Um ano do fim da Atlas Quantum: do stop order da CVM ao sumiço de Rodrigo Marques
A Atlas Quantum completa nesta quinta-feira (13) um ano do que seria o início de seu fim com a proibição da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Depois que a autarquia ordenou a suposta empresa a parar de atuar no mercado sob pena de multa de R$ 100 mil por dia, veio uma série de escândalos que até hoje estão longe de serem explicados.
Rodrigo Marques, responsável pela Atlas Quantum, sumiu no mapa. O último suspiro da Atlas foi a plataforma Phoenix, a qual não conseguiu renascer das cinzas e transformou os bitcoins dos clientes em pó. Quem tinha 0,1 btc, por exemplo, perdeu tudo.
As promessas de arbitragem com criptomoedas por meio da Quantum que daria alta rentabilidade se tornou um grande pesadelo para pessoas que até hoje lutam na Justiça a fim de reaver o investimento.
O cenário em torno da Atlas Quantum parecia perfeito. As propagandas com Tatá Werneck e Cauã Reymond, que apesar de terem resultado em fiasco, mostravam que empresa tinha capital. A credibilidade foi sendo construída por meio de propagandas até mesmo com celebridades como o jornalista Marcelo Tas, que teve um prejuízo de quase um R$ 1 milhão.
O fato, no entanto, é que tudo não passava de um castelo de cartas desmoronado após o Stop Order da CVM. Relembre abaixo os momentos mais marcantes da crise da empresa:
1 – Stop order da CVM
No fim de tarde de 13 de agosto de 2019, uma terça-feira, a CVM mandou a Atlas Quantum suspender imediatamente as ofertas públicas de investimento em criptomoedas. Na época, a autarquia estipulou ainda pena de multa diária de R$ 100 mil caso a empresa desobedecesse a ordem.
Para a CVM, o problema não era a negociação de bitcoins, tampouco a suposta arbitragem com esses ativos, mas o fato de a empresa associar esse tipo de investimento à alta rentabilidade e ofertar publicamente por meio de um contrato com investidores.
“De acordo com as informações apresentadas no website https://atlasquantum.com/ houve rendimento de 37,6% em 2017, de 62,3% em 2018 e de 70,88% nos últimos 12 meses. A remuneração oferecida, seria variável e teria rentabilidade diária”.
A conduta, então, foi interpretada como um contrato de investimento coletivo e não deveria ser negociado sem a autorização da CVM.
A Altas Quantum disse inicialmente que a autarquia havia proibido apenas a propaganda. Contudo, voltou atrás retirou toda a campanha publicitária feita na Rede Globo e em outros veículos como outdoors.
2 – Saques travados
O efeito imediato do Stop Order foi uma corrida de investidores para fazer os saques de dos bitcoins que estavam na plataforma. A partir de então todo o esquema criado por Rodrigo Marques e Fabrício Sanfelice começou a ruir.
A empresa começou a travar os saques de seus clientes. No início, a Atlas estendeu o prazo para que os saques fossem efetuados — o que era antes em um dia útil acabou se tornando em 30 dias. Depois disso, o infinito.
3 – Do Ministério Público à Câmara dos Deputados
O fato é que a Atlas Quantum já vinha sendo acompanhada pelo olhar atento do Ministério Público. Quatro meses antes da CVM alertar os investidores sobre onde eles estavam se metendo, a promotoria de São Paulo chegou a levantar a suspeita de que tudo não passava de fraude.
“Não se descarta a possibilidade de que as empresas, ao contrário do que afirmam, operem em um esquema de pirâmide financeira, nos moldes do investidor Bernard Madoff”, afirmou o Ministério Público.
Nessa mesma época, o MP de São Paulo pediu que a empresa fosse multada em R$ 10 milhões por lesão aos clientes que tiveram seus dados, incluindo saldos de bitcoins, vazados ainda em agosto de 2018.
A Atlas negou as acusações e sustentou não prometer lucro “por se tratar de uma operação de renda variável”. As suspeitas, porém, perduraram sobre as arbitragens com criptomoedas. Após o travamento de saques, a Câmara de Deputados convocou Rodrigo Marques para esclarecer a suspeita de pirâmide financeira com criptomoedas.
Marques foi bastante evasivo nas suas respostas aos parlamentares e tentou justificar o problema com os supostos bloqueios feitos em exchanges no exterior. Ele declarou também que a decisão da CVM havia pegado a empresa de surpresa.
4 – Ajustes tardios
Para tentar se adequar às normas da CVM, a empresa retirou menções ao robô Quantum do site e fechou cadastro para novos clientes, mantendo ativo somente a venda de bitcoins.
Poucos dias após o Stop Order, a Atlas apresentou um relatório feito pela Grant Thornton. A empresa de contabilidade atestou que a Atlas Quantum possuía 15.226,1 bitcoins e 34.793.966 de criptodólares (termo referente a uma cesta de stablecoins).
O documento foi divulgado como uma auditoria completa que era prometida desde 2018. No entanto, o relatório não passava de um Procedimento Previamente Acordado (PPA), embora tenha sido vendido como uma auditoria.
5 – A aquisição da AnubisTrade
Sem pagar um Satoshi sequer aos seus clientes e já com cerca de R$ 1 milhão em ações somente na Justiça de São Paulo, eis que a Atlas Quantum resolveu comprar a AnubisTrade, que se revelou um outro esquema, mas liderado por Matheus Grijó. O valor da negociação é uma incógnita até hoje.
O cenário da Atlas Quantum era de plena crise. O diretor-executivo de Marketing, Marcelo Melo; a diretora-executiva de Compliance, Emília Campos; o diretor de Vendas, Bruno Peroni; e o diretor de Tecnologia, Rodolfo Marun, já não estavam mais na empresa, durante esse período.
A negociação foi feita sem haver qualquer aviso aos clientes da Anubis Trade, e a empresa tinha naquela época 253 bitcoins sob sua custódia. O problema da Atlas, então, se estendeu aos clientes da AnubisTrade.
Curiosamente numa live, Marques chegou a afirmar que usaria dinheiro de novos entrantes para pagar os antigos clientes, o que poderia dar a entender, portanto, que a empresa adotaria um esquema de bola de neve.
6 – Demissões em massa
A situação da Atlas estava tão ruim que houve de uma só vez demissão de quase todo o seu pessoal. Dos 150 funcionários, sobraram 10 apenas que ficaram ociosos. A demissão ocorreu um dia antes da data de pagamento dos salários, os quais não foram pagos. Não houve alternativa senão os trabalhadores entrarem com ações na Justiça. Não há notícia de que tenham recebido alguma coisa.
7 – Prejuízos sem tamanho
A Atlas deixou rombo de mais de milhares de bitcoin aos seus clientes que solicitaram saques e não obtiveram êxito. E, no final da história a empresa não conseguiu comprovar para a CVM que o software “Quantum” funcionava. A CVM afirmou que os números apontados no relatório da Grant Thronton não apontavam a liquidez da empresa.
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