Tudo o que você precisa saber sobre blockchain, por Pedro Birindelli

Este texto foi escrito por Pedro Birindelli, executivo sênior em transformação digital e especialista em blockchain da Cosin Consulting.

Blockchain está na moda, porém poucos entendem o que é, e onde e como aplicar. Neste texto, vamos explorar o conceito dessa tecnologia, suas características e a aplicabilidade no contexto de negócios.

Em primeiro lugar, é importante entender que blockchain não é um produto ou serviço por si só e sim uma solução tecnológica de propósito geral, assim como a internet. Portanto, é difícil imaginar todas as aplicações que poderemos ter no futuro: a verdade é que blockchain estará presente na vida das pessoas de forma transparente.

Podemos definir blockchain como uma solução composta por elementos de criptografia e computação distribuída, com o objetivo de automatizar processos que exijam o estabelecimento de confiança entre duas ou mais partes. Confiança essa estabelecida por meio de algoritmos de consenso e transparência no registro das transações.

Podemos entender melhor o funcionamento dessa tecnologia analisando duas de suas principais características:

Encadeamento dos registros: Os registros são escritos em blocos. Esses blocos são encadeados uns aos outros por um processo com base em criptografia, o qual é responsável por representar um bloco por meio de uma sequência única de caracteres que passa a fazer parte do bloco seguinte, criando assim uma sequência temporal dos registros. Essa característica garante a imutabilidade dos dados.

Sistema distribuído: A solução é dada no formato de rede onde cada nó mantém uma mesma visão das transações executadas, conferindo transparência para todo o sistema, o que por si só é um fator importante de segurança. Os nós ainda podem participar da validação das informações, seguindo regras de consenso pré-estabelecidas, o que garante a resiliência do sistema como um todo. Ou seja, a rede é capaz de “sobreviver” caso um ou mais nós se percam ou tentem trabalhar fora das regras estabelecidas. Essa característica é importante para conferir confiabilidade e imparcialidade do sistema.

É importante deixar claro que existem outros fatores técnicos e variações que podem ser aplicadas, trazendo para esse universo uma variedade de plataformas que possuem características próprias para atender fins específicos. Essas características passam pela natureza da rede (pública ou privada), do modelo de consenso e até do modo de “encadeamento” dos registros.

Avançando para a discussão da aplicação da blockchain, é necessário ter em mente que essa tecnologia está inserida em um contexto de transformação digital. Para que isso fique claro, basta analisar sobre as óticas do potencial impacto na mudança do relacionamento entre pessoas e empresas, dado o elemento confiança; do ganho de eficiência, com a eliminação de custos administrativos e taxas de intermediários; e, por fim, do potencial de viabilizar novos negócios baseando-se no fenômeno da economia compartilhada, descentralização e desintermediação.

Para fins didáticos, vamos agrupar as aplicações dessa tecnologia em quatro campos. É importante ter em mente que as aplicações aqui apresentadas contemplam os estudos mais recentes, porem novidades estão surgindo todos os dias.

1. Criptomoedas

A aplicação mais famosa do blockchain foi como enabler para o sistema Bitcoin. Essa tecnologia foi utilizada basicamente para solucionar um problema antigo na digitalização da moeda: o double spending. O sucesso dessa aplicação se comprova pelo fato do bitcoin estar no ar desde 3 de janeiro de 2009, acumulando atualmente um valor de mercado de R$ 450 bilhões, sem que nenhuma tentativa de fraude na validação ou registro das transações tenha tido sucesso. A partir do bitcoin, muitos outros cases utilizando o blockchain na digitalização do dinheiro tiveram sucesso. Esses cases passam por soluções de pagamento em ambientes de e-commerce e lojas físicas, remessas de valores, transferências interbancárias globais, sistemas de empréstimos peer-to-peer e sistemas de micro finanças.

2. Criptoativos

Ainda no campo das finanças, outra possibilidade de aplicação do blockchain é na representação de títulos de forma eletrônica, o que facilita as transações de ativos em geral, ampliando a liquidez e até o tamanho potencial de mercado desses ativos. O processo de representação de um ativo digitalmente é conhecido por tokenização. Para que essa aplicação fique mais clara, considere como ativo um imóvel, com valor de mercado de R$ 1 milhão. Agora, imagine que serão criados 20 tokens, cada um equivalente a 5% do valor do imóvel. Dessa maneira, você poderia ser dono de uma parte do imóvel ou, por exemplo, receber parte dos rendimentos de um aluguel. O benefício relacionado à liquidez é evidente no surgimento de mercados secundários que possibilitam a venda e compra desses tokens de forma instantânea, sem intermediação ou taxas. Esse mercado pode ainda funcionar 24 horas por dia, ininterruptamente, e de um modo bastante simples possibilitar transações entre pessoas de qualquer parte do planeta, aumentando assim o tamanho desse mercado.

