‘O cara coloca nota de R$ 200 na bunda imagina com Bitcoin’, diz ex-presidente do Banco Central sobre lavagem de dinheiro

Ex-presidente do Banco Central afirma que Bitcoin não muda nada no sistema financeiro e que se as empresas não se preocuparem com lavagem de dinheiro elas serão eliminadas

O ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, declarou que o que preocupa os reguladores mundiais no que se refere as criptomoedas é a possibilidade de seu uso para lavagem de dinheiro.

Desta forma, segundo declarou, em live promovida pela Exame durante o evento “Future of Money”, para Franco os criptoativos não são uma revolução financeira global, mas um “estudo” interessante, assim como o M-Pesa no Quênia, que nasceu antes das criptomoedas, e outras iniciativas no mundo.

Porém, para além destes “estudos” e “testes” de um dinheiro digital que possa ser transacionado “sem fronteiras”, o que preocupa os reguladores é seu uso para atividades ilícitas.

“Parece que virou uma aventura libertária fazer comércio de coisas ilegais com pagamentos cujo trânsito é invisível. Veja, a gente está num ambiente em que a nota de R$ 200 já é um problema, enfim, o pessoal ponhe na cueca, e vamos ter 1 bitcoin valendo US$ 11 mil e isso não é problema para as autoridades preocupadas com lavagem de dinheiro, claro que é!”, disse.

Desta forma, segundo Franco, se o sistema em torno dos criptoativos não conseguir lidar com estas questões, em determinado momento, ele será penalizado.

“E se o sistema de cripto não for capaz de lidar com lavagem de dinheiro, desculpe mas não vai rolar, nunca vai ter aceitação do mundo regulado e assim a coisa não vai crescer direito vai ficar sempre nessa coisinha ai meio alternativa torta.”, destacou.

Bitcoin não foi feito para ser vendido em exchange

Além disso, segundo Franco que foi um dos responsáveis pela implantação do plano real, os hackers que fazem sequestro de dados com pagamentos em criptomoedas também não ajudam muito os reguladores achar que daí vai nascer alguma coisa revolucionária no sistema monetário.

Franco também destacou que a discussão sobre se o Bitcoin é ou não moeda é apenas uma discussão “estética” e sem qualquer importância.

“A discussão se o bitcoin serve ou não como moeda é uma discussão esteticamente interessante que pode nos ajudar a entender melhor conceitualmente o que é a coisa e o que a coisa acaba sendo que é diferente do que o que os criadores imaginaram que a coisa fosse ser e o que está acontecendo é diferente do que acredito eles imaginaram”, disse.

Assim, nesta linha, Franco destacou que o Bitcoin não foi feito para ser um instrumento especulativo e tampouco para ser comercializado em exchanges que acabam lesando seus usuários por falta de segurança.

“Outra coisa, exchanges são corretoras, bolsas de uma coisa que não foi feita para ter corretor, então muitas pessoas que estão sendo lesadas nestes ambientes tanto em coisas menos convencionais como desfalques, como em coisas mais convencionais como hackeamentos”, afirmou.

Pouco importa quem é ‘sakamoto’

Rindo e em tom sarcástico, o ex-presidente do BC declarou que para os reguladores pouco importa quem é ‘sakamoto’, (em referência ao criador do Bitcoin, Satoshi Nakamoto) ou a ideologia dos cypherpunks.

Desta forma, segundo ele, assim como o festival de Woodstock os ideais libertários são apenas uma “experiência” e não vão mudar ou revolucionar nada.

“É claro que é interessante e tal, mas a vida segue. Woodstock vamos entender, vai sair o disco o filme mas isso não vai transformar o mundo (…) Tem muitas outras coisas no mundo das criptomoeda, quem é Sakamoto, onde está, uhhh, ok, toda a ideologia, estudo sociológicos sobre o bitcoin, dizendo que mais interessante que o Bitcoin como moeda é o Bitcoin como fenômeno social, libertário, cypherpunks, … uh, ok, para os bancos centrais isso, todavia, não tem importância como não tem importância outros excessos como Dogecoin ou que o Nicolas maduro cria uma criptomoeda chamada Petro, nesse caso é problema das autoridades da Venezuela”, afirmou.

Libra

Assim, segundo Franco, as criptomoedas, tirando as questões ligadas a lavagem de dinheiro e criminalidade não “tiraram o sono” dos reguladores, porém, o projeto Libra do Facebook foi o que realmente chamou a atenção dos Bancos Centrais para as criptomoedas.

“Agora um desenvolvimento superinteressante no mundo das criptomoedas que esse sim afetou de verdade a percepção que os bancos centrais tinha do assunto foi o que fez o Facebook com a Libra. O que eles perceberam ali que se é tão fácil qualquer empresa criar a sua própria moeda que, no caso do Facebook, a Libra do ponto de vista de sua arquitetura é interessante em todo conceito”, declarou.

Nesta linha, o ex-presidente destacou que os reguladores foram surpreendidos com um questionamento importante feito pelo Facebook com o projeto, referente a dificuldade para fazer pagamentos e transferências de valores entre as fronteiras.

“Os proponentes do Libra fizeram uma pergunta importante, que é porque mandar dinheiro para um amigo não pode ser tão fácil quanto mandar uma foto pelo celular. Porque não é assim tão fácil para mandar dinheiro? E os bancos centrais não tiveram resposta. É unânime no círculo dos bancos centrais que a Libra mexeu com a cabeça de todos”, afirmou.

Foi então que, segundo ele, começou o movimento em torno das Moedas Digitais de Banco Centrais, CBDC que também foi impulsionado pelo projeto da China.

“O Facebook assustou o mundo com o seu mecanismo. Só em transferências estamos falando de um negócio de US$ 700 bilhões anuais (…) Então começou um movimento de que, bom se não vamos fazer isso, então não vamos fazer com o Facebook que a gente não confia. Vamos fazer com alguém que a gente confia, daí veio esse boom de CBDC”, disse.

LEIA MAIS

Você pode gostar...