“Pelo amor de Deus, devolvam o dinheiro das pessoas”, diz líder da Unick Forex em Manaus
“A situação é crítica”. É assim que Marcelo Prata, um dos apoiadores da Unick Forex, define o momento atual da empresa que deixou claro que não vai pagar os rendimentos e apenas devolver o valor investido parcelado.
Seu irmão, Marcos Prata, do departamento jurídico da empresa, vai além de afirma que caso as pessoas entrem com ações contra a Unick, ela fecharia e não teria como pagar aos investidores.
Os irmãos Prata tiveram áudios vazados e veiculados em um canal de investimentos online no Youtube. Por meio desses dois áudios se nota que a situação da empresa está longe da ótima fase que Danter Silva, o diretor de marketing, afirmou recentemente.
Marcelo Prata, que chegou a levar a empresa para dentro de uma corporação militar e palestrou junto ao chefe do corpo de bombeiros sobre os rendimentos mágicos da Unick, hoje se mostra bastante preocupado com a situação.
Ele deixa escapar que há grande risco de a empresa aplicar
um calote ao afirmar que “quanto aos patamares ouro e adiante nem que seja para
pagar daqui a 40 anos ou em outra vida”.
Como líder de Manaus, Prata diz que não concorda com a
decisão da empresa em fazer o parcelamento e apela para a cúpula da empresa
para que devolva o dinheiro aos investidores sem parcelar.
“Eu como líder de Manaus estou pedindo pelo amor de Deus
que façam isso. Eu sei que a empresa não pediu para ninguém vender casa, vendar
carro ou para fazer empréstimo, mas acreditaram no projeto. Estou pedindo que a
empresa priorize esses clientes que compraram esses pacotes e não receberam um
centavo até agora e que libere os 100% numa parcela só”.
Unick Forex insustentável
Ele diz até que está disposto a abrir mão se seus saques e que isso foi algo decidido também por outros líderes do Norte do país. Ele apelou para que os líderes de outras regiões do país façam o mesmo.
“Eu gostaria, e eu falo em nome de todos os líderes do
Norte do Brasil se tiver algum líder do Sul e do Sudeste que venha concordar
com esse meu ponto de vista”.
O seu irmão, que ao lado de Fernando Lusvarghi compõe
o departamento jurídico da Unick, nessa mesma linha tenta também convencer as chamadas
“lideranças” a renunciar a seus ganhos para que os novos entrantes recebam.
Ele desaconselha os clientes a entrarem com ação judicial contra a Unick Forex sob o argumento de que esses processos além de demorar trazem o risco de a pessoa não receber o dinheiro que está preso e nisso solta que a empresa, com isso, fechará.
“O cliente que acha que a solução é judicializar está
dando um tiro no pé. O que a Justiça faz aqui no Brasil? Ela bloqueia todos os
valores, a empresa, claro, vai perder e vai fechar”.
O homem que afirma ter trabalhado por sete anos numa
vara criminal argumenta ainda que “nenhum cliente vai ter de volta esses valores”
e o motivo é que “muitos deles não terão como declarar a origem desse dinheiro”.
Palavra de especialistas
O Portal do Bitcoin conversou com dois advogados para saber até que ponto Prata tem razão.
Filipe Porto, advogado civilista do escritório Pereira, Porto e Penedo Advogados, aponta que a declaração feita por Marcos Prata além de ser um escárnio à Justiça brasileira se mostra como um verdadeiro atentado contra o direito constitucional de qualquer pessoa bater as portas do Judiciário.
“É um desrespeito às garantias constitucionais do cidadão em promover uma ação e o escárnio obviamente com dignidade da Justiça, que num futuro processo se houver pode implicar em multa processual pelo CPC”
De acordo com Porto, essa é uma tática comumente usada
por quem quer se eximir de pagar o que deve. Ele alerta que as pessoas devem
ter atenção sobre em que está investindo o seu dinheiro, pois “nem sempre a
Justiça consegue atingir o seu fim social”.
Apesar disso, Porto aponta que é cabível uma ação
cautelar de cientes que se sintam prejudicados para “arrestar os bens que
futuramente podem servir para indenizar as vítimas”.
Direito a valor corrigido
Nessa mesma linha Fernando Henrique Cardoso, advogado
criminalista do escritório Cardoso, Siqueira & Linhares, afirma que o
investidor que tendo aplicado o dinheiro de origem lícita e de boa fé tem o
direito de sua devolução.
Cardoso, no entanto, chama a atenção para um detalhe. Caso
o retorno dos rendimentos se dê por algo não regulado, haverá a discussão sobre
esse rendimento apenas.
“Digamos que a pessoa invista R$ 15 mil e que esse valor suba para R$ 18 mil. Esses R$ 3 mil pode ter um eventual problema para se explicar a origem, mas o valor investido é o que tem origem”.
Os ganhos, segundo Cardoso, ainda teriam de ser algo analisado por um juiz e mesmo assim a devolução do dinheiro, mesmo que apenas do valor investido, não poderia se dar sem a devida correção.
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