A Rússia invadiu a Ucrânia, e ai, o que meu Bitcoin tem a ver com isso?

Especialistas explicam o papel do Bitcoin e das criptomoedas na guerra entre Rússia e Ucrânia

A guerra entre Ucrânia e Rússia iniciada em 24 de fevereiro segue tendo impactos sociais, políticos e econômicos em todo o mundo. Porém, muitas pessoa, entre eles, investidores de Bitcoin e criptomoedas, se perguntam: O que eu tenho a ver com isso? Como isso pode impactar meus investimentos em criptomoedas?

Em busca de ajudar a traçar um cenário que possa responder estas e outras dúvidas dos investidores o Cointelegraph Brasil reuniu a opnião de alguns especialistas sobre o assunto.

Para Rodrigo Soeiro, fundador da Monnos, nesse panorama de conflito  a criptoeconomia tem se mostrado essencial para ambos os países envolvidos. Ele explica que enquanto a Ucrânia vê crescer a quantidade de transações via cripto, principalmente de doações, a Rússia encontrou no mesmo ambiente financeiro uma forma de tentar sobreviver às sanções internacionais.

“O aumento no volume de transações no mercado cripto de ambos os países está se dando por um motivo central: a criptoeconomia é o ambiente mais seguro para se obter liberdade e certeza de que a gestão é sua e não do Estado. Assim, a fuga aos bancos que está acontecendo tanto na Rússia quanto na Ucrânia fez com que os recursos tirados dessas instituições fossem para as exchanges. Inclusive, essa não é uma postura só do cidadão, mas tamdbém das instituições, ou até mesmo de órgãos governamentais”, pontua Soeiro.

Para Rodrigo, tais sanções não serão contornadas de forma simples, mas tendem a acelerar a sedimentação da infraestrutura que envolve cripto, pois é o caminho mais rápido para implementação de um meio alternativo ao dólar, ao Swift (plataforma global de transações financeiras), e à fuga das bandeiras de cartão de crédito (Visa e Mastercard), entre demais ações em andamento. Outro caminho seria os CBDCs (Central Bank Digital Currency). 

“Por conta do cenário de sanções, os CBDCs russo e chinês estarão prestes a demonstrar seu potencial na prática, em função da saída do Swift. No caso da Rússia, isso se daria imediatamente, e da China, possivelmente nos meses subsequentes. Essa alternativa já é ambicionada por tais países há muito tempo e, dada a relevância comercial que têm em nações ao redor do mundo, talvez ocorra sua concretização”.

Uso de criptomoedas cresce 400% na Ucrânia

Desde o começo da guerra, as transações da principal exchange ucraniana, a Kuna, cresceram 400%, segundo dados da plataforma CoinGecko. Rodrigo explica que este comportamento explicita como a população, hoje vulnerável, recorre à cripto para tentar defender e salvar o seu patrimônio.

Mas, segundo Rodrigo, engana-se quem acredita que a aproximação da Ucrânia e a criptoeconomia ocorreu apenas por conta da guerra:

“A Ucrânia já vem se mostrando favorável à criptoeconomia há bastante tempo. Um dia após El Savador ter adotado o Bitcoin como moeda oficial, o parlamento ucraniano reconheceu e legalizou as criptomoedas no país. O objetivo do país em favorecer o mercado cripto é exatamente poder se libertar das amarras tanto do dólar quanto do rublo, a moeda da Rússia. É uma nação que certamente já tinha reservas em cripto, e não à toa essas reservas estão sendo utilizadas agora no contexto da guerra”.

Com a criptoeconomia crescendo nesses países, cresce o olhar de outras nações e de reguladores.

“O conflito entre Rússia e Ucrânia, no contexto econômico, será uma catapulta do mercado cripto descentralizado, e vai acelerar todas as inovações que envolvem esse ecossistema, tanto em meios de pagamento, quanto em transações peer-to-peer e, inclusive, a forte entrada de capital institucional. É triste que seja por meio de uma guerra, mas a continuidade desse conflito revelará o real propósito de existência da criptoeconomia – prover liberdade e independência”, conclui Rodrigo.

Criptoativos não tem papel de destaque no conflito

Já para Orlando Telles, diretor de research da Mercurius Crypto, casa de pesquisa em criptoativos, as questões atreladas ao risco da Rússia utilizar criptoativos como uma alternativa para fuga de sanções, trata-se mais de um ruído de mercado do que algo relevante, mas que pode ter alguns impactos no futuro.

O executivo explica que as sanções econômicas impostas à Rússia seguem uma dinâmica como a Office of Foreign Assets Control (OFAC), que cria as designações que serão utilizadas em cada sanção, seja de indivíduo, empresa ou país.

Toda entidade ou pessoa dos Estados Unidos não pode realizar transações como as que estão listadas, sob risco de penalizações, o que torna a violação muito pouco atrativa. Para que ocorra a infração, o sistema utilizado necessita de grande liquidez, aceitabilidade e uma baixa transparência. Além da necessidade de entidades que estejam dispostas a correr o risco.

Boa parte das exchanges de criptoativos seguem as regulações atreladas à Know Your Transaction (KYC), caminho de censura através de softwares de rastreio e de identificação de endereços, como os fornecidos pela Chainanalysis e que possui licença Money Services Business (MSB), nos Estados Unidos. 

“O mercado de ativos digitais ainda é pequeno para as operações que a Rússia necessitaria, além de ser muito transparente, o que tornaria esse mercado uma péssima alternativa nesse sentido”, pontua Telles.

Após o caso da Metamask, a maioria dos usuários passou a acreditar que os criptoativos não são incensuráveis e que, caso aconteça eventual censura no mercado, será através da própria infraestrutura. Telles pontua que diversos usuários fazem o uso de wallets, como a Metamask, que estão atreladas a empresas e infraestruturas centralizadas, como a Consensys e Infura.

“A exemplo de caso específico na Venezuela, com as novas regras de sanções dos EUA, os endereços de IPs foram bloqueados, fazendo com que os usuários não conseguissem acessar os dispositivos. Isso, por sua vez, reforça a viabilidade de travar operações por meio da infraestrutura do mercado de cripto”, diz.

Outro caminho para congelar fundos de usuários, segundo o especialista, é através das blacklists de contratos inteligentes. Este recurso é muito utilizado em stablecoins. Caso sejam identificados, endereços com saldo agindo de forma maliciosa, podem ser congelados, como ocorreu com os ativos USDC e USDT.

Telles afirma que por conta da blockchain, o mercado de criptoativos consegue ser transparente, no entanto, com as estruturas centralizadas, que grande parte dos usuários utiliza para interagir com o mercado, ele também pode ser censurável.

“Este mercado agora é grande o suficiente e relevante o suficiente para chamar atenção dos reguladores e a regulação do mercado é uma realidade”, destaca.

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