Principais gestoras brasileiras de criptomoedas negam exposição à FTX e descartam risco de contágio

Hashdex, QR Asset Management e Titanium posicionaram-se publicamente para afirmar que não foram diretamente afetadas pela falência da FTX e afirmaram que operam com o princípio de segregação patrimonial para proteger seus clientes.

Principais gestoras brasileiras do mercado de criptomoedas, Hashdex, QR Capital e Titanium prestaram esclarecimentos públicos aos seus clientes afirmando que não foram diretamente afetadas pela falência da FTX, pois não possuíam ativos sob custódia da exchange nem exposição à Alameda Research, informou reportagem publicada pelo Valor Econômico nesta sexta-feira, 18.

Diante de um mercado de baixa prolongado e um cenário de incerteza sobre os efeitos colaterais da quebra da FTX, o sentimento negativo sobre o mercado de criptomoedas vem ganhando força entre os investidores do varejo e os reguladores em diversas partes do mundo.

A malversação dos fundos dos clientes é um dos grandes traumas instaurado pelas operações pouco transparentes da FTX e da Alameda Research, fundo de investimento e negociação de criptomoedas. Ambas as empresas pertenciam a Sam Bankman-Fried, o ex-bilionário que agora está sob a mira da Justiça.

Notas de esclarecimento

Gestora do fundo de índice (ETF) de criptoativos mais popular da B3, o HASH11, a Hashdex declarou em nota que além de não ter exposição aos produtos e serviços oferecidos pela FTX, “os fundos da Hashdex não realizam operações de empréstimos, alavancadas ou derivativos não regulados.”

A Hashdex acrescentou ainda que a custódia dos ativos sob sua gestão é feita em dispositivos de armazenamento a frio por “custodiantes regulados, que aderem aos mais altos padrões de supervisão, auditoria e segurança.” Os ativos estão distribuídos entre diversos serviços de custódia sob os princípios de segregação patrimonial, que mantém separados os balanços dos clientes e da empresa.

Além do HASH11, a Hashdex oferece outros 5 ETFs com exposição a diferentes setores da indústria de criptomoedas – como finanças descentralizadas (DeFI), metaverso, Web3 e os dois principais ativos do mercado, o Bitcoin (BTC) e o Ehter (ETH).

Samir Kerbage, chefe de produtos da Hashdex, acredita que o caso terá sérias implicações para a indústria no curto prazo, mas o expurgo dos maus atores e a reorganização do mercado é uma questão de tempo:

“Apesar do momento imprevisível, eventos recentes não abalaram a confiança na tese de investimento de longo prazo de cripto como uma classe de ativos.”

Também em nota, a QR Capital – holding da QR Asset Management que trabalha com produtos de investimento em criptomoedas – afirmou que seus ETFs e fundos de gestão ativa e passiva não possuem exposição à FTX e ao seu token nativo, o FTT, à Alameda Research:

“Tanto a FTX quanto a corretora/custodiante e seu token de utilidade, o FTT, não cumprem requisitos necessários de governança e elegibilidade que o processo de investimento adotado pela QR Asset exige e, portanto, não fazem parte do universo de cobertura da gestora.”

No que diz respeito à custódia, a QR Capital informou que utiliza os serviços das exchanges Gemini e Coinbase. Ambos estão submetidos à segregação patrimonial, acrescentou a gestora:

“Estes ativos não estão expostos a risco relacionado à insolvência das empresas. Os ativos são mantidos em contas segregadas de custódia fria ou cold storage. A custódia não se mistura com os recursos das empresas e ficam inacessíveis a credores em um eventual caso de falência da companhia.”

A Gemini foi atingida pelo contágio do caso FTX-Alameda e suspendeu os saques dos clientes do Gemini Earn, um serviço de renda passiva que permite que os usuários emprestem suas criptomoedas a investidores institucionais a juros. No entanto, o Gemini Earn não está relacionado ao serviço de custódia da exchange.

Alexandre Ludolf, diretor de investimentos da QR, afirmou que a gestora está atenta aos desdobramento do caso FTX e previu que a instabilidade deve prevalecer no curto prazo à medida que novas informações são reveladas:

“Devemos atravessar, nas próximas semanas, um ambiente de elevada volatilidade, enquanto os fatos vêm à tona e os efeitos são reconhecidos e digeridos. Até o momento, o colapso da FTX/Alameda tende a ser investigado como um crime comum relacionado à gestão fraudulenta e desrespeito a regras básicas de segregação de operações proprietárias e dinheiro de clientes, com agentes maliciosos infringindo grande dano à reputação do mercado.”

Por fim, a Titanium Asset declarou que trabalha com rígidos controles de risco, “não possui nenhuma exposição ao token FTT, um dos vetores principais da crise” e que os ativos sob sua gestão estão sob segregação patrimonial.

A gestora afirmou ainda que embora a falência da FTX tenha sido “relevante” para o mercado de criptomoedas, o evento vai “ser positivo para o amadurecimento da indústria”, especialmente no que diz respeito à regulação.

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, a quebra da FTX teve implicações diretas sobre o ambiente regulatório brasileiro, tendo em parte sido responsável pela aceleração da tramitação do Projeto de Lei 4401/2021 na Câmara dos Deputados.

Há exatamente uma semana, o deputado Áureo Ribeiro (SD-RJ) afirmou que o PL seria votado em no máximo 15 dias, estimando a próxima terça-feira, 22, como a data mais provável para aprovação do marco regulatório brasileiro. 

Na entrevista, Ribeiro manifestou-se desfavoravelmente à segregação patrimonial, sob a justificativa de que tais princípios não se aplicam a instituições bancárias de acordo com a legislação atualmente em vigor no Brasil:

“Acredito que vamos derrubar essa emenda que inclui a segregação. Os bancos não segregam patrimônio, por que deveria haver a segregação de um ativo que cresce, que avança, que é uma nova forma de ver o mundo? Não podemos engessar esse ativo.”

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