Por que as corretoras do mercado brasileiro usam stablecoins diferentes

As stablecoins surgiram como uma opção aos investidores do mercado de criptomoedas que não querem se arriscar à volatilidade do Bitcoin e ao, mesmo tempo, movimentar dinheiro entre exchanges sem precisar usar o sistema financeiro tradicional transformando as criptomoedas em moeda Fiat. O problema é que no Brasil as exchanges passaram a listar stablecoins diferentes entre si, o que impossibilita a movimentação entre elas.

O caso mais recente foi o da Bitcointrade que listou a stablecoin DAI. No entanto, ela é a única no Brasil com essa stablecoin. Isso porque a Foxbit trabalha com a TrueUSD; a Coinext e a Novadax decidiram listar a Tether; e o Mercado Bitcoin adotou a USDC.

O que aparenta é que as empresas brasileiras não tem interesse que as criptomoedas circulem entre suas concorrentes nacionais e sim que os clientes usem stablecoins como uma forma de exposição ao dólar.

Esse fato, por fim, acaba dificultado a vida do investidor que tem dinheiro em uma corretora e quer transferir para outra em busca de alguma oportunidade de negociação ou até em busca de uma taxa mais barata.

Cada Exchange com uma Stablecoin

José Artur Ribeiro, Ceo da Coinext, disse ao Portal do Bitcoin que o fato de cada corretora adotar um stablecoin diferente “com certeza dificulta” o mercado. Na visão dele “seria muito melhor para o mercado se as corretoras brasileiras tivessem mais stablecoins em comum”.

Já Daniel Coquieri, COO da BitcoinTrade, falou que “a concorrência só faz bem ao mercado” e que tanto os usuários quanto as corretoras “têm liberdade para escolher com qual stablecoin trabalhar”.

Coquieri afirmou que “não existe uma moeda ‘certa’ para seguir”. João Canhada, Ceo da Foxbit, concordou:

“O cliente vai usar aquela que ele mais confia e é importante ter opções na mesa”, disse. 

Quanto a isso, Ribeiro explicou que apesar de ter escolhido a Tether, a DAI (listada na BitcoinTrade) e USDC (listada no Mercado Bitcoin) possuem bons projetos.

Escolhas particulares

O Ceo da Coinext declarou, no entanto, que a preferência pela Tether, se deu pelo fato de ela ser “disparadamente a stablecoin mais utilizada e negociada do mundo”. 

Atualmente a Tether é a quarta criptomoeda com maior valor de mercado e disputa com o bitcoin diariamente o maior volume negociado nas bolsas mundiais de criptomoedas.

De acordo com Coquieri, o que levou a BitcoinTrade listar a DAI foi o fato dela não ser lastreada em dólar como as demais, mas pareada, o que pode representar uma segurança maior ao investidor.

“Não é preciso confiar em uma empresa que exista um volume X de dólares em uma conta bancária para lastrear as moedas. O que mantém o preço de DAI é uma engenharia financeira que pode ser 100% auditada na blockchain”.

Já Fabrício Tota, Diretor Comercial do Mercado Bitcoin, disse que a escolha pela USDC veio pelo fato dela ser uma stablecoin da Circle junto com a Coinbase.

Segundo Tota, o objetivo foi “de ajudar o investidor a ter exposição ao dólar, com facilidade de comprar sem intermediários”. Ele afirmou que mais ativos no mercado significa “mais chances para a pessoa escolher em qual quer investir.”

Sob esse mesmo ponto de vista, Canhada mencionou que apesar da Foxbit ter listado apenas a TrueUSD na exchange, o OTC da corretora negocia “todas as criptomoedas e stablecoin existentes”.

A escolha pela TrueUSD, segundo Canhada se deu pois “era um primeiro teste pra entender esse novo mercado” e que agora tem se aproximado de emissores locais e internacionais. Ele apontou que está “fazendo testes utilizando a stablecoin BRZ aqui no Brasil em nosso OTC”.

Custos na listagem

Apesar de não ser uma regra, a cobrança pela listagem de algumas criptomoedas em exchanges é uma prática normal e conhecida pelo mercado, mesmo que grande parte dar empresas prefiram não falar sobre o assunto.

O Ceo da Coinext explicou que “toda nova listagem gera gastos com configuração e manutenção de carteiras”. Isso fez com que ele recebesse taxa pela listagem da Tether.

Apesar dos custos, Ribeiro mencionou que “com a criação e aceitação em massa de outros projetos, com certeza outras stablecoins entrarão no nosso radar”.

Canhada e Coquieri disseram que as suas respectivas corretoras (Foxbit e BitcoinTrade) não cobram taxa para listar novas criptomoedas. Já Tota pontuou que o Mercado Bitcoin “não comenta condições comerciais”.

Palavra de trader

De acordo com Michel Lopez Del Sent, P2P e trader, a listagem de diferentes stablecoins por exchanges brasileiras acaba afetando apenas aqueles que querem negociar esses ativos por meio das corretoras.

“Isso força as pessoas a usarem a exchange para operar, mas, não acho ruim não, pior seria não ter elas. O mais esperto por elas, seria ter todas”.

Em outros termos, se a pessoa quiser negociar USDC terá de se cadastrar no Mercado Bitcoin; para negociar TrueUSD, na Foxbit; para Tether terá de se cadastrar na Coinext e por aí vai.

Del Sent disse que quem atua em peer to peer, no entanto, não passe por esse problema pois a negociação é direta com as pessoas não há intermediários como as exhanges.

Maior estabilidade

Canhada disse que o que vale é “a confiança no lastro dessas stablecoins listadas”. Esse ponto de vista é compartilhado pelos demais players consultados pela reportagem.

Esses ativos lastreados em dólar tem representado segurança maior aos investidores do mercado cripto que sempre se deparam com o problema da volatilidade do Bitcoin. Canhada explicou que “no final do dia o valor delas é o mesmo: 1 stablecoin para 1 dólar”.

Para isso, a moeda tem de ser forte economicamente e o emissor deve ter teoricamente a mesma quantidade de moeda fiduciária em sua reservas do que os ativos que estão lastreados neles. Esse lastro pode ocorrer também, conforme explicou Tota em Commodities:

“Stablecoins são uma grande oportunidade para o investidor ter exposição ao dólar – ou outro ativo, como ouro, por exemplo”.

Há, no entanto, a exceção à regra, como é o caso da stablecoin DAI, a qual é pareada ao dólar. Coquieri disse que investir em stablecoin é uma boa oportunidade para o investidor ter acesso a moeda americana. “A utilização mais importante é alocar parte do patrimônio em dólar, com essa stablecoin, se protegendo da oscilação ou desvalorização excessiva do Real”.

O post Por que as corretoras do mercado brasileiro usam stablecoins diferentes apareceu primeiro em Portal do Bitcoin.

Você pode gostar...