Thales Freitas, CEO da Bitso: Vozes Brasileiras na Web3
Com uma década de existência e mais de 8 milhões de usuários, a Bitso tem se consolidado cada vez mais no Brasil e no mundo. Atualmente a taxa composta de crescimento anual da corretora cripto está próxima a 75%.
Desde sua criação em 2014, a exchange já passou por três halvings do Bitcoin, invernos cripto e viu avanços regulatórios. Atualmente trabalha para impulsionar de forma responsável a indústria cripto.
Em 2014, o Bitcoin tinha apenas cinco anos e seu preço variava entre 310 e 953 dólares. Se uma pessoa tivesse comprado um Bitcoin pelo preço mais baixo de 310 dólares e guardado por dez anos, seu investimento teria crescido 21.797%.
Se tivesse comprado por exemplo, pelo preço mais alto de 953 dólares, o crescimento seria de 7.090%. Para o Ether (ETH), lançado em 2014 a 2 dólares, o aumento até 2024 seria de impressionantes 187.808%.
Foi nesse cenário que a Bitso nasceu, com a missão de inovar no campo das finanças digitais e tornar as criptomoedas úteis. Em uma década, a indústria cripto cresceu na velocidade da luz e hoje o mundo conhece – mesmo que superficialmente, por exemplo, o Bitcoin.
Brasil avança na tokenização da economia
Nós conversamos com Thales Freitas, CEO da Bitso Brasil que acumula mais de 15 anos de experiência nas áreas de finanças, tecnologia B2B e fintech. Formado em Economia pelo IBMEC, o executivo atuou em cargos de liderança e passou por empresas como Citibank e HSBC, atuando em diversos países da América Latina e nos Estados Unidos.
Thales assumiu o cargo de CEO da Bitso no Brasil em abril de 2022, com o objetivo de ampliar a usabilidade, acessibilidade e segurança dos criptoativos e acelerar a inclusão financeira dos brasileiros. Vamos entender mais sobre o momento atual da Bitso, os desafios e conquistas da última década.
Como você avalia a posição do Brasil na adoção da tokenização de ativos do mundo real e de que forma essa liderança pode beneficiar a economia do país?
Eu acredito que com a evolução da Web3, a tendência é vermos cada vez mais ativos reais sendo tokenizados, pois dentre as inúmeras vantagens, está a capacidade de promover uma maior inclusão e acessibilidade das pessoas a produtos e serviços diferenciados. Imagina, por exemplo, você poder tokenizar um imóvel e dividi-lo em várias partes, abrindo a possibilidade de se adquirir frações do bem. Ou no caso de bens intangíveis, como direitos autorais, e até produtos financeiros como títulos de renda fixa, empréstimos etc.
Esse é um mercado em ascensão em todo mundo e o Brasil apresenta um ambiente muito propício para liderar essa tendência, devido a alguns aspectos: o Drex que tende a mobilizar mais a colaboração e inclusão dos bancos na blockchain; a regulação, que aumenta a segurança e a proteção dos usuários, estimulando a adoção em massa da tecnologia; e o próprio perfil entusiasta do brasileiro para novas tecnologias e a força da comunidade cripto local.
Uso da IA na indústria cripto
Como você vê o impacto da IA na indústria cripto, mercado financeiro brasileiro e latino-americano?
A IA tem um papel importante na transformação digital, possibilitando certamente a automação de processos, aumentando a segurança e eficiência das transações com insights valiosos para tomada de decisões. No mercado financeiro, a integração da IA pode aprimorar a infraestrutura de pagamentos e proporcionar melhores serviços aos clientes.
Há um enorme potencial em usá-la como ferramenta para ajudar as instituições a criar produtos customizados aos usuários, aumentando a inclusão e o acesso dos cidadãos a serviços financeiros, que ainda representa uma lacuna que precisa ser preenchida na América Latina.
Outras aplicações importantes da IA são para ajudar na detecção de fraudes, prevenção à lavagem de dinheiro e na sugestão e educação sobre novos ativos, destacou o CEO da Bitso.
Adoção cripto no Brasil e no mundo
O que falta para maior adoção real de cripto no Brasil? Latam e EUA?
Acredito que os maiores desafios ainda girem em torno da educação e regulação. Qualquer nova tecnologia gera uma certa insegurança no início. E por isso, é tão importante que as empresas do setor se dediquem a educar os usuários, provendo informações para que o processo de investimento seja cada vez mais transparente e claro.
E a regulação é um processo natural e necessário para aumentar a proteção ao investidor e garantir que somente empresas responsáveis, seguras e confiáveis atuem no mercado. Um aspecto importante é em relação a regulações de stablecoins que podem ajudar a aumentar a eficiência e transparência, e diminuir os custos das transferências internacionais.
Aliás, à medida que mais pessoas e empresas reconhecem os benefícios das stablecoins, espera-se que a sua utilização em transações transfronteiriças aumente significativamente. A regulação, assim como a integração com os sistemas de pagamento e a infraestrutura financeira existentes, serão fundamentais para impulsionar ainda mais a adoção e tornar as stablecoins mais acessíveis a um público mais amplo, detalha Thales.
A tokenização de ativos do mundo real (RWA) promete transformar o acesso a investimentos. Como você enxerga essa tecnologia facilitando a inclusão financeira para a população brasileira?
Nos últimos anos, o brasileiro vem adotando hábitos cada vez mais digitais, principalmente nas finanças. Podemos ver, por exemplo, o fenômeno do PIX que surgiu como uma opção a muitos brasileiros que não tinham acesso a serviços financeiros e hoje é o principal método de pagamentos do país.
