PayPal ameaça ‘confiscar’ dinheiro de usuários e reacende debate sobre descentralização e autocustódia de criptomoedas

Gigante de pagamentos eletrônicos recuou após anunciar multa de US$ 2,5 mil que seriam descontados da conta de usuários que ‘promovessem desinformação.’

Enquanto diversos setores do ecossistema cripto e governos ao redor do mundo debatem sobre os limites da regulamentação sem ferir a descentralização, se é que este limite existe, a rede de pagamentos online PayPal anunciou na última semana uma medida que, além de impopular, fortaleceu o argumento dos defensores da manutenção da blockchain sem ferramentas centralizadoras, além da autocustódia de criptomoedas

A polêmica começou quando o PayPal ameaçou descontar da conta de seus usuários, a título de multa, US$ 2,5 mil em caso de atividades proibitivas que incluiam “o envio, postagem ou publicação de quaisquer mensagens, conteúdo ou materiais” que “promovam a desinformação”, punição que gerou uma avalanche de críticas ao PayPal no Twitter e fez com que a empresa voltasse atrás alegando que a atualização da política de uso foi “publicada por engano.”

Em um dos trechos de uma sequência de tweets relacionados ao episódio, a diretora de estratégia da empresa de investimentos em ativos digitais CoinShares, Meltem Demirors, disse que:

“E se você acha que as criptomoedas são imunes a isso, você é ingênuo ou intencionalmente ignorante.

Atualmente, 31% dos blocos da Ethereum pós-The Merge estão em conformidade com a OFAC, o que significa que eles censuram transações associadas a contratos e endereços específicos de listas determinadas pelo estado.” 

Declarações de Yves Longchamp, chefe de pesquisa do banco suíço de criptomoedas Seba,  feitas ao Cointelegraph no final de junho, também colocaram as plataformas no olho do furacão. Segundo ele, as plataformas de finanças centralizadas (CeFi), na prática, colocam os contratos inteligentes dentro de uma “prisão”. No caso das finanças descentralizadas (DeFi), o risco diz respeito ao encerramento do aplicativo.  

De acordo com o executivo, o espírito da blockchain é a autoadministração e a autocustódia e os usuários precisam de ferramentas de educação para estarem bem informados antes de assumirem os riscos. 

Em um posicionamento semelhante, diretor de operações da MyEtherWallet, Brian Norton, frisou que os investidores de criptomoedas contam com ferramentas suficientes para não dependerem da CeFi. 

O chefe de ativos digitais da gestora de ativos de Nova York WisdomTree, Will Peck, também afirmou recentemente que a autocustódia é uma tendência, mas disse em entrevista ao Cointelegraph que ela não é adequada para todos. Segundo ele, muitas pessoas podem achar a autocustódia desconfortável pela exigência de algumas habilidades técnicas e a necessidade de não perderem as chaves privadas. 

“Dos bilhões de pessoas e inúmeros investidores institucionais no planeta, um grande número não terá os recursos técnicos, fluxos de trabalho ou interesse em manter suas próprias chaves privadas, o que apresenta um conjunto diferente de complexidades e riscos. Se você está preocupado com ‘não são suas chaves – não são suas moedas’, você deve apenas entender quem é essa empresa, qual é a reputação, como eles estão adotando a regulamentação ou se não estão adotando a regulamentação” disse Will Peck. 

Criptomoedas à parte, a decisão unilateral e centralizada do PayPal também jogou luz, mais uma vez, sobre o poderio das big techs. O que é combatido pelos entusiastas da Web3, a internet centralizada. Porém, esta mudança de paradigma, embora envolva bilhões em projetos baseados nas inúmeras possibilidades da blockchain para a construção de um mundo desdentralizado, ainda é incerta, na medida em que envolve outros atores, entre eles os governos, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.

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