‘Geladeira fazendo compra sozinha’: relatório revela diferentes possibilidades e ameaças do Real Digital

CBDC brasileira ganhou destaque no relatório da empresa de consultoria Accenture, já que o Real Digital avança e os casos de uso também.

O título que abre esta publicação pode parecer estranho, mas não é. Obviamente, a imagem de uma geladeira empurrando um carrinho de compras é esdrúxula e até cômica, mas não é necessariamente isso que diz o relatório sobre as CBDCs (moedas digitais emitidas pelos bancos centrais) divulgado recentemente pela Accenture, uma “empresa global de serviços profissionais, com liderança nas capacidades de digital, cloud e segurança da informação.” 

O documento de 27 páginas apresenta diversos parâmetros relacionados às transformações que as CBDC devem representar na vida das pessoas e no mercado, entre elas o Real Digital, a CBDC brasileira que deve ser lançada até 2024. 

Neste caso, o “CBDC: Os impactos de Central Bank Digital Currencies no mercado mundial”, título do relatório, ressalta alguns projetos em desenvolvimento do Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas (Lift) do Banco Central do Brasil (BC) relacionados a casos de uso do Real Digital. Entre eles o interfaceamento da CBDC com a Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês), através do qual a “geladeira poderá fazer compras automaticamente no mercado com base no que tem dentro dela”, obviamente por meio de serviços de delivery.

O levantamento enfatiza as possíveis revoluções no setor de pagamentos por meio da versão digital da moeda fiduciária brasileira, entre elas a possibilidade de transferências diretas entre as pessoas por meio de suas respectivas carteiras digitais, sem a intermediação de instituições financeiras. 

Outra inovação no setor de pagamentos está relacionada ao câmbio, por meio da conversão automática do Real Digital em CBDCs de outros países, além da “entrega contra pagamento” que, no caso, é a execução de contratos inteligentes que condicionam a transferência de propriedade de bens à efetivação de pagamentos, e vice-versa, como o sistema desenvolvido pelo banco Santander para compra e venda de carros usados

Por outro lado, o levantamento mostra que as facilidades deverão ser acompanhadas por impactos no mercado que, para alguns setores, tendem a se transformar em ameaças, pelo menos no curto prazo. Um exemplo é a redução de taxas de intermediação, cobradas por instituições bancárias para transferências e pagamentos, receita que possivelmente terá que ser substituída por outras fontes ao longo dos próximos anos. Uma delas poderá se originar do aumento do mercado de crédito, segundo o relatório. 

Isso porque o documento apresenta um rol de alternativas para as empresas se adaptarem ao surgimento das CBDCs, entre elas a associação com os bancos centrais, a identificação, validação de usuários e prevenção à lavagem de dinheiro, a integração das CBDCs em suas operações como forma de evitar a perda de clientes, não competição com produtos financeiros com grande pressão externa, captação de fundos para concessão de crédito e o desenvolvimento de produtos desvinculados à conta bancária como forma de manutenção da base de clientes. 

As CBDCs devem ainda favorecer o crescimento de diversos outros setores, apesar de algumas ameaças. No campo das oportunidades, o levantamento citou a expansão do ecossistema de produtos financeiros, a conquista de relacionamento com os clientes por meio de ótimas experiências, criação de produtos pela fintechs explorando os contratos inteligentes e o peer-to-peer (P2P), implementação de serviços financeiros com IoT, expansão de serviços internacionais e uso dos contratos inteligentes na mitigação de riscos.

No campo das ameaças das CBDCs, o documento citou a perda da relevância do relacionamento com os clientes, redução de margem dos serviços financeiros, ausência de taxas de manutenção de conta e competição gerada pelas carteiras digitais, maior dificuldade para se criar diferenciais em pagamentos, câmbio e crédito, adaptação à moeda digital, maior competitividade com importação e integração da CBDC às operações das empresas. 

Recentemente, representante do BC revelaram que o Real Digital terá funcionalidade que o Pix não oferece e garantiram que a CBDC não será usada para “vigiar os brasileiros”, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.

LEIA MAIS:

Você pode gostar...