Rebeca é prata no salto, ganha 5ª medalha olímpica e pode ter bônus milionário

Ganhar uma medalha olímpica e bater recordes não tem a ver com dinheiro: é o ápice da carreira de atletas que dedicam a vida inteira para subir no topo do pódio. Rebeca Andrade, criada por uma mãe-solo com sete irmãos em Guarulhos, já tinha colocado seu nome duas vezes na história olímpica em Tóquio-2020, mas nas Olimpíadas de Paris 2024 ela transformou a superação em hábito.

Mas o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) decidiu, neste ano, aumentar o incentivo financeiro aos atletas da delegação brasileira que conseguirem subir ao pódio, com prêmios que podem chegar a R$ 350 mil por um ouro individual.

Dinheiro por medalha é cada vez mais uma das consequências. Por enquanto, Rebeca conseguiu a premiação em todas as finais que disputou.

Com isso, ela já acumula um prêmio de R$ 476 mil pagos pelo Comitê Olímpico Brasileiro: as duas pratas (no salto, neste sábado, e no individual geral, na quinta) lhe renderam R$ 420 mil, e a sua parte no prêmio por equipes conquistado na terça-feira lhe dá mais R$ 56 mil.

Se ganhar as duas provas que faltam, Rebeca Andrade levará mais R$ 700 mil. Se ganhar um ouro e uma prata, levará mais R$ 560 mil. Nas duas possibilidades, ela superará a marca de R$ 1 milhão em prêmios. Nenhum esportista brasileiro faturou tanto assim.

2024.08.03 – Jogos Olímpicos Paris 2024 – Ginástica Artística feminino. A brasileira Rebeca Andrade no pódio após garantir a medalha de prata na final do salto. Foto: Wander Roberto/COB

Estratégia rendeu prata no salto

Na disputa deste sábado, a brasileira e sua equipe técnica acertaram em cheio na estratégia. Como cada salto dura dez segundos e são tantas acrobacias que fica difícil para quem é leigo acompanhar, explicamos ponto a ponto:

  • Quem eram as rivais?

Estavam classificadas para a final as ginastas com as oito maiores notas na etapa de qualificação do domingo passado. Pela ordem de apresentação, Rebeca seria a sexta atleta a saltar sobre a mesa, atrás de Simone Biles (que era a quarta), mas antes de duas concorrentes diretas ao pódio: Jade Carey, também dos EUA, e Seojeong Yeo, da Coréia do Sul, que se qualificaram com apenas meio ponto a menos que ela.

  • Como é a prova e o cálculo da nota?

Na prova, cada finalista precisa apresentar dois saltos diferentes. A pontuação de cada salto é composta por uma nota de dificuldade e outra de execução.

A nota final é uma média aritmética simples e, numa final onde competem apenas as oito melhores do mundo, a disputa acontece nas casas decimais.

Uma das cartas na manga da brasileira já havia deixado o mundo da ginástica curioso: no início das Olimpíadas, a Federação Internacional de Ginástica (FIG) anunciou que Rebeca cadastrou um novo salto: o Yurchenko com tripla pirueta (TTY, na sigla em inglês), batizado em homenagem à ginasta soviética Natalia Yurchenko. A maioria das ginastas de elite fazem esse salto com dupla pirueta (720 graus) e ninguém ainda arriscou aumentar mais uma volta de 360 graus. Se Rebeca executasse o elemento, ele teria grau de dificuldade maior e seria batizado de Andrade — uma marca que outras brasileiras já conquistaram, mas ela ainda não.

Esquema mostra elemento submetido por Rebeca à FIG: um Yurchenko com tripla pirueta, que ainda não foi apresentado em eventos oficiais. Fonte: Reprodução
  • Rebeca conseguiria superar Simone Biles?

Durante a prova, Simone foi a terceira a saltar e fez duas execuções perfeitas, começando pelo Biles II, um salto que apenas ela já executou em competições oficiais e com a maior dificuldade atual da prova: 6,400.

Sem grandes falhas, quedas ou punições por pisar fora da área de aterrissagem, ela alcançou as notas 15,700 e 14,900, e finalizando com média 15,300.

Rebeca, por sua vez, costuma apresentar saltos com dificuldade mais baixa, até 5,600, mas se destaca das demais porque aperfeiçoou sua técnica de tal forma que alcança notas de execução altíssimas.

