Relatório sobre o mercado brasileiro de criptomoedas em 2018

Por: Livecoins

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Por Fernando Tancredi / passfolioapp.com – O ano de 2018 não foi como muitos investidores esperavam. O mercado de criptomoedas entrou em uma tendência de baixa, após atingir uma capitalização total (market cap) de mais de US$830bi em janeiro de 2018. Doze meses depois, o market cap total caiu para cerca de US$130bi, impactando negócios no setor e, é claro, o mercado brasileiro.

Para verificar melhor o impacto disso no mercado nacional, analisei os números de 28 exchanges do Brasil e compilei os resultados neste artigo, onde irei evidenciar curiosidades e tendências do mercado brasileiro de criptomoedas em 2018. Como eu, aposto que o leitor poderá se surpreender com as respostas para algumas destas perguntas:

Quantos trades os brasileiros fizeram no último ano?

Qual foi a exchange brasileira com maior fatia do mercado (market share)?

Quantas novas exchanges surgiram nos últimos meses?

Ao final do artigo, você poderá conferir como a pesquisa foi feita e, inclusive, ter acesso aos dados coletados.‍

Visão geral do mercado de criptomoedas

Pesquisei dados de 35 exchanges brasileiras e, devido a disponibilidade dos mesmos, analisei informações de 28 exchanges no total. A partir dos dados analisados, pode-se verificar que o volume total negociado no mercado de criptomoedas brasileiro em 2018 foi de R$6.79bi, decaindo cerca de 10% por mês desde janeiro. Comparativamente a 2017, conforme este relatório do bitValor, o volume total caiu cerca de 22%.

Como é possível notar no gráfico abaixo, o volume negociado em janeiro de 2018 foi de R$1.3bi, caindo para R$383mi em dezembro – uma variação de -71,8%. Destacam-se as quedas dos meses de fevereiro e março, com variações de -25,5% e -39,9%, respectivamente.

Em Bitcoin, a variação não foi tão acentuada. Com a queda do preço do Bitcoin, o volume de negociação em termos de BTC caiu cerca de 1,6% ao mês, em média, acumulando um total de 242 mil bitcoins negociados no ano inteiro. Por mês, em média, cerca de 20 mil bitcoins foram negociados no Brasil.

Se compararmos a queda do volume negociado com a queda do preço do Bitcoin, podemos notar uma forte correlação. Como demonstrado no gráfico abaixo, o preço em reais ao final do ano caiu 67,6% em relação ao início, com uma variação mensal média de 9%.

A partir do número de trades das exchanges, pude calcular também o ticket médio – isto é, o valor médio de cada trade – das 4 maiores exchanges. Como podemos verificar na ilustração abaixo, o ticket médio caiu consideravelmente ao longo do ano passado.

Em janeiro, com diversos players institucionais e curiosos de primeira viagem adquirindo seus primeiros bitcoins e loucos para não perderem a oportunidade da próxima alta, o ticket médio estava quase alcançando os R$3 mil. No final do ano, sem o mesmo hype, o valor caiu mais de 40%, atingindo R$1.561.

Market share das exchanges

Das 35 exchanges brasileiras pesquisadas, 23 foram lançadas em 2018. Isso significa que 66% das exchanges de criptomoedas brasileiras têm menos de 1 ano de operação, e algumas apenas alguns meses.

Muitas delas brigam para se manterem nas primeiras posições de rankings de volume de negociação, pois esse pode ser um dos principais indicadores sobre a fatia de mercado que elas possuem – o market share.

Mesmo passando por alguns percalços ao longo do ano, incluindo dias fora do ar e uma migração completa de plataforma, a Foxbit foi a maior exchange em 2018 em termos de volume de Bitcoin negociado em reais. Os primeiros meses do ano realmente fizeram a diferença para ela, que ficou com 32,34% do mercado. Em seguida, Mercado Bitcoin conquistou a 2ª posição, com 25,85% de share; BitcoinTrade ficou em 3º, com 15,73%; Bitcambio em 4º, com 8,08%; e BitcoinToYou em 5º, com 4,89%.

Juntas, as top 5 exchanges do Brasil somaram 87% do volume, evidenciando uma grande concentração de mercado. Em um mercado que tem em seus valores a descentralização, estariam as exchanges de criptomoedas trilhando um caminho semelhante aos bancos?

É interessante notar, nesse aspecto, que a concentração de mercado diminuiu ao longo dos meses, com a chegada de novas exchanges. Especialmente após julho, mês que marcou a migração de plataforma da Foxbit, o market share das 5 maiores exchanges começou a diminuir mais acentuadamente. Em dezembro, esse valor ficou em 71,01%, com destaque para setembro, quando chegou à mínima de 60,61%.

