TikTok e Twitter fazem a fama de novas celebridades do investimento
Quando se pensa em ambientes onde a cultura da internet se mistura com finanças, é possível visualizar os fóruns do Reddit em que publicações de parceiros (manos) que se autodenominam “macacos” se agrupam para impulsionar as ações da AMC Entertainment para a lua. Ou personalidades do YouTube bombando em criptomoedas e esquemas de enriquecimento rápido.
Mas também há um círculo solto de postagens no Twitter – carinhosamente conhecido por seus usuários como FinTwit – trocando ideias verdadeiras, além de muitas piadas e memes esotéricos e também links para newsletters pelo Substack e esquetes do TikTok.
O FinTwit não é novo, mas tornou-se leitura obrigatória para quem quer entender um mercado que é cada vez mais influenciado pelo que está acontecendo nas redes sociais. (Essa é uma das razões pelas quais muitos jornalistas, incluindo eu, passam talvez muito tempo lá.) Muitas das postagens tratam de finanças, e está se tornando um lugar em que opiniões e mulheres mais jovens podem conseguir muitos seguidores e promover as próprias carreiras.
Lily Francus, ex-aluna de Doutorado, tornou-se pesquisadora quantitativa na Moody’s Analytics e afiliou-se ao Twitter em janeiro para postar previsões do mercado intradiário geradas por seu modelo Nope (Net Options Price Effect). Isso significa o efeito do preço das opções líquidas e rastreia os movimentos relacionados a algo chamado de delta hedge. Se isso é complicado para você, não se preocupe – o FinTwit pode ser um lugar de nerds.
Mas o modelo de Francus era extremamente atual, graças ao que estava acontecendo no Reddit. A multidão do WallStreetBets estava acumulando opções sobre ações como as da GameStop, o que gerou uma espécie de ciclo de alta.
O Nope ajudou a explicar o que estava acontecendo. “Mais pessoas começaram a levar a sério o que eu estava dizendo”, diz Francus. “Porque, sabe, quando uma pessoa de 25 anos pensa, ‘sim, desenvolvi um modelo de negociação intradiário no mercado mais competitivo do mundo’, a maioria das pessoas diria ‘sim, isso é ótimo’.”
Depois da GameStop, ela foi mencionada no Financial Times e entrevistada na Bloomberg TV, para o podcast de finanças Infinite Loops. Francus já estava ativa no Reddit e no Discord, mas a mudança para o aplicativo “Bird” trouxe um público totalmente novo.
“Foi realmente encorajador de maneiras boas e ruins”, ela diz sobre sua experiência no Twitter. “Fica-se para sempre cercado por este ambiente no qual não apenas as pessoas têm muito mais experiência do que você mas se você postar algo, receberá um feedback imediatamente, esteja você certo ou errado.”
Enquanto os seguidores de Francus aumentavam, ela usou a plataforma para promover seu blog de pesquisa. O mundo das finanças começou a notar. Ela ingressou na Moody’s Analytics em julho.
“Antes do Twitter, eu nunca, jamais teria interagido ou me deparado com Lily”, diz o coapresentador da Infinite Loops, Jim O’Shaughnessy, veterano gerente financeiro. “O que adoro no Twitter é que há, sim, muito barulho – e acho que é preciso ser muito agressivo na forma como se faz a curadoria, – mas há muitos indícios. E vejo esses sinais surgindo cada vez mais.”
Currículo em tempo real
O’Shaughnessy, que se autodescreve como “velho” aos 61 anos, recentemente contratou Vatsal Kaushik, de Bangalore, para trabalhar no podcast, depois de segui-lo no Twitter por nove meses.
Jamie Catherwood, associado da O’Shaughnessy Asset Management, que ingressou na empresa em março de 2019, também foi encontrado no site. “Uma das coisas que considero brilhante sobre o Twitter é que ele está se tornando um currículo em tempo real, um portfólio”, diz O’Shaughnessy.
Essa foi a experiência de Caitlin Cook, 23 anos, que ingressou na Onramp Invest, uma plataforma de criptoativos para consultores financeiros, depois de trocar mensagens com o CEO Tyrone Ross, no Twitter. Durante a troca de mensagens, Caitlin pediu para ser lembrada quando a Onramp fosse contratar. Foi o que aconteceu e Cook conseguiu um emprego como chefe de comunidade da empresa.
Cook agora é vice-presidente de operações da Onramp Academy. “Aprendi mais no Twitter do que em qualquer outro lugar, provavelmente, mais do que na faculdade”, diz Cook. “Mas a parte de rede é a mais importante para mim.”
