wBTC perde paridade com Bitcoin e desperta novos temores de contágio da FTX

O wBTC chegou a ser negociado com um desconto de 2% em relação ao preço do BTC na sexta-feira, 25, mas recuperou-se parcialmente após alguns esclarecimentos e agora reduziu a diferença para 0,6%.

Versão sintética do Bitcoin (BTC) no formato ERC-20 utilizada em aplicações de finanças descentralizadas (DeFi) na rede Ethereum (ETH), o wBTC vem sendo negociado com um pequeno desconto em relação ao preço do BTC no mercado à vista em um novo acontecimento que pode estar associado à falência da FTX.

A perda da paridade teve início em 8 de novembro, já quando a FTX dava claros sinais de que estava enfrentando os problemas de liquidez que acabaram resultando no pedido de recuperação judicial encaminhado ao Tribunal de Falências dos EUA para o Distrito de Delaware três dias depois.

Desde então, o desconto foi aumentando gradualmente até atingir o ápice na sexta-feira, 25, quando chegou a ser negociado com aproximadamente 2% de desconto, na proporção de 0,9827 wBTC para 1 BTC, de acordo com dados do CoinMarketCap.

Gráfico de 30 dias wBTC/BTC. Fonte: CoinMarketCap

Uma postagem publicada no mesmo dia no Twitter causou alarde na comunidade cripto, chamando atenção para o fato de que o maior emissor de wBTC do mercado é nada mais nada menos que a Alameda Research, o fundo de hedge irmão da FTX cujo vazamento do balanço patrimonial em 2 de novembro desencadeou a crise que resultou no colapso de ambas as empresas.

Saia do #WBTC AGORA!!!

Acontece que metade de todo o #WBTC em circulação foi cunhado por ninguém menos que … espere por isso:

Alameda Research

Eles cunharam mais de 100k WBTC

Isso explica porque a perda da paridade do #WBTC vs #BTC começou quando a #FTX implodiu!

Grande bandeira vermelha abaixo (foto)!

— Duo Nine | discord.gg/ycc (@DU09BTC)

A oportunidade de arbitrar a variação entre o preço do wBTC e do BTC não parece ter atraído os formadores de mercado e por consequência, embora tenha se recuperado da mínima da última sexta-feira, a versão sintética do BTC despertou novos temores de contágio da FTX sobre um mercado já bastante abalado pelos últimos acontecimentos negativos.

Como se não bastasse a associação da Alameda com o wBTC, outros dois entre os 4 maiores emissores do Bitcoin sintético são players que enfrentaram problemas no atual inverno cripto.

De acordo com a relação de emissores de wBTC postada no Twitter, a CoinList vem logo depois da Alameda, com 40.408 wBTC, e o fundo de hedge falido Three Arrows Capital (3AC) é o quarto maior, com 12.449 wBTC.

A primeira bloqueou temporariamente os saques dos clientes na semana passada, alegando problemas técnicos e ao mesmo tempo negando estar passando por qualquer tipo de problema de liquidez.

Já o 3AC foi uma das principais vítimas do colapso do ecossistema Terra (LUNA) em maio deste ano, e possui dívidas em aberto com inúmeros credores, os quais, por sua vez, acabaram enfrentando problemas de liquidez e insolvência por decorrência do calote.

Como funciona o wBTC

Na prática, o que isso significa e quais podem ser as implicações para o mercado em mais um teste de estresse e FUD (medo, incerteza e dúvida).

Como explicou o analista da Mercurius Crypto, Rafael Castaneda, em uma postagem publicada no Twitter também na última sexta-feira, o wBTC é um token cunhado na rede da Ethereum que representa a posse de 1 Bitcoin na proporção exata de 1:1 para permitir que o BTC possa ser utilizado em aplicações DeFi:

“O token wBTC permite que o poder de compra de um BTC seja utilizado dentro do ecossistema DeFi de plataformas de contratos inteligentes, em aplicativos como UNI e AAVE, a fim de ser rentabilizado.”

Inclusive, é digno de nota o fato de que três dos principais protocolos DeFi da Ethereum, MakerDAO (MKR), Aave (AAVE) e Compound (COMP), detêm cerca de US$ 1,2 bilhão em WBTC, representando cerca de um terço do suprimento em circulação, de acordo com uma reportagem do The Defiant.

Avançando em sua explicação, Castaneda informa que o sistema que permite a criação e a utilização do wBTC depende de dois atores principais.

Segundo Castaneda, a Alameda Research atuava como mercador e portanto jamais manteve em sua posse os Bitcoins utilizados para cunhar os mais de 100.000 wBTC que alegadamente possuía.

De acordo com uma investigação empreendida pelos analistas da Mercurius Crypto, os BTCs que garantem os wBTC atualmente em circulação no mercado estão sob posse dos custodiantes.

Portanto, pelo menos em tese, não há risco imediato de que uma crise de liquidez impeça os Bitcoins originais de serem resgatados na proporção de 1:1 junto ao custodiante, mesmo que estejam sendo negociados com desconto no mercado, afirma Castaneda.

Liquidez garantida

Uma declaração de Chen Fang, COO da BitGo, a empresa centralizada de ativos digitais que faz a custódia dos Bitcoins que garantem o wBTC, corrobora as informações divulgadas por Castaneda.

Fang procurou tranquilizar os investidores em um comentário publicado no Twitter ainda na sexta-feira em resposta à postagem alarmista, afirmando que todos os wBTCs em circulação estão garantidos por BTCs originais na proporção de 1:1. Inclusive, os dados estão disponíveis on-chain e qualquer um pode acessá-los.

Livro de ordens – Um registro de todas as emissões e queimas de WBTC na Ethereum (captura de tela). Fonte: WBTC.Network

De acordo com os dados disponíveis no site WBTC.Network, atualmente há 224.075 BTC sob custódia para um total de 219.853 wBTC em circulação, garantindo a liquidez necessária para o resgate integral dos BTCs originais.

As reservas do wBTC são auditadas pelo sistema de prova de reservas da Chainlink (LINK), o que torna pouco provável que a comprovação possa ter sido forjada.

Castaneda destaca que nunca antes na história o wBTC foi negociado com desconto por tanto tempo. Em tese, significa que há aí uma boa oportunidade de arbitragem. No momento, o wBTC é negociado com um desconto de 0,6% em relação ao preço à vista do Bitcoin.

Apesar disso, o analista da Mercurius Crypto não recomenda aos investidores que utilizem o wBTC como “forma de armazenar valor.” Dadas as condições atuais do mercado, “não temos como ter certeza de que o pânico não seja capaz de aprofundar ainda mais o DEPEG entre o wBTC e o BTC”, concluiu.

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, os analistas ainda não chegaram a um consenso sobre até onde o preço do Bitcoin pode cair no atual ciclo de baixa.

As opiniões variam, citando o fundo atual de US$ 15.500 como uma possibilidade de que a mínima do ciclo de baixa de 2022 já tenha sido estabelecida, enquanto opiniões mais pessimistas sugerem US$ 14.000, US$ 12.000, US$ 10.000 e até US$ 6.500 como níveis a serem observados.

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