OTC na Asia, Halving e Coronavirus, entrevista com ‘Barão do Bitcoin’, Allex Ferreira

Em entrevista ao Cointelegraph, Allex Ferreira, conhecido como Barão do Bitcoin fala sobre o coronavírus, halving e mineração

Allex Ferreira, conhecido com o ‘Barão do Bitcoin‘, é uma das personalidades do ecossistema de criptoativos do Brasil e foi um dos maiores p2p do mercado nacional. Em grupos sobre Bitcoin no Brasil, Allex destila suas opiniões polêmcias como a de que o Bitcoin não é investimento e sim uma aposta.

Ferreira que hoje vivie na Ásia contou ao Cointelegraph, as medidas que autoridades da China e Singapura tem tomado para conter o avanço da pandemia e os impactos do COVID19 no valor do Bitcoin. Confira.

Cointelegraph: Como a COVID-19 impactou o mercado de criptoativos no mundo? 

Allex Ferreira: Olha, eu sempre externei uma opinião bastante pessoal de que o mercado de Bitcoin nunca havia sido efetivamente impactado por questões macro que estão alheia a sua pequena bolha. Quando falavam que o Bitcoin tinha subido por causa da crise no Chipre ou na Grécia, eu ria internamente. Mas dessa a vez, com certeza, a situação foi diferente. Aquele episódio da Black Thursday, no dia 12 de março, quando o Bitcoin despencou mais de US$ 2 mil certamente foi devido ao que estava acontecendo relacionado ao Coronavírus. Quando o Trump proibiu os voos vindos da Europa, eu percebi que o mercado cripto iria desabar, como de fato aconteceu. Eu acho que estamos vivendo um momento de grandes incertezas. Não dá para saber como o mercado cripto irá reagir nos próximos meses, mas certamente em um momento de incertezas a última coisa que as pessoas fazem é investir em ativos incertos como é o Bitcoin. Existe muita desinformação sobre o atual momento que estamos passando. 

A quantidade de informação de baixa qualidade que é publicada todos os dias só piora a situação. Eu, por exemplo, procuro ler apenas as publicações mais confiáveis sobre o tema, como a New Scientist, BBC, The Economist e, quando quero ser muito cabeção, eu leio a Nature. Não dá pra acreditar na informação hoje em dia como uma verdade. Você pode considerar a informação como válida, não válida, provável ou improvável. Recomendo que as pessoas filtrem as informações nesse período para tomarem as suas decisões.

Cointelegraph: Como você tem enxergado o mercado brasileiro de criptoativos? Qual sua avaliação sobre os últimos meses?

Allex Ferreira: Bom, o ano de 2019 foi, sem dúvida, um ano que ficará marcado pelas fraudes e pirâmides financeiras que afetaram o mercado nacional. É muito triste, mas é a realidade. Acho que muita gente que entrou nesse mercado acabou ingressando por meio de algum projeto de enriquecimento rápido questionável. O que tenho visto é uma diminuição do volume negociado nas exchanges e um aumento no volume negociado por pessoas e empresas que usam o Bitcoin com uma ferramenta de transferência de valores. A prova de que o mercado das exchanges não anda bem das pernas é que a XDEX, a corretora da XP Investimentos, que nasceu cheia de pompa, acabou fechando as portas. Então, eu acho que no mercado brasileiro vão sobreviver apenas as empresas que estão há mais tempo nesse negócio e que realmente entendem o valor oferecido pelo Bitcoin aos usuários. 

Cointelegraph: Qual sua expectativa para o halving e para o mercado de mineração?

Allex Ferreira: Eu sempre digo que os halvings anteriores foram magros e o deste ano também deverá ser. Agora, se o preço vai disparar depois do halving, somente o “deus Satoshi”, é quem sabe. Sobre a mineração, eu sempre digo que ela não é pra todo mundo. Eu passei alguns anos operando plantas de mineração na China e cheguei a conclusão que para os meus objetivos, o mercado de mineração não oferece uma relação risco x retorno adequada. A mineração é uma sincronia de quatro poderes: hashrate, eletricidade, dificuldade de mineração e preço do Bitcoin. Quando você junta tudo isso em uma equação e percebe que o retorno do seu investimento tem expectativa de ocorrer em um horizonte de mais de 4 anos você pensa se vale realmente a pena entrar nesse mercado. E quando você coloca o halving nessa equação, ou seja, a redução pela metade da recompensa entregue aos mineradores, essa equação fica ainda mais difícil de fechar. Eu super entendo quem entra nesse mercado, ainda hoje vendo máquinas de mineração, mas eu prefiro investir em coisas com horizontes mais curtos de retorno. Atualmente, temos visto o mercado trocando as máquinas. Antes, quem reinava eram as S9 da Bitmain e agora o mercado tem adotado a S17 da mesma fabricante, que tem um poder de mineração quase três vezes maior. 

