponto em que se encontrava no começo do mês anterior e as expectativas pelo halving, previsto para maio, espalhavam otimismo em toda a comunidade cripto, mas não ainda fora dela.

Antes, porém, havia setembro. No dia 1º, o Bitcoin era negociado a US$ 11.649, chegou a atingir US$ 12.050, mas, no dia 30, valia US$ 10.776. Foi a última vez que o Bitcoin fechou um mês em torno de US$ 10.000 e, assim como em 2017, a correção precedeu uma valorização extraordinária nos meses seguintes.

Com uma diferença: a corrida dos touros teve muito mais fôlego do que a anterior e o BTC registrou altas históricas subsequentes em todos os meses entre novembro de 2020 e maio de 2021. No auge, as criptomoedas ultrapassaram os US$ 2 trilhões em valor total de capitalização de mercado e voltaram a estar no centro das atenções da grande mídia, dos políticos e de um público mais amplo. Para o bem e para o mal.

2021

O resto da história ainda é recente e está bem vivo. Elon Musk tweetou que a Tesla deixaria de aceitar Bitcoin como meio de pagamento em função do gasto enrgético demandado pela mineração e o impacto negativo sobre o preço foi imediato. Na sequência, a China desencadeou um ataque aos mineradores, banindo-os do país, e aprofundou a queda. Os debates sobre a regulação do mercado recrudesceram nos EUA, mas a questão mais debatida era – e talvez ainda seja – esta: o ciclo de alta está encerrado ou não?

É impossível dissociar tal questão do ponto em que o Bitcoin se encontra no tempo. O famigerado mês de setembro mais uma vez ameaça frustrar as expectativas de manutenção da tendência de alta.

De acordo com Hunain Nasseer, analista sênior da exchange OKEx, a disputa entre touros e ursos encontra-se em um momento crítico, pois o futuro do Bitcoin vai ser decidido em função da direção que o preço tomar entre o suporte de US$ 40.000 e a resistência de US$ 50.000, conforme afirmou em depoimento ao Portal Cripto:

“Do jeito que as coisas estão hoje, a luta do BTC abaixo de US$ 50.000 é a grande luta que os touros precisam vencer antes de chegarmos aos US $ 60.000. O movimento de US$ 50.000 para US$ 60.000 provavelmente será muito mais rápido do que o movimento atual entre US $ 40.000 e US $ 50.000.”

A esta altura, a julgar pela ação de preço recente, os ursos estão em vantagem, tendo quebrado brevemente o suporte de US$ 40.000 na segunda-feira. Os touros reagiram e ultrapassaram um nível apontado como crítico por Plan B, o criador do modelo stock-to-flow.

Em uma postagem no Twitter em junho deste ano, Plan B destacou que o Bitcoin precisa fechar setembro acima de US$ 43.000 para chegar aos US$ 100.000 até o final de dezembro. Ou seja, um fechamento negativo em setembro não será necessariamente fatal para os touros desde que respeitado esse limite.

Nasseer concorda, especialmente porque os próximos dois meses, ao contrário do atual, são historicamente positivos para valorização do BTC:

“Dado o sentimento atual e os fundamentos de longo prazo, não está fora de questão que o BTC atinja US$ 100.000 em dezembro, especialmente porque outubro e novembro têm sido historicamente bons meses para o Bitcoin. Eles poderiam facilmente configurar o BTC para atingir US $ 100.000 em meados de dezembro antes de qualquer correção.”

Altcoins podem ser um obstáculo

Passado o mês de setembro, o Bitcoin poderá encontrar um obstáculo mais difícil de ser vencido em sua jornada rumo a uma nova alta histórica: o crescimento das altcoins. Embora tenha se mantido estável, um pouco acima dos 40%, a dominância do Bitcoin pode ser pressionada pela valorização de criptomoedas como Solana (SOL), Avalanche (AVAX), Polkadot (DOT), Terra (LUNA), Cosmos (ATOM) e até mesmo do próprio Ethereum (ETH), acredita o CEO da exchange KuCoin, Johnny Lyu:

“É importante entender como o ETH e outras altcoins são capazes de competir com o BTC pelo dinheiro de novos investidores e como aqueles que estão no mercado há mais tempo podem se comportar. A adoção em massa das criptomoedas não pode ser alcançada sem a prosperidade das altcoins. Muitos participantes do mercado acreditam que, ao nível de preço atual, é o valor das altcoins que está mais sujeito à multiplicação.”

Para se valorizar mais de 100% em relação ao seu valor atual e atingir os US$ 100.000, ou mesmo crescer “apenas” 33% para desafiar o recorde histórico em vigor, o Bitcoin necessita que uma grande quantidade de capital seja injetada no mercado cripto. Analistas concordam que o investimento institucional será imprescindível para atingir tais alvos

Assim, o aumento do interesse dessa classe de investidores por protocolos alternativos torna a competição entre o Bitcoin e as altcoins ainda mais decisiva para determinar a possibilidade de uma nova alta histórica do BTC depois que setembro passar.

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