Tokenização de bens reais no Brasil avança sobre os mercados imobiliário e de preservação ambiental

Novas iniciativas atrelam propriedades de imóveis e áreas de de proteção ambiental da Amazônia a tokens não fungíveis (NFTs).

O potencial revolucionário dos NFTs (tokens não fungíveis) ainda é muito associado à indústria de criptomoedas e ao universo de bens virtuais, mas o processo de digitalização de bens tangíveis e reais começa a avançar no Brasil tanto no setor imobiliário quanto no de preservação ambiental.

Iniciativas de tokenização da Imovelweb e da Moss abrem novos campos de utilidade para os tokens não fungíveis proporcionando aos cidadãos uma relação mais direta, menos burocrática e inovadora para aquisição e a exploração comercial de imóveis e para o ativismo ecológico, segundo reportagem publicada pelo Valor Investe na quarta-feira.

A plataforma de locação e compra e venda de imovéis Imovelweb associou-se à empresa de soluções tecnológicas para o mercado imobiliário Netspaces para lançar os primeiros imóveis “tokenizados” do Brasil.

A tokenização nada mais é do que vincular um imóvel a um token não fungível, incluindo a sua escritura em um contrato inteligente registrado em uma blockchain. Mais do que apenas um certificado de propriedade, o contrato também estabelece as regras de comercialização e compensações financeiras relativas ao imóvel. Quando alguém compra esse token único e exclusivo, fica registrado que esta pessoa torna-se proprietária do imóvel representado por aquele NFT.

Além de desburocratizar o processo para aquisição de imóveis, a tokenização permite a experimentação de novas formas de propriedade e de comercialização de ativos imobiliários. Como já vem sendo experimentado em outros países, a tokenização permite o fracionamento da propriedade. Assim, torna-se possível comprar apenas partes de um imóvel.

Em novembro, a Imovelweb vai fazer a primeira experiência nesse sentido com a comercialização de 16 apartamentos residenciais em Porto Alegre. Cada unidade custará aproximadamente R$ 600.000.

A tokenização vai permitir que o comprador não precise pagar o valor total à vista ou mesmo financiar o pagamento do imóvel. A proposta da Imovelweb estipula que os compradores paguem apenas 20% do imóvel em um primeiro momento, mantendo a possibilidade de adquirir o restante em uma ou mais parcelas a serem pagas a cada 12 meses, ao longo de um período máximo de 10 anos.

Embora fora do país já seja comum o fracionamento de imóveis, permitindo que uma unidade tenha mais de um proprietário, a Imovelweb estabeleceu que neste primeiro lançamento os imoveis poderão ser vendidos a uma única pessoa. 

Embora não se tornem proprietários integrais do imóvel, após a quitação da primeira parcela os compradores poderão utilizá-lo da forma que lhes for mais conveniente, morando nele ou alugando-o. Em ambos os casos, a administração ficará a cargo da Imovelweb.

Optando por morar no apartamento, os novos proprietários terão que pagar um aluguel fixo determinado pela empresa. Neste caso, uma parte do valor do aluguel proporcional ao percentual do imóvel que já é da propriedade do comprador será devolvido à sua conta todo mês, como uma espécie de cashback. Pode parecer estranho, mas é como se se estivesse pagando aluguel para si próprio.

De acordo com o contrato, a Imovelweb determinou que o aluguel cobrado será de 0,5% sobre o valor integral da propriedade. Uma vez que este é de R$ 600 mil, o aluguel mensal terá um custo de R$ 3 mil. Taxas de condomínio e IPTU são despezas à parte que naturalmente cabem ao morador.

Assim, no primeiro ano, quando o comprador poderá ter no máximo 20% do total da propriedade, todo mês ele receberá de volta 20% do total pago, ou seja, R$ 600. À medida que ele comprar mais frações do token do imóvel, maior será o percentual a ser recebido.

No modelo de negócios projetado pela Imovelweb não há financiamento nem juros são cobrados. Porém, a transmissão do imóvel, com a escritura no nome do comprador, só será concretizada quando a quitação do valor total estiver completa, tal qual em um financiamento imobiliário tradicional. Enquanto o contratante não quitar integralmente o valor devido, o imóvel fica alienado e a instituição financeira legalmente é a proprietária do bem. No caso, a Imovelweb.

Uma vantagem em relação ao financiamento junto a uma instiuição financeira tradicional é que o parcelamento não é estipulado em função de pagamentos mensais, mas sim de acordo com as possibilidades e desejos do comprador, conforme Tiago Galdino, diretor financeiro da Imovelweb explicou à reportagem do Valor Investe:

“O modelo lembra o conceito de um financiamento imobiliário, com a vantagem de que o consumidor se torna proprietário de um empreendimento a partir de qualquer valor, dentro das suas condições financeiras, sem assunção de uma dívida”.

Em caso de valorização do imóvel, mesmo não tendo direitos integrais sobre a propriedade, o detentor do token pode se beneficiar de uma eventual revenda capturando a rentabilidade proporcional ao montante investido.

Depois dessa primeira experiência em Porto Alegre, a Imovelweb e a Netspace querem estender a oferta de imóveis tokenizados para outras regiões do país já no primeiro semestre do ano que vem. Além disso, as empresas querem oferecer os serviços de digitalização e administração de bens imobiliários para proprietários que queiram explorar as novas possibilidades de monetização proporcionadas pelos tokens não fungíveis.

NFTs da floresta amazônica

A Moss, empresa de tecnologia para serviços ambientais que em 2020 criou o primeiro token lastreado em crédito de carbono para compensação da emissão de gases de efeito estufa, anunciou que vai lançar um projeto de tokenização de áreas da floresta amazônica através de NFTs.

Embora não se tornem proprietários da floresta, os detentores do token não fungível estarão contribuindo para a preservação da área. No entanto, os tokens não fungíveis não devem ser encarados como um investimento, explicou ao Valor Investe o fundador e presidente da empresa, Luis Felipe Adaime:

“Não há retorno financeiro esperado, assim como não há retorno esperado quando se compra um colecionável de arte ou da NBA, ou uma propriedade ou quando se doa ou adota um projeto de conservação ambiental. O retorno é socioambiental. Na medida em que áreas vão ganhando seus protetores via tokens, ou proprietários compartilham a responsabilidade de proteção com outros, o ônus financeiro de defender a Amazônia é socializado”.

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, em setembro a MOSS anunciou que havia atingido a marca de mais de 2,3 milhões de MCO2 negociados, representando mais de 2 milhões de créditos de carbono compensandos.

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