Sua média de execução em seis saltos feitos em Paris-2024 é 9,467 — o máximo é 10 —, o que a deixa com notas entre 14,900 e 15,100.

Perto. Porém, no mínimo 0,2 ponto abaixo do que precisaria neste sábado para tirar o ouro das mãos da melhor do mundo.

A superioridade de Rebeca no salto vem de sua execução impecável, com pernas esticadas, pontas dos pés e alturas que rendem nota acima da média. Foto: Wander Roberto/COB
  • Que estratégia Rebeca Andrade usou?

Enquanto a veterana canadense Ellie Black fazia seus saltos, o Brasil aguardava para saber o que faria Rebeca: arriscar um salto com nota de dificuldade mais alta, mas que ela talvez não executasse tão bem e lhe custasse o pódio, ou apresentar dois saltos seguros para garantir quem sabe um bronze, um recorde (e, claro, mais R$ 140 mil em premiações do COB)?

No fim, a tripla pirueta vai ter que esperar por outro evento internacional, porque a brasileira decidiu não apresentá-la. Mas errou quem pensa que ela fugiu da briga.

Quando chegou sua vez, primeiro ela saltou seu Cheng, um dos movimentos que ela já domina com maestria. Cravou a chegada.

Primeiro salto de Rebeca na final por aparelho foi um Cheng, onde ela toca a mesa de frente para ela e, em seguida, faz uma pirueta e meia. Foto: Wander Roberto/COB

Rebeca escolheu, para o segundo salto, fazer um Amanar. Trata-se de um Yurchenko, mas com dupla pirueta e meia, batizado pela ginasta romena Simona Amanar. Foi a primeira vez em Paris que a brasileira apresentou esse salto, mas ela garantiu o mesmo nível de execução dos demais.

Com isso, Rebeca tirou 15,100 e 14,833, já que seu segundo salto teve acréscimo de 0,4 ponto em dificuldade (guarde esse número). Média de 14,966, apenas 0,344 atrás de Biles.

No salto Amanar, assim como o Yurchenko, a atleta ataca a mesa estando de costas; a diferença é que, depois, ela faz dupla pirueta e meia, e não apenas duas piruetas, subindo a nota de dificuldade em 0,4 ponto. Foto: Wander Roberto/COB
Ao contrário do Yurchenko, no Amanar, por causa da meia pirueta a mais, a atleta faz sua chegada de costas para a mesa. Foto: Wander Roberto/COB
  • Como terminou a prova?

O próximo passo era esperar para ver o que fariam Seojeong Yeo, que na qualificatória teve nível de dificuldade 0,2 ponto abaixo de Rebeca, e Jade Carey, que apresentou os mesmos saltos que a brasileira no último domingo, mas com nota de execução ligeiramente mais baixa.

A sul-coreana, porém, acabou cometendo falhas nos dois saltos, e saiu do páreo, o que já sacramentou mais uma medalha olimpícada.

Mas a última norte-americana a competir, talvez já resignada com o bronze, decidiu manter os saltos que costuma treinar. Resultado: nota final de 14,466, meio ponto atrás de Rebeca.

Lembra daquele 0,4 ponto? Foi providencial, sacramentou mais uma prata e mais um prêmio de R$ 210 mil do COB para a brasileira.

A brasileira Rebeca Andrade (ao lado de Simone Biles e Jade Carey) no pódio após garantir a medalha de prata na final do salto. Foto: Wander Roberto/COB

Mais chances de medalha

Com essa quinta medalha, Rebeca igualou o recorde de medalhas que uma única pessoa do Brasil conseguiu em Olimpíadas.

Junto com Rebeca, apenas dois brasileiros conquistaram esse feito: os velejadores Torben Grael e Robert Scheidt.

Mas esse recorde pode estar com os dias contados, porque a ginasta paulista ainda tem mais duas chances de medalha, nas provas da trave de equilíbrio e do salto, outro aparelho no qual ela é especialista.

Com a bandeira do Brasil, Rebeca Andrade comemora a conquista da medalha de prata no salto. Foto: Wander Roberto/COB

Que horas Rebeca vai competir?

  • Trave: segunda (5) às 7h38 de Brasília (nesse aparelho, a brasileira Júlia Soares também está entre as oito finalistas)
  • Solo: segunda (5) às 9h23 de Brasília

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