O FinTwit, como o Reddit, tem sua parcela de autodenominados “posts de baboseiras” e “posts das perdas” – pessoas se gabando de quanto dinheiro queimaram em negociações arriscadas. Mulheres e pessoas negras muitas vezes enfrentam assédio no Twitter, e no FinTwit não é exceção. Mas a plataforma tem algumas vantagens.
“É muito mais fácil encontrar o que você procura, por meio de hashtags, grupos e listas”, diz Callie Cox, estrategista de investimentos sênior da Ally Invest. “No Twitter também é mais fácil de selecionar o que você está procurando, porque muitas contas não são anônimas e incentiva o indivíduo a não ser anônimo – é possível verificar tudo.”
O fato de a maioria dos usuários do FinTwit postar com seus nomes reais ajuda a criar uma atmosfera menos grosseira do que em outros sites. “Acho que, em geral, há uma redução na toxicidade de contas que não são anônimas, porque existe o risco de prejuízo na carreira, especialmente em finanças. As pessoas tendem a jogar melhor”, diz Francus.
Mas uma das partes mais divertidas e misteriosas do FinTwit é a qualidade de suas contas anônimas. Além de relatos de memes extremamente populares, como “Ramp Capital” e “Dr. Parik Patel, BA, CFA, ACCA Esq.” – cada uma com mais de 250.000 seguidores –, é uma população de contas com pseudônimos administradas por investidores profissionais.
Eles podem ser silenciados pelas políticas de mídia social da própria empresa ou se preocuparem em prejudicar suas carreiras com alguma postagem descuidada ou talvez muito honesta.
“Há realmente uma quantidade enorme de alfas na plataforma”, diz Kyla Scanlon, uma jovem de 24 anos de Los Angeles, com um perfil crescente no FinTwit. (“Alfa” é o termo do mercado financeiro para a geração de retorno acima do mercado.)
“Se a pessoa conseguir juntar os dois, conectar os pontos, ficará tipo, ‘meu Deus, não posso acreditar que esta conta tão pequena ficou tão grande, ficou famosa. Quando se olha para a qualidade dos tuítes, geralmente é super top de linha. As melhores contas provavelmente têm menos de 2.000 seguidores”, afirma.
Powell, Wood, Musk e Dorsey
Scanlon, como Francus, experimentou em primeira mão o efeito instantâneo que o Twitter pode ter na influência sobre alguém. Kyla, trader e blogueira de finanças desde a faculdade, começou a postar clipes curtos no TikTok explicando coisas como escassez de madeira e finanças descentralizadas.
No final de março, postou um vídeo de 57 segundos sobre a explosão da Archegos Capital, no Twitter, que recebeu mais de 5.000 curtidas. Uma semana depois, com um vídeo sobre uma casa de frios em Nova Jersey com um valor de mercado de US$ 100 milhões, viu seu número de seguidores aumentar desde então.
Em um vídeo recente, Scanlon representa, com a habilidade de uma artista do improviso, uma conversa entre o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, a gestora celebridade e fã do bitcoin Cathie Wood, Elon Musk, da Tesla, e o CEO do Twitter, Jack Dorsey.
“O bitcoin é uma proteção contra todas as flações”, diz a versão de Scanlon de Cathie Wood. “Inflação, deflação, estagflação.” (Para qualquer um que segue Wood, essa é uma piada bastante acertada.) Ao interpretar Dorsey, ela prende o cabelo na frente do queixo para imitar sua barba desalinhada.
Não são apenas piadas. A promoção de seu trabalho no Twitter ajudou a chamar a atenção para o boletim informativo Substack da Scanlon, em que ela desconstrói tópicos financeiros com todos os detalhes e a sofisticação que um vídeo de um minuto pode permitir. Essas peças incluem uma análise do negócio das lojas de “um dólar”, um informativo sobre o mercado de recompra reversa e uma reflexão sobre o papel da cultura do meme no aumento das avaliações das ações.
Mas o sucesso de Scanlon no Twitter e no TikTok também trouxe um grau de atenção indesejada, seja algum homem que envia mensagens diretas para ela com atualizações sobre seu dia ou ameaças de perseguidores.
“Especialmente porque estou lá com minha voz e meu rosto, as pessoas acham que me conhecem muito mais do que pensam”, diz ela. “E porque, é claro, estou lá fazendo palhaçada com meus esquetes, as pessoas sentem ainda mais espaço, eu acho, para me menosprezar.”
Mas o Twitter é inegavelmente uma ferramenta poderosa, diz Scanlon, e ela tem o hábito de apenas seguir pessoas que fornecem análises aprofundadas: “Pessoas que levam o assunto a sério mas também se divertem com isso”.