‘Web3 não é o futuro da internet’, diz criador do protocolo World Wide Web

Futuro da internet não passa pela tecnologia blockchain e Web3 não corresponde à terceira geração da internet, afirmou Tim Berners-Lee em participação no Web Summit 2022.

As características técnicas das redes blockchain tornam extremamente difícil que elas possam fornecer a infraestrutura fundamental da terceira geração da internet, afirmou Tim Berners-Lee em sua participação no Web Summit 2022, evento que foi realizado em Lisboa na semana passada.

A afirmação poderia ser enquadrada na categoria dos cripto-céticos se Berners-Lee não fosse o criador do protocolo World Wide Web, a infraestrutura que viabilizou a popularização da rede mundial de computadores tal qual a conhecemos hoje. Portanto, é preciso prestar atenção às suas palavras.

“Os armazenamentos de dados pessoais precisam ser rápidos, baratos e privados, mas na blockchain eles são muito lentos, caros e públicos”, argumentou o pesquisador britânico antes de completar que a associação da próxima etapa da internet ao que se convencionou chamar de Web3 – sistemas descentralizados baseados em tecnologia blockchain incentivados pelos princípios da criptoeconomia – é, no mínimo, inadequada.

Berners-Lee não tira os méritos da tecnologia para fins específicos, mas disse não acreditar que ela venha a se tornar o padrão dominante da próxima geração da internet e lamenta que o termo Web3 tenha se tornado popularmente associado a tecnologias descentralizadas como as criptomoedas, o metaverso e os tokens não fungíveis (NFTs):

“É uma pena que o termo Web3 esteja sendo usado pelo pessoal da Ethereum para designar as coisas que eles estão fazendo na blockchain. A Web3 não é a web.”

Evolução da rede mundial de computadores

A primeira geração da internet tinha como base o compartilhamento de dados e o consumo de conteúdo de forma passiva. A Web 2.0 transferiu a produção de conteúdo aos próprios usuários da rede através de plataformas de mídias sociais e de veiculação de conteúdo como o Youtube em um modelo de negócios baseado na apropriação dos dados dos usuários por grandes corporações para fins publicitários e na remuneração deficiente e desigual dos criadores.

Por sua vez, a Web3 envolve uma nova alteração na forma como a internet é utilizada, com foco na proteção dos dados privados dos indivíduos e em novas formas de experiências dos usuários e de monetização dos conteúdos produzidos e disponibilizados on-line.

“É importante esclarecer para discutir os impactos das novas tecnologias. Você tem que entender o que os termos que estamos discutindo realmente significam, além dos chavões”, afirmou o pesquisador.

O futuro da internet segundo o seu criador

Berners-Lee tem o seu próprio projeto para a criação de uma internet descentralizada que não padeça das limitações técnicas impostas pela tecnologia blockchain. Intitulado Solid, o projeto vem sendo desenvolvido desde 2016 pela Inrupt, uma startup fundada pelo próprio pesquisador. 

Uma das espinhas dorsais do projeto de Berners-Lee prevê a adoção de um sistema de cadastro único para uso da rede, vinculado diretamente aos usuários para permitir que eles acessem os diferentes serviços disponíveis on-line através de um único sistema de identificação. Até agora, o projeto já obteve US$ 46,4 milhões em financiamento.

Elon Musk e Jack Dorsey também são críticos da Web3

Apesar das críticas de Berners Lee à tecnologia subjacente ao modelo de negócios da Web3 baseado em criptomoedas e blockchain, mesmo grandes personalidades do setor de tecnologia abertamente simpáticos aos ativos digitais, como o fundador e ex-CEO do Twitter, Jack Dorsey, e o atual CEO da empresa, Elon Musk, também já manifestaram ter ressalvas ao modelo.

O debate sobre a Web3 e o quanto ela é de fato descentralizada e diferente da Web 2.0 entre as duas personalidades teve início no final de 2021 com uma postagem de Musk na qual o bilionário sugere que, até o momento, a Web3 mais parece uma jogada de marketing do que qualquer outra coisa.

Não estou sugerindo que a web3 seja real – parece mais chavão de marketing do que a realidade agora – apenas imaginando como será o futuro em 10, 20 ou 30 anos. 2051 soa loucamente futurista!

— Elon Musk (@elonmusk)

Horas depois, Musk novamente ironizou aquela que é considerada a nova era da internet pelos entusiastas das criptomoedas, questionando: “alguém viu a Web3? Não consigo encontrá-la.” Foi então que Dorsey encontrou a deixa para acrescentar mais uma camada de ironia à discussão com uma resposta que fazia uma menção velada ao fundo de capital de risco a16z, reconhecido por sua onipresença no espaço.

Está em algum lugar entre o a e o z

— jack (@jack)

A propósito, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, o a16z está procurando oportunidades de investimento no Brasil e na América Latina, potencialmente contribuindo para a expansão do ecossistema Web3 na região.

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