Greve dos atores nos EUA termina com acordo sobre IA, mas Hollywood continua dividida

A greve do sindicato dos atores de Hollywood, que durou 118 dias, terminou com um acordo sobre o uso de IA, embora nem todos os profissionais envolvidos no setor considerem a medida correta.

O sindicato de atores de Hollywood – Screen Actors Guild-American Federation of Television and Radio Artists (SAG-AFTRA) – encerrou sua greve em 9 de novembro, após 118 dias de paralisação, com novos acordos sobre diversas questões, incluindo o uso de inteligência artificial (IA) em produções audiovisuais. 

O sindicato divulgou um resumo do acordo fechado com os estúdios, que inclui diretrizes sobre e IA e um panfleto digital explicando as regras de IA acordadas.

Panfleto digital de diretrizes de IA do SAG-AFTRA. Fonte: SAG-AFTRA

Espera-se que o acordo sobre IA entre em vigor 90 dias após a sua ratificação. Os termos incluem a definição de IA em termos industriais, a replicação digital de artistas, elenco de apoio e figuração, alterações digitais e o estabelecimento de reuniões semestrais entre o sindicato e os produtores sobre o uso de IA generativa.

De acordo com uma reportagem da Rolling Stone, os termos foram aprovados por 86% da diretoria do SAG-AFTRA e foi enviado aos membros do sindicato em 12 de novembro, abrindo um período de votação de 21 dias.

Um novo tipo de ativo digital

O acordo define e estabelece a cobertura para a criação, o uso e a alteração de “réplicas digitais” de artistas. Essas réplicas digitais são cópias da voz ou da imagem de um artista para “retratar o artista em imagens ou trilha sonora nas quais o artista não tenha realmente atuado.”

Essas “réplicas digitais” são categorizadas entre aquelas feitas pelos grandes estúdios ou por produtoras independentes. Os próprios atores negociarão as compensações que julgarem apropriadas por essas últimas. No entanto, aqueles empregados diretamente por estúdios serão remunderados pela criação e uso de suas réplicas de IA e seu uso em quaisquer projetos adicionais ou outras mídias, além dos produtos derivados comuns.

O acordo também estabelece a definição para um novo tipo de ator chamado “artista sintético.” De acordo com os termos do acordo, esse é um “ativo criado digitalmente” que “tem a intenção de criar, e cria, a impressão clara de que o ativo é um artista natural que não é reconhecível como qualquer artista natural identificável.”

Quando se trata da replicação de atores de fundo, o acordo parece protegê-los de possíveis substituições, declarando:

“As réplicas não devem ser usadas para atender à figuração. As réplicas não serão usadas para evitar a contratação de figurantes.”

O acordo enfatiza que o consentimento explícito e “visível” do ator, principal ou secundário, é necessário durante o processo de replicação, tanto para seu uso na produção para a qual foi expressamente contratado quanto para qualquer uso futuro.

Isso também inclui o consentimento para alterações digitais do desempenho do artista em “material gravado anteriormente, a menos que ele permaneça substancialmente como foi escrito, executado e/ou gravado”, e os produtores devem fornecer uma “descrição razoavelmente específica” das alterações que gostariam de fazer. 

Para os figurantes, o acordo diz que se “os movimentos labiais ou faciais forem alterados para fazer parecer que um ator de fundo está falando, e o diálogo for adicionado, eles serão elevados à categoria de elenco de apoio.

Reações contraditórias em Hollywood

As reações dos membros da indústria ao acordo foram variadas e se alternam entre elogios e entusiasmo para seguir em frente, enquanto outros acreditam que mais esforços poderiam ter sido feitos para proteger os atores. 

A diretora e produtora Justine Bateman expressou seu desacordo com a decisão nas redes sociais. Ela chamou as permissões de uso de IA de “violadoras” e disse que estava decepcionada com a liderança do SAG-AFTRA.

Eu disse desde o início que o uso da #IA generativa destruirá a estrutura desse negócio. Quero que os atores e a equipe tenham respeito próprio o suficiente para virar a mesa e dar uma surra nos CEOs quando isso acontecer. Eles vão deixar você sem nada a perder. 4/

— Justine Bateman (@JustineBateman)

Por outro lado, o ator Jason Winston George, membro do comitê de negociação do sindicato, foi ao X (antigo Twitter) para defender o acordo.

“Não só é irrealista e impossível tentar conter a maré quando se trata de avanços da tecnologia, como essas novas proteções do SAG-AFTRA permitem que você surfe a onda da tecnologia de IA quando se trata do uso de seu rosto e voz.”

Ele disse que se uma empresa quiser lhe pagar uma taxa para usar seu duplo de IA enquanto você “fica em casa – ou melhor ainda, para trabalhar em outro emprego”, isso é positivo.

Essas novas proteções lhe oferecem garantias de #consentimento, #compensação e informações completas

Os produtores devem contratá-lo para qualquer filme ou episódio em que sua “réplica digital” seja usada

Os produtores devem obter seu consentimento e fornecer uma descrição de como usarão sua réplica digital

— Jason Winston George (@JasonWGeorge)

No entanto, ele também disse que ainda pode haver “uma luta algum dia contra os Fakes Sintéticos – personagens completamente gerados por IA que não se parecem com nenhum artista humano.”

Ao lado de Bateman, o ator Rainn Wilson, famoso por seu papel na sitcom The Office, zombou do acordo, perguntando o que aconteceria se os atores discordassem do acordo. Eles serão substituídos por atores gerados por IA?, perguntou Wilson.

A ideia de uma “melhor, última e definitiva oferta” dos estúdios/streamers é histérica. Já ouvimos essas palavras muitas vezes. Então, se os atores não aceitarem a oferta, eles farão apenas notícias e esportes e/ou fecharão as portas? Ou usarão atores com IA?

— RainnWilson (@rainnwilson)

O fim da greve do SAG-AFTRA ocorre cerca de um mês e meio após o término da greve do Sindicato dos Roteiristas dos EUA (WGA) em 24 de setembro. A greve do WGA também estava negociando novas práticas para o setor. O uso de IA em salas dos roteiristas era um ponto de negociação fundamental.

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