Venezuela e Cuba assinam acordo bilateral envolvendo a criptomoeda Petro

Petro deve ser usado para honrar compromissos internacionais da Venezuela com Cuba, de acordo com uma nota oficial do Acordo Bilateral.

Durante a XX Reunião da Comissão Intergovernamental do Acordo de Cooperação Integral CubaVenezuela, foi acordado que a Venezuela pagará seu parceiro comercial insular do Caribe com a criptomoeda estatal venezuelana Petro (PTR).

O anúncio foi feito na quinta-feira passada, no âmbito da reunião agendada na Casa Amarela, sede do palácio presidencial de Miraflores, na capital venezuelana. Como pode ser visto na nota oficial do Ministério das Relações Exteriores da República Bolivariana da Venezuela, ambos os países avaliam a cobertura dos avanços de seus acordos com a criptomoeda promovida pelo país petrolífero. No entanto, ainda não se sabe quando essa medida começará a se tornar efetiva.

A reunião bilateral teve como objetivo avaliar questões de cooperação e integração em diversos setores, como saúde, comércio, turismo, energia eléctrica, telecomunicações e educação, entre outros, para consolidar e explorar novas formas de integração, incluindo a adaptação de plataformas para o sistema de pagamento com a criptomoeda. A nota não esclarece se algum ministério em particular atuará como piloto ou se todos começarão a pagar seus adiantamentos com Petro, após o anúncio oficial.

A reunião de alto nível teve representantes dos ministérios dos dois países do setor de energia, saúde, tecnologia e turismo, que revisaram as realizações do ano passado, destacando o trabalho de cooperação durante o apagão de março de 2019 na Venezuela, que afetou grande parte parte do território e para a qual a ilha teve papel fundamental na restauração do serviço, segundo as palavras do ministro Freddy Brito.

O Acordo foi assinado em Caracas em 30 de outubro de 2000 pelos presidentes então falecidos de ambos os países, Hugo Chávez e Fidel Castro, como forma de gerar incentivos para a recuperação da ilha antes do bloqueio dos Estados Unidos. Como resultado imediato, o comércio bilateral cresceu exponencialmente com a chegada das missões em 2003-2004, o que resultou na chegada de milhares de cubanos às terras venezuelanas para prestar serviços médicos em troca do petróleo venezuelano de graça.

A notícia chega em tempos de tensões diplomáticas e crise financeira, depois que o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, solicitou um diálogo direto com os Estados Unidos em uma rede nacional de rádio e televisão para normalizar as relações, tentando abrandar as sanções impostas pelos norte-americanos, que impossibilitam o acesso a fundos de suas contas no exterior.

Como resultado, o vice-presidente dos EUA, Mike Pompeo, ratificou seu compromisso com a democracia e disse que não entra em negociação com o “regime Maduro”, o que coloca o país em uma situação mais comprometida, depois que a Bloomberg revelou em um relatório que as reservas de petróleo do país estão no nível mais baixo da história, apesar de terem obtido mais de US$ 100.000 milhões com exportação apenas nos anos de 2008 a 2014.

Como medida do governo venezuelano para equilibrar as contas fiscais, a criptomoeda Petro se tornou uma válvula de escape para honrar os compromissos com os países aliados, como aconteceu com Cuba. No entanto, vale ressaltar que, no passado, a intenção de fazer acordos semelhantes com países como Rússia e Índia não prosperou, com os países se recusando a aceitar um ativo que ainda carece da confiança dos negociadores internacionais.

Por enquanto, a criptomoeda tem apenas o lastro dos barris de petróleo da Venezuela Saudita e seu experimento foi mais para o campo de pagamentos de benefícios sociais, serviços e ativos relacionados ao governo venezuelano do que ao comércio exterior. As notícias relacionadas ao país das Antilhas podem significar uma mudança no paradigma de como a criptomoeda é concebida e qual poderia ser seu uso para obrigações além das fronteiras do país sul-americano.

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