Reunião discute futuro do Ethereum

Notícias do Bitcoin Brasil

Uma reunião de desenvolvedores do Ethereum aconteceu hoje, 24/08, contando com a participação de mineradores, investidores e outros membros chave da rede. O objetivo foi discutir três pautas chave para o futuro do Ethereum, e como ele funciona. Em outubro, estava previsto um upgrade geral na rede, que inclui alguns itens que já eram consenso, mas outros que devem ser mais profundamente discutidos.

As três pautas bomba são: a “difficulty bomb”, emissão de ethers e a resistência a mineração ASIC. A primeira é referente a uma característica do blockchain do Ethereum – em seu código, a dificuldade de mineração aumenta aos poucos, mas sempre, o que quer dizer que eventualmente congelaria a rede. A segunda é referente a um teto de emissão para os ethers. Ao contrário do Bitcoin, que tem um limite de emissão de 21.000.000 de unidades, a emissão de Ether é teoricamente infinita. A terceira é se a mineração deve ser resistente às máquinas especializadas, que favorecem os grandes mineradores, e aumentam a concentração da rede.

A “bomba da dificuldade”

O código, que é um passo na mudança de consenso da rede, de proof-of-work (PoW) para proof-of-stake (PoS), será reativado no começo de 2019. Como o PoS não está à vista, a implementação deve ser adiada. Esse foi um dos consensos da reunião, mas várias EIP (Ethereum Improvement Proposals) estão em aberto na rede, cada uma propondo uma forma de adiar a bomba.

Lembrando que a bomba é um software que faz com que a mineração de Ether seja cada vez mais difícil, até se tornar impossível.

Trata-se de um movimento que é difícil para todos os participantes. O adiamento fará com que os blocos fiquem mais fáceis de minerar. Para que a rede mantenha seu ritmo de aprovação de blocos, o hashrate deve ser diminuído. Para que isso aconteça, os participantes estão divididos entre proibir a mineração usando ASICs (máquinas profissionais especializadas) e diminuir a recompensa por bloco. Ambas as medidas afastariam mineradores, reduzindo o hashrate.

A diminuição das recompensas por bloco foi um assunto delicado na reunião. Os mineradores que participaram, e que representavam quase 50% do hash power da rede, defenderam que a diminuição da recompensa levará a uma redução tão grande de poder de processamento que levaria a um risco aumentado de um ataque 51%.

Por outro lado, um investidor do Ethereum destacou que os mineradores levam quase 6% do suprimento total de Ethers, o que é muito mais do que os 3,8% que os mineradores de Bitcoin levam. Por consequência, os mineradores na rede Ethereum teriam um poder desproporcional.

Separação?

O chefe de comunicações do Ethereum, Hudson Jameson, propôs discutir o assunto de adiar a bomba e da redução da recompensa de forma separada. Os desenvolvedores da rede são contra. Das 4 propostas que falam da bomba, 3 também modificam as regras de mineração.

A EIP 1234 quer adiar a ativação da bomba e reduzir a recompensa de mineração de 3 ETH para 2 ETH. A EIP 1276, por outro lado, quer remover completamente a bomba, e fazer a mesma redução da EIP 1234.

A EIP 1227, queridinha dos mineradores, quer remover a bomba e aumentar a recompensa de 3 para 5 ETH.

A EIP 1240 é a única que apenas quer remover a bomba.

O argumento dos mineradores para apoiar a EIP 1227 é que aumentar a recompensa é pagar por segurança. É verdade que quando mais ETH emitidos, maior a taxa de inflação da rede, e menor o valor dos tokens. Por outro lado, isso atrai mais mineradores, o que aumenta o poder de processamento, e a resistência da rede a ataques.

Emissão de Ethers

Ao contrário do Bitcoin, que tem uma emissão máxima de 21 milhões de unidades, a red Ethereum não tem um limite para a emissão de ethers. Em 1 de Abril de 2018, Vitalik Buterin, um dos fundadores do Ethereum, propôs colocar um teto de emissão em 120.204.432 moedas, ou duas vezes mais do que o oferecido no ICO em 2014.

Apesar de ter sido recebido como piada, o tweet colocou muita gente para pensar. Para os investidores, é uma excelente ideia. Um suprimento máximo cria escassez, que por sua vez leva a maior segurança, e possivelmente a maiores preços.

Por isso mesmo, alguns desenvolvedores são contra a proposta. Para eles, colocar um suprimento máximo iria aproximar o Ether de um investimento especulativo, o que torna mudanças na rede mais difíceis. Além disso, preços maiores poderiam desestimular adoção em massa.

O futuro do Ethereum

Cada um desses pontos está conectado entre si, o que torna a missão de decidir o futuro do Ethereum ainda mais difícil. Além dos três pontos conectados, temos três diferentes grupos políticos, com interesses conflitantes em cada um desses casos.

Muitos investidores da criptomoeda já se posicionaram no Twitter e no Reddit, afirmando que a recompensa atual de 3 ETH por bloco cria uma taxa de inflação muito grande para a rede. Alguns apontam para uma frase de Vitalik Buterin, de 2017, que afirmou que “no futuro próximo, é muito difícil que tenhamos mais de 100 milhões de ethers”. Há pouco tempo passamos dessa quantidade.

Os mineradores enfrentam o desafio de que é cada vez mais difícil competir com máquinas profissionais. Por isso, reduzir ainda mais a recompensa tiraria de vez do mercado os mineradores não profissionais. Aumentar a recompensa poderia ser uma solução, mas também traria maior número de mineradores usando ASICs. Uma solução alternativa seria proibir as ASICs, mas isso, de acordo com os mineradores, pode tornar a rede menos segura, por ficar mais suscetível a ataques 51%.

Desenvolvedores tendem a ver a questão da ASIC de forma ideológica. As criptomoedas foram criadas para ser descentralizadas, com suas transações confirmadas por todos. Por outro lado, uma minoria segue os mineradores que afirmam que as ASICs aumentam a segurança – por serem mais caras, dificultam ataques à rede.

Conciliar os interesses e as subdivisões de cada um desses grupos é muito difícil. O Bitcoin conseguiu fazer isso com muito sucesso até o momento. É verdade que com conflitos, como no caso do Segwit, mas a rede sempre se manteve unida.

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Marco Antongiovanni é Analista de Mercado de Criptomoedas no Mercado Bitcoin. Formado em Administração pela Fundação Getúlio Vargas e cursando Direito na USP. 

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