Eu sou muito otimista em relação aos benefícios da tokenização para a população. Criar versões digitais e fracionadas dos ativos tornará mais fácil, rápida, acessível e transparente a negociação de bens como imóveis e carros, e serviços como investimentos e empréstimos. Sem dúvida, há um grande potencial para aumentar a inclusão financeira no país.
Brasil enfrenta desafios regulatórios
Quais desafios regulatórios e tecnológicos o Brasil enfrenta na integração de blockchain e IA no mercado financeiro, e quais passos estão sendo dados para superá-los?
Os desafios incluem sobretudo, a necessidade de regulamentos claros e abrangentes, além da criação de infraestrutura tecnológica robusta.
Atualmente, tanto o uso de blockchain para aplicações financeiras, quanto o uso de IA dentro desse ecossistema estão passando por extensos debates no Brasil e a Bitso está ativa na colaboração com autoridades e reguladores para ajudar a moldar políticas que facilitem a integração dessas tecnologias, promovendo um ambiente seguro e propício para a inovação.
Na sua opinião, quais setores da economia brasileira estão mais preparados para se beneficiar da tokenização de ativos?
As possibilidades são inúmeras, mas vejo um grande potencial nos setores imobiliário, serviços financeiros e de propriedade intelectual.
Drex do Brasil para o mundo
Sobre a CBDC brasileira – como a Bitso vê a iniciativa do BC e como pretende se integrar nesse ecossistema?
Vemos a iniciativa da CBDC como um passo positivo para a modernização do sistema financeiro e um complemento a ativos como as stablecoins, e o Banco Central tem feito um bom trabalho no desenvolvimento do DREX.
A Bitso tem um papel importante em criar uma ponte entre o mercado financeiro tradicional e o mercado cripto. Acreditamos que ferramentas como as CBDCs promovem a maior integração e colaboração entre os setores. Além de ajudar redefinir a forma como as pessoas interagem e se beneficiam dos serviços financeiros, marcando assim um passo significativo em direção à aceitação generalizada de DeFi.
Também é uma medida importante para aumentar a eficiência e diminuir custos dos pagamentos transfronteiriços, habilitando benefícios como a interoperabilidade e a liquidação em tempo real, e provendo maior transparência.
Bitso tem mais de 8 milhões de clientes
Quantos clientes a Bitso tem hoje e quem são (por exemplo – a maioria são brasileiros e latino-americanos, classes B e C)? É possível falar em números custodiados por vocês?
Atualmente, a Bitso possui mais de 8 milhões de usuários e tem operações no México, Brasil, Argentina e Colômbia.
Em relação aos clientes institucionais, mais de 1.700 empresas já se beneficiaram da tecnologia de Bitso Business, que é a provedora de infraestrutura de pagamentos e permite acima de tudo que empresas globais, e seus clientes, paguem e recebam em moeda local e movam dinheiro entre países.
O volume global anualizado de transações da Bitso Business cresceu 60% em 2023 e fomos responsáveis por processar mais de US$ 4,3 bilhões em transações no corredor entre EUA e México, que já é considerado o maior canal de remessas do mundo.
Ações para impulsionar indústria cripto brasileira
Quais as ações da Bitso para impulsionar conhecimento e adoção da indústria cripto no Brasil?
Para a Bitso, educação sempre foi prioridade.
Usamos todos os nossos canais oficiais para informar nossos clientes e ajudá-los a não cair em golpes. Através de linguagem simples e acessível, a exchange compartilha conteúdo focado em segurança e informação através de diversos canais, como redes sociais, blog, comunicação direta aos clientes por e-mail e pelo app da Bitso.
Além desses canais de informação, auxiliamos nossos clientes no momento em que estão fazendo transações, através de mensagens para que eles tenham certeza de que não estão sendo induzidos por outra pessoa a fazer a transação.
Segurança, regulamentação e diversificação são fundamentais para avanço cripto no Brasil
O que falta para melhorar o setor?
Cripto tem o poder de revolucionar as finanças, assim como a Internet revolucionou as comunicações, e ainda mais rápido, explica Thales. Vejo aliás três grandes áreas de oportunidade para a expansão e maturidade do setor:
- Diversificação dos casos de uso: cripto tem sido usado no Brasil por um público cada vez mais diverso em termos de gênero, classe social, região. E para usos cada vez mais distintos: investimento, pagamento, rendimento, reserva de valor, proteção contra a inflação e desvalorização da moeda etc.
- Segurança e regulação: os eventos que vimos recentemente na indústria cripto mostraram que somente as empresas que adotarem os mais altos padrões de segurança, transparência e compliance sobreviverão.
- Empresas usando a tecnologia blockchain e confiando em provedores como Bitso Business para construir uma infraestrutura de pagamentos moderna que as habilite a expandir seu negócio a novos mercados, podendo fazer e receber pagamentos de forma regulada em moeda local e realizando pagamentos internacionais de forma mais rápida, mais barata e mais transparente.
E os próximos desafios para os mercados tradicionais e criptoativos?
Alguns desafios incluem a integração de tecnologias emergentes como IA e blockchain no mercado financeiro, superação de barreiras regulatórias e a necessidade de maior educação financeira para a população e de maior conhecimento sobre a tecnologia blockchain para as empresas.
As empresas estão cada vez mais inovadoras, mas a forma como movimentam o dinheiro ainda é tradicional. Por isso é importante que estejam abertas a novas alternativas, que lhes permitam movimentar dinheiro de forma mais eficiente e regulada.
Desse modo, estamos comprometidos em colaborar com autoridades e reguladores para criar um ambiente seguro que proteja os investidores e promova a inovação, concluí.
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