Nessa mesma linha, soluções relacionadas a mercado de ações, derivativos, private market e crowdfunding também se encaixam nesse grupo. No entanto, a revolução no mercado financeiro, dado o uso da blockchain, ainda depende de questões de escalabilidade e legislação. Um dos cases mais emblemáticos relacionados a esse grupo de aplicações é o lançamento da plataforma LINQ, uma parceria entre a NASDAQ e empresas de tecnologia, que resultou em uma plataforma para negociação de títulos de empresas em pré-IPO.

3. Gestão de dados

“Os dados são os ativos da nova era”. Vivemos em uma época onde a geração de dados cresce de forma exponencial, alavancada principalmente pela capacidade que criamos de interagir em ambiente digital. Essa interação passa pelo relacionamento entre pessoas, empresas e coisas (IOT). Ao mesmo tempo, passamos por uma crise de privacidade e segurança da informação.

A blockchain pode ser aplicada nesse contexto, devolvendo às pessoas o controle de seus dados sem que as facilidades geradas pelo compartilhamento de suas informações sejam afetadas. A ideia é que a rede verifique a autenticidade de cada registro, armazene e gerencie a permissão de acesso a essas informações de forma automatizada e descentralizada. Essa funcionalidade é bastante útil em uma gama de aplicações, tais como: garantias de direitos autorais, controle de cadeias de suprimentos, programas de Loyalty, prova de autenticidades de dados, compartilhamento de dados entre concorrentes e/ou parceiros, gestão de identidade, entre outras.

A adesão do governo na emissão de identidades digitais é um grande acelerador nesse processo e a Estônia está na vanguarda da utilização do blockchain na gestão das identidades digitais. Outra aplicação bastante madura do blockchain é o gerenciamento de cadeias de suprimentos, beneficiando indústria, varejistas e consumidores.

Recentemente, uma parceria entre BRF, Carrefour Brasil e IBM divulgou uma solução baseada em blockchain para o rastreio de todo o processo produtivo de carnes. O consumidor final poderia, por meio de um QR Code na embalagem do produto, checar a fábrica de origem daquele produto, datas de produção, de embalagem e de transporte, além da sua validade. Qualquer irregularidade na fabricação ou na distribuição poderá ser detectada pelo cliente.

4. Smart Contracts

Como o próprio nome sugere, podemos aplicar a blockchain na digitalização de contratos, ou seja, estabelecendo condições que devem ser executadas caso um evento pré-estabelecido ocorra. Porém, esse conceito pode ser muito mais amplo. Podemos rodar programas inteiros a partir de aplicações desenvolvidas sobre plataformas de blockchain.

Smart contracts talvez sejam a aplicação com maior potencial disruptivo. Suas principais características são: ter como gatilho transações registradas na blockchain, serem auto executáveis e impossíveis de serem interrompidos (se assim se desejar); são precisos em sua execução e podem envolver transações de informações, tokens e criptomoedas; podem envolver duas ou diversas partes, tendo como agentes pessoas ou coisas (IOT); e ainda podem interagir com componentes externos como aplicações, máquinas autônomas e de inteligência artificial. É um campo de atuação vasto e bastante flexível dado que as possibilidades da programação não possuem barreiras.

Destaco entre os casos de uso a conhecida DAO – Decentralized Autonomous Organization. Essa aplicação tem como objetivo a eliminação de entidades jurídicas na relação entre fornecedores, parceiros, colaboradores e consumidores, rompendo o modelo atual de toda e qualquer organização, possibilitando assim a real economia compartilhada. Entre os casos conhecidos sugiro a pesquisa de três deles:

· Slock.it – Plataforma que permite a locação de imóveis e carros dotados de conectividade, sem a necessidade de intermediários como o Airbnb.

· Arcade city – Plataforma global para caronas no esquema peer-to-peer mantido e operado pelos próprios motoristas. Aqui, mais uma vez, já não existiria mais a necessidade de intermediários como os aplicativos de mobilidade.

· Xchng – Plataforma aberta que fornecerá estabilidade, segurança, eficiência e transparência na indústria de marketing digital.

Como vimos, blockchain é um assunto bastante amplo, com um enorme potencial disruptivo, tanto se considerarmos novos modelos de negócio, como a transformação de negócios tradicionais. No Brasil e no mundo, essa tecnologia ainda está em desenvolvimento e espera-se uma maior adoção da blockchain nos próximos dois ou três anos. Até lá, novas aplicações e muitas provas de conceitos deverão fazer parte do caminho.

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Fonte: Criptomoedas Fácil

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