‘Qual é a diferença entre Bitcoins e diamantes de sangue?’, questiona crítico do Bitcoin

Advogado português João Ascensio acredita que o Bitcoin cria uma “sociedade paralela” que facilita a existência de crimes financeiros.

O advogado português João Ascenso escreveu um artigo para o jornal lusitano O Observador bastante crítico ao Bitcoin (BTC), atacando duramente a criptomoeda e equiparando-a aos chamados “diamantes de sangue”, que são extraídos na África às custas do sangue da população local.

Ascenso diz no artigo “Até Quando Vamos Permitir a Bitcoin?” que os “ganhos fáceis (do Bitcoin) com que somos seduzidos estão envenenados pelo facto desta ser uma critpomoeda altamente utilizada para pagamentos criminosos”.

Segundo ele, os grandes problemas do Bitcoin estão exatamente em suas maiores virtudes: um sistema de pagamentos anônimo e descentralizado, à prova de pressões políticas e censura. Ele escreve:

“Em particular, a questão do anonimato permite que a Bitcoin seja um instrumento privilegiado para transações ilegais e criminosas, das quais destaco o financiamento do terrorismo e os pagamentos de serviços transacionados na Dark Web, que, como se sabe, é onde operam as redes de pedofilia, tráfico de pessoas, tudo o que possam e tudo o que não conseguem imaginar.”

Ele lembra também que o Bitcoin não é afetado por políticas monetárias, taxas de juros ou inflação, mas não acredita que isso seja uma qualidade da criptomoeda:

“Diferentemente, a valorização ou desvalorização da Bitcoin está muito mais relacionada com o próprio funcionamento da moeda (o volume de mineração da Bitcoin, custos com mineração, etc.) e com a maravilhosa lei da procura, que nos diz que quando a procura de Bitcoin aumenta, o seu preço também aumenta – especialmente tendo em conta que a oferta não parece conseguir afetar o mecanismo de preços. Assim, embora não seja possível saber ao certo, é fácil de intuir que, tal como a Bitcoin valorizou significativamente com o investimento de 1,5 mil milhões feito pela Tesla, também terá subido e continuará a subir quando terroristas, pedófilos e outros criminosos procuram a Bitcoin para adquirirem os bens e serviços que tanto desejam — especialmente, se tivermos em conta que a Bitcoin ainda não serve como meio de pagamento para quase nada. 

O jurista português acredita que o Bitcoin cria uma “sociedade paralela” em que não há prestação de contas a autoridades e dificulta o combate à lavagem de dinheiro e financiamento terrorista, além de permitir fraudes e evasão fiscal. Ele explica:

“O problema é exatamente criarem-se estes níveis de report e compliance para uns, enquanto se tolera a existência de criptomoedas que criam um mundo paralelo em que nada disto se aplica. Por um lado, se eu fizer uma transferência de 15 mil euros através do sistema bancário tenho de a justificar e fica registada; mas se eu fizer uma transferência de um milhão em Bitcoins, posso manter o anonimato e não preciso de justificar a ninguém a razão do pagamento: seja corrupção, pedofilia, armas, homicídios, ou carros da Tesla.”

Ao final, ele esclarece “não ser contra as criptomoedas” e reconhece que elas “podem ter um papel importante nos mercados financeiros do futuro, especialmente se emitidas e controladas pelos bancos centrais como qualquer meio generalizado de pagamento”. E conclui:

“Não podemos aceitar que exista um meio generalizado de pagamento fora do Estado, que ninguém controla, e, acima de tudo, que se permita a coexistência destes dois mundos: um, preocupado em combater o financiamento de atividades ilegais, e um outro, em que se facilita o financiamento destas atividades, utilizando um meio de pagamento cujo valor aumenta quando aumenta a procura por parte de criminosos. E se acho que o investimento em Bitcoin por parte de indivíduos deveria ser proibido, o que dizer da compra desta moeda por parte de uma empresa cotada em bolsa, como a Tesla, que ainda por cima está a considerar aceitá-la como meio generalizado de pagamento. A pergunta que se coloca é: até quando iremos permitir que o Bitcoin exista?”

Apesar das críticas do articulista, não custa lembrar que a maior parte dos fundos movimentados pelo crime organizado no mundo são predominantemente em dinheiro e não em criptomoedas, e que autoridades como o FBI e até a ONU se mobilizam para evitar financiamento terrorista usando moedas em blockchain.

Nesta semana outro crítico do Bitcoin, o comentarista econômico Samy Dana, foi alvo da comunidade cripto durante a atual alta do BTC. Dana havia negociado uma aposta com uma conta no Twitter de que o Bitcoin não passaria de US$ 50.000 em 2021, mas depois desistiu alegando potenciais danos à sua imagem.

LEIA MAIS

Você pode gostar...