Proposta de governança aprova confisco de milhões de dólares em tokens de ‘Baleia da Juno’

A votação da proposta de governança 20 do JUNO decidiu que os milhões de dólares em tokens obtidos de forma supostamente irregular por um jovem investidor japonês serão movidos para um contrato inteligente controlado pela comunidade.

Pela primeira vez na história da indústria de criptomoedas, uma decisão tomada através da votação de uma proposta de governança determinou o sequestro e a transferência de milhões de dólares em tokens JUNO da carteira de um jovem investidor japonês autointitulado “Juno Whale” (Baleia da Juno, em tradução literal), identificado como Takumi Asano, para um contrato inteligente controlado pela comunidade.

A “Proposta Juno 20” foi aprovada na sexta-feira, 29, com mais de 72% de votos favoráveis ao confisco de todos os JUNOs sob custódia de Asano, sob a justificativa de que o investidor japonês teria desrespeitado as regras do airdrop em que os tokens foram originalmente distribuídos para a comunidade, em fevereiro deste ano.

A proposição acabou referendando a “Proposta Juno 16”. Votada em março, ela colocava a mesma questão em debate, porém não determinava o sequestro dos fundos. Fora uma votação realizada apenas para avaliar o sentimento da comunidade a respeito do caso. Mas já havia ficado claro que a maioria estava contra Asano.

Juno

A Juno faz parte da Cosmos (ATOM), uma rede de blockchains interoperáveis, entre as quais a Terra (LUNA). O airdrop foi a estratégia utilizada pelos desenvolvedores da Juno para atrair usuários do ecossistema da Cosmos à rede alguns meses após a implantação do protocolo.

Pelos critérios de elegibilidade, a distribuição de tokens JUNO se daria na proporção de 1:1 tokens ATOM bloqueados em staking na blockchain da Cosmos, e seriam limitados a 50.000 unidades por carteira individual.

O limite foi criado para evitar que uma única entidade acumulasse poder excessivo sobre a governança do protocolo. No entanto, deixou uma brecha para casos como o de Asano, que possuía cerca de 50 carteiras diferentes com ATOM em staking. Como resultado, Asano acabou amealhando 10% do suprimento total de JUNO através do airdrop.

A “Baleia da Juno” justificou ter recebido a quantia muito superior o limite estabelecido pelas regras do evento afirmando ser líder de um grupo de investimento japonês chamado CCN. Em um comunicado enviado ao CoinDesk, Asano disse que a divisão dos tokens ATOM em diversas carteiras atendia a “fins de segurança”.

Ele afirmou ainda que pretendia distribuir os tokens JUNO recebidos no airdrop para os investidores que representa. No entanto, o tamanho da sua participação sobre o suprimento total do token ficou evidente quando ele transferiu todos os JUNO distribuídos em múltiplos endereços para uma única carteira de sua propriedade.

A proposta aprovada na recente votação afirma que a CCN presta um “serviço de exchange”, e que, portanto, não estaria apta a participar do airdrop, mesmo que Asano não tenha agido deliberadamente para manipular o sistema. De acordo com o texto da proposta aprovada, o fato de o ato ter sido voluntário ou involuntário não era relevante para a decisão final.

Baleia da Juno contra-ataca

Desde que a “Proposta 16” apresentou um resultado desfavorável a Asano, o drama no ecossistema Juno se intensificou. Há semanas, um ataque de origem desconhecida deixou a blockchain da Juno off-line por vários dias, desencadeando uma desvalorização de mais de 60% no preço do JUNO. Ao mesmo tempo, Asano reiterava seus apelos à comunidade para que os não votassem a favor do confisco de seus tokens.

Em uma tentativa desesperada de reverter uma causa aparentemente perdida, Asano publicou uma postagem no Twitter na última quarta-feira, 27, afirmando que os desenvolvedores da Juno estariam secretamente despejando suas participações do token no mercado – e esta seria a razão oculta por trás da queda recente do JUNO.

Em uma postagem no Github, a “Baleia da Juno” levanta dúvidas sobre a idoneidade de um dos líderes do projeto, que responde pelo pseudônimo de Wolf (@wolfcontract), afirmando que ele se recusa a apresentar sua real identidade por ter se envolvido em “delitos” no passado.

No Twitter, Asano chegou a intimar Wolf a participar de um debate para provar a sua inocência, mostrando sua cara e apresentando a sua real identidade. No entanto, não obteve resposta.

Em declaração ao Coindesk, Asano afirmou que está considerando entrar com uma ação legal, dependendo do que a comunidade decidir fazer com os fundos arrestados:

“Se esse bloqueio for baseado na suposição de que os ativos serão devolvidos aos nossos clientes, não pretendemos entrar com uma ação legal. Por outro lado, se for baseado na premissa de um bloqueio [queimado] ou [tiver caráter] permanente, estamos considerando tomar medidas legais contra cada validador.”

O caso da Juno não é o primeiro e dificilmente será o último em que uma comunidade blockchain se vê diante da decisão de revogar os ganhos supostamente ilícitos de um usuário. Logo vem à memória o ataque à DAO da Ethereum (ETH), em 2016, quando um hacker desviou cerca de 5% do suprimento de Ether em circulação na época.

Após intensos debates, a comunidade da Ethereum optou por executar um “hard fork” da blockchain – essencialmente criando uma nova blockchain onde o ato criminoso foi eliminado como se nunca tivesse ocorrido. No entanto, uma minoria optou por manter a integridade da blockchain original, provocando uma cisão que resultou na criação da Ethereum Classic (ETC).

O caso da Juno é histórico por se tratar da primeira ocasião em que uma decisão de tal magnitude é tomada por meio de uma proposta de governança aprovada pela comunidade.

Assim, parece restar a Asano questionar a credibilidade da rede:

“Quando a governança de uma blockchain pública reescreve os dados de um bloco, essa cadeia ainda terá alguém para apoiá-la? Os blockchainers hardcore vão se manter na comunidade? Teremos que esperar para ver onde esse problema vai parar.”

Os últimos desdobramentos do caso da “Baleia do Juno” não favoreceram o preço do token. Nos últimos 30 dias, o JUNO desvalorizou 57,5%, e na noite desta segunda-feira está cotado a US$ 11 – 76% abaixo da máxima histórica de US$ 45,74 registrada há exatamente dois meses, de acordo com dados do CoinGecko.

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