‘Recomendar investir em Bitcoin e ouro na crise é leviano, se não for maldoso’, diz colunista do Estadão

Professor da FGV e da PUC-SP Fábio Gallo escreve que é possível admitir que as moedas serão substituídas, mas não de maneira “simplista”.

O colunista Fábio Gallo, do blog do Estadão, professor de finanças da FGV e PUC-SP, escreveu uma coluna nesta segunda-feira em que diz que recomendar investir em Bitcoin e ouro na crise econômica do coronavírus é “leviano, se não for maldoso”.

Segundo Gallo, alguns “pesos pesados do mercado” trouxeram a ideia de que o dinheiro poderá perder valor a partir da crise global e que mais valeria comprar ativos reais que ativos financeiros, como “terra, ouro, Bitcoins e ações de empresas”.

O comentário, completa ele, envolveu um contexto, mas foi tomado por alguns “como um presságio” para investir em ouro e Bitcoin:

“O comentário foi dentro de um contexto e não foi leviano, mas foi tomado por alguns como um presságio e que devemos investir em ouro e bitcoins. Isso, sim, é leviano, se não for maldoso. Comprar bitcoins sempre é de muito risco. A moeda virtual abriu o ano em US$ 7,3 mil, em 11 de março atingiu US$7,9 mil, mas no dia seguinte caiu 39%.”

Ele também defende que a emissão global de dinheiro, motivo principal para alguns especialistas apostarem na desvalorização das moedas nacionais, estaria “dentro da programação”:

“Alguns estão interpretando que está havendo emissão desproporcional de moeda “nova”. Isso não é bem verdade. As emissões apontadas no site do Fed estão dentro da programação. As autoridades monetárias não são tolas e sabem os efeitos desastrosos que pode trazer o crescimento da base monetária sem um crescimento econômico que o justifique. Obviamente se houver emissão de moeda de forma desproporcional, poderemos viver fenômenos como já vividos pela humanidade, quando a moeda não consegue comprar nada por perder totalmente o seu valor.”

Gallo então diz que ativos como BTC e ouro não atendem às necessidades básicas. E completa, reconhecendo que “é possível admitir” que as moedas serão substituídas, mas não de maneira “simplista”:

“Aí vem a pergunta: nessa condição, de que adianta ter ouro ou bitcoin? O ser humano não come e não bebe ouro. Ativos como esses não atendem nossas necessidades básicas. Sem declaração de temporalidade, a forma como iremos manter reserva de valor e realizaremos transações acredito que serão totalmente transformadas. Sim, é possível admitir que poderemos substituir o que hoje denominamos moeda. Mas não dá para interpretar tema tão complexo de maneira simplista, muito menos resumir que ouro e bitcoins serão esses substitutos. E, ainda, que a humanidade não tem capacidade de reação a situações como a que estamos passando.”

O Bitcoin e o ouro têm chamado atenção de especialistas de dentro e de fora da comunidade cripto pelo forte desempenho neste ano, apesar da crise econômica global. O BTC acumula crescimento consistente desde o crash de março, enquanto o metal precioso têm se destacado com crescimento de 20% no ano.

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