Unick Forex usou contas do Santander, Itaú e Sicredi para lavar dinheiro
Um suposto laranja de Leidimar Lopes chamado John Lenon usava contas no Santander, Itaú e Sicredi para lavar dinheiro da Unick Forex. Dono de nove empresas, sendo que uma delas tinha o próprio pai como laranja, Lenon foi um dos cérebros para o novo negócio de seguros que Unick Forex chegou a tentar implementar.
Segundo a interceptação feita em 14 de junho de 2019 pela Polícia Federal, ao qual o Portal do Bitcoin teve acesso, no celular de Leidimar Lopes, Lenon explicou que não falava nada de bitcoin aos bancos. Ao invés disso, o suposto “laranja” de Lopes falava de hotelaria e negócios como consultoria.
Isso somado a notas suspeitas fazia com que os bancos que tanto vinham atacando corretoras de criptomoedas fossem usados para lavar parte do dinheiro da Unick Forex, conforme o próprio Lenon disse para Lopes:
“É, eu tô usando bastante o Santander, o Itaú e o Sicredi. E aí, o pessoal chiou um pouco até eu começar apresentar as notas e falar um pouco de hotel. Eles começam a ver que não é multinível, nunca falo nada de bitcoin nem nada, só dos negócios ‘tradicional’ de consultoria, e curso, e aí tá bem tranquilo”.
Unick Forex e o esquema milionário
Ele afirmou que mesmo assim precisava ter um certo jogo de cintura e distribuir o montante para cada conta:
“Eu pago uma semana pelo Santander, uma semana pelo Itaú, pelo Sicredi. O Sicredi eu uso duas cooperativas, uso a cooperativa de Parobé e de Porto Alegre. Uma semana eu pago por uma cooperativa, outra semana pago pela outra. Que são bancos diferentes, lugares diferentes”.
A empresa Van Gogh emitiu R$ 1,4 milhões em notas para a Unick Forex. Isso, porém, dependia de um bom planejamento contábil:
“Nós declaramos já 1 milhão e 400 de notas. A ideia é declarar as notas para fechar a compra de Gramado e das salas”, disse Lenon.
O aliado de Lopes, então, afirmou que montou sua própria equipe de contabilidade. Assim, poderia fazer as malandragens mais rápido e fácil, conforme consta na investigação.
As salas que Lenon se referiu são as nove que antes estavam alugadas e depois foram adquiridas por R$ 500 mil. O suposto “laranja” mencionou que teria de conversar com Lopes sobre uma reforma nessas salas que iriam funcionar para o pessoal de contabilidade, dos seguros e dos empréstimos que acabariam usando essas salas.
Unick Forex com dias contados
Ele disse que tinha dinheiro girando, mas não aplicado e que no total deveria ser uns R$ 700 mil. Segundo Lenon, R$ 240 mil do Leidimar Lopes e quase R$ 500 mil das pessoas que ele “pegou”, mas que não gostaria de descapitalizar esse dinheiro para a reforma das salas.
O terreno de Gramado, por outro lado, seria uma futura garantia para os negócios. Lenon teria feito três orçamentos para fazer a limpeza no terreno e que gostaria de passar os valores para o presidente da Unick Forex.
Lopes disse que se eles se estruturarem bem, terminando o loteamento e “comprando a terra lá do lado”, deixando tudo prontinho, teriam entre R$ 150 e R$ 200 milhões de garantia.
Em trecho da conversa, o presidente da Unick Forex parecia não confiar tanto em Lusvarghi e planejava deixar a bomba nas mãos dele, que era o diretor jurídico de sua empresa.
Ele disse que pararia e não pagaria ninguém. As pessoas, segundo Lopes, teriam de correr atrás de Lusvarghi e da sua empresa SA Capital, para qual ele afirmou ter pago R$ 4 bilhões em terreno.
“Eu não vou devolver dinheiro pra ninguém porque eu tenho lá 4 bi que eu paguei lá pra SA [Capital] em terreno, e vão lá cobra ele, porque o contrato é esse”.
Lopes cogitou até mesmo “colocar” opção binária. Mesmo conhecendo o risco de a Unick cair em pouco tempo após isso, Lopes sabia que isso atrairia bastante cliente. Lenon, então, mencionou que o negócio era ter uma boa estrutura com diversas empresas.
Da Unick Forex para Van Gogh
A Unick era apenas um plano piloto para algo que seria maior e sem os mesmos erros cometidos na empresa que usava criptomoedas para dar golpes em pequenos investidores.
Lopes já tinha até mesmo montado um escritório em Londres (Inglaterra) e aconselhou Lenon a abrir uma empresa no exterior para que caso qualquer coisa ocorra os bens fiquem em nome dessa empresa fora do Brasil. O escritório na Inglaterra custou ao presidente da Unick Forex R$ 50 milhões.
Já naquela época, porém, o presidente da Unick deixou claro que seu negócio era a Van Gogh e que não se sentia bem ancorar o novo negócio com o dinheiro da Unick. Formado em Direito, John Lenon usou os seus conhecimentos para montar toda uma estrutura aparentemente legal.
Ele instituiu, então, oito diferentes empresas, além da Van Gogh, sendo que cada uma cuidava de uma coisa.
“Eu fiz um CNPJ pros hotéis e pousadas. E pra parte dos empréstimos, eu criei aquele do banqueiro individual, aí depois acabei comprando a franquia de empréstimos, fiz um segundo CNPJ pra financeira com, com autorização”.
Mesmo sem ser advogado, pois não tinha ainda naquele tempo a carteira da OAB, Lenon já montava contratos para as empresas. Ele, entretanto, não podia constituí-las por si só por que para isso era necessária a figura de um advogado, algo até que se lamentou a Lopes no meio da conversa de mais de uma hora.
Planos sem futuro
Lenon levantou a ideia de vender seguros, mas mencionou que SUSEP (Superintendência de Seguros Privados) tem diversas barreiras e o ideal seria ter muitos CNPJs. Ele e Lopes, então, planejavam usar instituições como Bradesco e Banco do Brasil. A conversa sobre isso, porém, não foi muito clara.
Mas, pelo que se tem dos áudios descritos pela PF, buscavam uma saída alternativa para algo grande com aparência de legalidade e o arquiteto de tudo isso era Lenon, o qual disse:
“Para parte dos empréstimos, eu criei aquele do banqueiro individual, aí depois acabei comprando a franquia de empréstimos, fiz um segundo CNPJ pra financeira com autorização. E aí foi para contabilidade também foi um serviço de apoio ao escritório separado”.
Antes de isso se concretizar, porém, os dois arquitetavam trabalhar com Forex e opção binária. Para opção binária, o risco era muito grande segundo Lopes pois cairia rapidinho. No entanto, para o Forex sugerido por Lenon já tinha até mesmo contato de doleiro na Europa e planejamento de fraudar o fisco.
Lenon mencionou que havia um ex-jogador de futebol interessado em participar do esquema. A identidade desse ex-atleta, porém, não foi revelada na conversa. Lenon somente afirmou que era um “empresário dos guri do Grêmio e do Inter que vão pra Europa”.
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