É a partir de julho, também, que o topo do ranking mensal entre as exchanges brasileiras começa a se movimentar mais. Em maio, a BitcoinTrade já demonstrou sinais de crescimento, ultrapassando o Mercado Bitcoin em volume negociado, como ilustrado a seguir:

A partir de julho, a Foxbit começou a perder as primeiras posições para as concorrentes, e foi ultrapassada pelo Mercado Bitcoin, pela BitcoinTrade e pela Bitcambio. Os usuários que não se acostumaram com a nova plataforma acabaram migrando para a concorrência, e os mais saudosos continuaram a operar na sua plataforma antiga através da Bitcambio, com a mesma interface. Por isso, esta subiu posições no ranking a partir do segundo semestre, com destaque para dezembro, quando chegou à 2ª posição.

O gráfico acima evidencia com clareza os movimentos do mercado, com a variação do market share das principais exchanges. Boa parte desses movimentos pode ser também explicada pelo surgimento de novas exchanges em 2018, como já mencionado anteriormente.

Das 23 novas exchanges que surgiram no último ano, 12 foram lançadas no 1º semestre, enquanto 11 surgiram a partir de julho. O gráfico abaixo mostra o aumento no número de exchanges no Brasil, que terminou o ano na marca dos 35:

Esse expressivo aumento – de quase 200% – no número de exchanges brasileiras contrasta com a queda acentuada do volume de negociações do mercado. Embora tenham surgido novas plataformas para possibilitar novatos e experientes investidores a comprarem Bitcoin e outras criptomoedas, o volume negociado caiu.

Isso nos leva a algumas reflexões, que possivelmente só serão respondidas em um próximo relatório anual. O que será de 2019 para as exchanges brasileiras? O ecossistema brasileiro irá continuar se expandindo, mesmo em um mercado em queda? As novas exchanges conseguirão tomar uma fatia do mercado das grandes e consolidadas corretoras?

Metodologia

Minha pesquisa consistiu em coletar dados de volume, preço e números de trades mensais do par BTC/BRLdas principais exchanges brasileiras entre os meses de janeiro e dezembro de 2018. Devido à indisponibilidade de dados históricos de muitas exchanges, foi necessário recorrer a outras plataformas para coleta de informações, e algumas corretoras tiveram de ficar de fora da análise.

Além disso, pelo mesmo motivo, a análise focou apenas nas negociações feitas de Bitcoin, no par BTC/BRL, também porque o volume de negociação de altcoins se mostrou consideravelmente inferior.

Ao todo, 35 exchanges foram pesquisadas e 28 delas foram analisadas, a partir da disponibilidade de dados históricos das mesmas. Em ordem alfabética, as exchanges analisadas foram as seguintes: 3xbit, BitBlue, BitCambio, BitcoinToYou, BitcoinTrade, BitNuvem, BitPreço, Brabex, BrasilBitcoin, Braziliex, BTCBolsa, Coinbene, Coinext, CryptoMKT, e-Juno, FlowBTC, Foxbit, Mercado Bitcoin, Modiax, NewCash, NovaDAX, Omnitrade, Pagcripto, PitaiaTrade, Profitfy, TemBTC, Walltime e XDEX.

As fontes utilizadas para coleta de dados foram:

  1. APIs públicas das exchanges
  2. Gráficos de preço e volume nas plataformas das exchanges
  3. Histórico mensal disponível em portal Bitcoin
  4. Histórico mensal disponível no Cointimes Report

Assim, caso as fontes de 1 a 4 não estivessem disponíveis para determinada exchange, ela não foi incluída no relatório.

Vale ressaltar, também, que no caso de uma determinada exchange não divulgar dados de volume em reais, o mesmo foi estimado com base no ticket médio das 4 maiores exchanges. Por um lado, isso desconsidera o fato de que algumas exchanges podem ter um ticket médio superior – como em casos de exchanges que fazem operações OTC na plataforma -, e essa foi uma limitação da pesquisa.

As exchanges que tiveram o número de trades e o volume em reais estimados com base no volume de BTC foram: 3xbit, Coinbene, Coinext, CryptoMKT, FlowBTC, NewCash, Omnitrade e XDEX. Para os dados de preços, por sua vez, foram utilizadas as cotações de abertura do período.

Você pode conferir todos os dados coletados para essa pesquisa neste link.

Fique à vontade para compartilhar os resultados dessa pesquisa com os devidos créditos. Se você quiser compartilhar um infográfico completo com todos os resultados, basta clicar no post abaixo:

 

Este relatório foi publicado originalmente por Fernando Tancredi no site passfolioapp.com. Reproduzido aqui com a devida autorização do autor.

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