Servidor público é fisgado por youtuber, investe em criptomoedas e perde tudo em suposto golpe
O Brasil é um reconhecido celeiro de golpes financeiros, mas a taxa de juros baixa aliada a um oceano de dicas duvidosas no YouTube pode ajudar a popularizar possíveis fraudes – inclusive com criptomoedas. O caso de um servidor público que apostou tudo em um investimento altamente suspeito ilustra a situação.
Gustavo, servidor público em Curitiba, tinha um dinheiro guardado e decidiu que era hora de investir pela primeira vez. Em contato com o seu banco, descobriu que os juros baixos haviam deixado a renda fixa menos atrativa. Foi então que decidiu buscar por alternativas por conta própria.
Em julho de 2019, ele descobriu uma empresa que parecia combinar características interessantes de investimento. O suposto negócio era a Midas Trend, que alegava aliar arbitragem automatizada de mercados com criptomoedas.
Na época, vale lembrar, o Bitcoin havia acabado de disparar quase 150%. De cerca de US$ 5.200 em maio, havia chegado perto de US$ 13.000 no final de junho. A aposta, portanto, parecia tentadora.
Li muito sobre moedas que valiam centavos, e depois tinham um alto rendimento. E a arbitragem também me parecia interessante. Pensei: vamos juntar tudo aí, e buscar esse investimento.
Gustavo decidiu, então, investir R$ 14 mil na Midas Trend em outubro de 2019. Ele entrou por meio de um link de indicação do canal Sharkão no YouTube, que tem mais de 120 mil inscritos. Ativo até hoje, o youtuber costuma postar vídeos ostentando supostas conquistas financeiras, com títulos como “Meu novo carrod e 600 mil reais”.
Depois eu descobri que esse pessoal [youtubers] recebe dinheiro dessas empresas para fazer propaganda. Eu não estava interessado no marketing multinível deles [Midas Trend], mas entrei pelo link do Sharkão sim.
Servidor público perde tudo na Midas Trend
Gustavo foi mais uma das pessoas que perderam dinehiro na Midas Trend. A empresa, que é investigada pela polícia na Bahia, teria feito milhares de vítimas espalhadas por todo o Brasil.
A suspeita é de que o dinheiro dos investidores nunca tenha, de fato, sido usado no mercado de criptomoedas. Fontes ouvidas pelo BeInCrypto muito próximas do projeto relatam que nunca ninguém teria visto os supostos robôs em ação.
Os rendimentos pagos ao longo de 2019, portanto, teriam sido gerados pela entrada de novas pessoas, o que configuraria pirâmide financeira. A Midas Trend encerrou saques no final de 2019 e parou de pagar os supostos rendimentos.
Este ano, a empresa lançou um segundo investimento apontado como uma nova pirâmide. Além disso, estreou uma criptomoeda própria, assim como a Genbit e a Atlas Quantum, também acusadas de fraude.
Após perder criptomoedas, vítima espera reaver investimento na Justiça
Após ler uma matéria do BeInCrypto sobre o caso, o servidor público decidiu entrar com uma ação judicial. Na última semana, ele teve uma decisão favorável: a justiça concedeu a tutela antecipada e ordenou o arresto dos valores nas contas da Midas.
O arresto é o bloqueio antes mesmo da citação dos acusados. O advogado da vítima, Ricardo Kassin, da Parodi Kassin Advogados, ressalta que a medida pode ser a única chance de obter o dinheiro de volta em casos como esse.
A importância do arresto em tutela antecipada, em casos onde há fortes indícios de fraude financeira, é fundamental, porque pode ser a única chance que o credor possui, de garantir o resultado útil do processo.
Segundo ele, há boas chances de o judiciário efetivar o bloqueio porque a Midas Trend ainda está em funcionamento. Além disso, está no horizonte o possível bloqueio de outros bens de Deivanir Vieira Santos e seu irmão, incluindo veículos e imóveis.
Se de fato conseguir reaver seu investimento, Gustavo diz que planeja investir novamente, dessa vez com uma empresa segura. Ele diz que não desistiu das criptomoedas.
Leio muito sobre criptomoedas. A blockchain será o futuro.
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