Qual será o futuro da blockchain? Especialistas compartilham perspectivas
O fascínio pela anonimidade sempre foi um grande atrativo no ecossistema blockchain. Os primeiros adeptos destacavam a capacidade de realizar transações em segredo, longe dos olhos curiosos das instituições centralizadas e dos reguladores.
Contudo, à medida que a tecnologia evolui, a indústria enfrenta uma questão crítica: a anonimidade ainda é primordial ou está se tornando um aspecto em declínio diante das crescentes demandas por transparência?
Por que a transparência na blockchain é importante?
O setor blockchain está passando por uma transformação. O aumento da fiscalização regulatória e os avanços na análise da rede estão lentamente desvendando o ecossistema cripto, que antes era opaco.
Uma revelação pelo detetive on-chain ZachXBT, que expôs as posses em criptoativos do negociante de memecoins, Murad, destaca essa mudança. Essa exposição acendeu debates sobre a ética de revelar tais informações e se tais atos comprometem a privacidade fundamental prometida pela rede.
Apesar das preocupações, muitos argumentam que a transparência é crucial para combater fraudes, lavagem de dinheiro e outras atividades ilícitas no espaço cripto.
A demanda por maior supervisão é parcialmente impulsionada pelo aumento dos incidentes de fraudes e hacks. Segundo um relatório da Immunefi, mais de US$ 412 milhões foram perdidos em tais incidentes apenas no terceiro trimestre de 2024. Além disso, até setembro deste ano, o total alcançou US$ 1,3 bilhão em 169 incidentes.
Essas violações de segurança e a utilização de criptomoedas em atividades ilegais alimentam o debate sobre a natureza dual da blockchain — oferecendo liberdade, mas potencialmente facilitando atos ilegais.
Necessidade de uma abordagem equilibrada
Em uma entrevista com o BeInCrypto, Alex Pruden, Diretor Executivo da Fundação Aleo, contestou essa perspectiva. Ele destacou o uso indevido dos sistemas financeiros tradicionais em crimes.
O sistema financeiro tradicional é usado para atividades ilegais o tempo todo. 99% da lavagem de dinheiro e evasão de sanções acontecem, na verdade, através de grandes instituições financeiras (que não detectam até depois que o crime foi perpetrado). Isso significa que devemos banir bancos e processadores de pagamento? Claro que não, pois essas instituições proporcionam benefícios para todos os outros. A chave é encontrar o equilíbrio certo
Apoiando isso, um relatório do Centro de Compartilhamento e Análise de Informações Cripto (ISAC) observa que o dinheiro em espécie é usado muito mais frequentemente do que as criptomoedas em atividades ilegais. O relatório desafiou a noção de que o setor cripto é predominantemente nesse sentido.
Além disso, os puristas e defensores da privacidade argumentam que uma movimentação extrema em direção à abertura erode os valores centrais da blockchain. Pruden enfatizou a importância da privacidade.
Transações financeiras no mundo real entre partes são frequentemente baseadas em uma noção de confidencialidade. E essa confidencialidade/privacidade é essencial para o funcionamento das empresas. Por exemplo, empresas que negociam entre si podem não querer que o conteúdo dessa transação seja público para os concorrentes. Da mesma forma, transações financeiras individuais em blockchains públicas estão em risco de vigilância, mineração de dados e ataques cibernéticos.
Contrariando a visão de Pruden, Adrian Brink, co-fundador da Namada, argumenta que a blockchain nunca foi verdadeiramente sobre privacidade.
“Eu não acho que a blockchain foi construída com a promessa de privacidade. O Bitcoin não oferece garantias de privacidade. O potencial para desanonimização estava lá desde o início.
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Especialistas afirmam que a prova de conhecimento zero é a solução
Essa tensão entre privacidade e transparência levanta questões fundamentais sobre o futuro da blockchain. Pode ela permanecer descentralizada e segura enquanto compromete a anonimidade? Ou a privacidade ainda é essencial para proteger os usuários e manter os princípios da tecnologia?
William Wendt, chefe do ecossistema na Oasis, disse ao BeInCrypto que a privacidade não é uma escolha binária.
Muitas vezes, essa questão de privacidade versus transparência é vista por uma lente binária. Ou uma blockchain é totalmente transparente ou totalmente anônima. No entanto, não é esse o caso. A privacidade é um espectro, e diferentes dApps e usuários terão diferentes preferências pelo nível de privacidade/transparência que precisarão.
Segundo os três especialistas, uma solução promissora está na tecnologia de conhecimento zero, que oferece uma maneira de a transparência e a privacidade coexistirem. As provas de conhecimento zero (ZKPs) permitem a verificação de transações sem revelar dados subjacentes, mantendo assim a privacidade do usuário enquanto garante a conformidade com as leis.
Historicamente, a transparência era vista como um mecanismo para impor conformidade, mas isso não precisa vir ao custo da privacidade do usuário. Soluções criptográficas como as provas ZK (ZKP) possibilitam um sistema onde as transações podem ser “corretas por construção” em termos da lei, sem revelar os dados subjacentes. Isso protege a privacidade do usuário e cria uma interface de usuário mais próxima de uma conta bancária/aplicativo de pagamento do que a maioria das aplicações Web3 hoje.
Brink também apoia essa abordagem matizada, enfatizando que a necessidade de privacidade varia conforme o contexto.
O que você precisa compartilhar com seu governo local vai ser diferente do que você quer compartilhar com o mundo. A questão chave é principalmente a auto-soberania. Estamos caminhando para um mundo onde tecnologias como a criptografia de conhecimento zero empoderam os usuários com a escolha do que compartilhar. A privacidade pode coexistir com a transparência, mas a arquitetura deve ser cuidadosamente projetada.
A criptografia de conhecimento zero aborda preocupações com a privacidade e também atende a requisitos regulatórios, oferecendo uma solução equilibrada que protege a privacidade individual e cumpre obrigações de transparência. Essa tecnologia comprova a conformidade com as regulamentações de combate à lavagem de dinheiro (AML) e Conheça Seu Cliente (KYC) sem divulgar informações pessoais, proporcionando um cenário vantajoso para todos os envolvidos.
Devido ao interesse crescente, o setor de conhecimento zero está em expansão. Segundo dados do CoinGecko, o valor de mercado total das moedas de conhecimento zero está em quase US$ 13,5 bilhões.
Na verdade, embora a blockchain tenha sido inicialmente celebrada por suas características de privacidade, o ambiente em mudança sugere que tanto a transparência quanto a privacidade são necessárias para o seu futuro. O desenvolvimento contínuo da criptografia de conhecimento zero e tecnologias similares pode ser a chave para manter os princípios fundadores da blockchain enquanto se adapta a novos ambientes regulatórios.
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