Cointelegraph: Você acha que para o mercado de mineração se manter depois do halving, o preço vai ter que subir? 

Allex Ferreira: Olha, as pessoas precisam entender que para o preço subir sustentavelmente, precisa ter mais gente usando a rede. Recentemente, publiquei em meu blog Barão do Bitcoin um artigo sobre um indicador muito interessante que pode ser extraído a partir do blockchain do Bitcoin, que são os endereços ativos na rede. Existe uma correlação bastante evidente do aumento do preço do Bitcoin e da utilização da rede pelos usuários. Uma coisa não acontece de forma sustentada sem a outra. Isso não quer dizer que o preço do Bitcoin não possa ter um spike e romper a máxima histórica, mas para ele se manter alto e, consequentemente, mudar a equação dos investimentos em mineração, as pessoas precisam usar mais o Bitcoin seja para qual motivo for. 

Cointelegraph: Em 2019, você lançou uma stablecoin Brasil. O que aconteceu com o projeto? 

Allex Ferreira: As stablecoins são uma ideia fenomenal, elas permitem enviar e receber dinheiro para além de fronteiras nacionais com uma velocidade impressionante e a custos bastante baixos. Tudo isso sem o risco de volatilidade que existe no Bitcoin. Quando pensei no projeto do Real-T era justamente para oferecer ao mercado brasileiro uma opção para quem desejava fazer arbitragem entre os mercados nacional e internacional. Chegamos a listar o token da Real-T em uma exchange internacional no par RealT/USDT, mas os traders brasileiros não aderiram muito a nossa proposta de valor e o projeto acabou não ganhando tração. Além disso, no Brasil, o Tether (USDT) é mal visto pelo mercado brasileiro, diferentemente de como é visto na Ásia. Outro motivo também foi a burocracia brasileira. Tínhamos um parecer jurídico, mas no fundo havia falta pouca clareza regulatória. Além disso, depois que eu lancei essa stablecoin, várias pessoas e empresas brasileiras seguiram a tendência e inundaram o mercado com outras stablecoins pareadas no real. Por isso, decidi dar um stop no empreendimento e focar em outras iniciativas. 

Cointelegraph: Quais são essas outras iniciativas a que você tem se dedicado?

Allex Ferreira: Bom, há alguns anos eu vim para a China e passei a viver no Sudeste Asiático. Decidi que iria investir meu tempo e dinheiro nessa região porque aqui as coisas funcionam de maneira muito diferente que no Brasil. A burocracia é muito pequena, existe uma conectividade entre os bancos da região que é impressionante. Acabei fazendo muitas conexão com as mesas de negociação OTC na China, Hong Kong, Cingapura e Malásia. E agora estou criando meu próprio OTC para poder atuar no corredor Brasil – China e facilitar para quem quer comprar Bitcoin na Ásia ou vice-versa. Eu acredito que a Ásia, em meio a todos os problemas mundiais relativos ao Coronavírus, está se saindo muito melhor que os países ocidentais e atravessando a crise de maneira muito mais rápida. Além disso, é onde as principais iniciativas de criptoativos estão localizadas. Quero poder oferecer aos brasileiros os grandes volumes de Bitcoin que podemos encontrar na Ásia e também continuar focado na negociação e fornecimento de máquinas de mineração. 

Cointelegraph: No ano passado, a Receita Federal implementou regras para exchanges, empresas e pessoas que negociam Bitcoin no Brasil. Qual sua opinião sobre essas medidas? 

Allex Ferreira: Vou direto ao ponto. A normativa sobre criptoativos da Receita Federal é burra. Eu entendo o objetivo da normativa, que é o de arrecadar impostos e acompanhar a movimentação dos criptoativos, mas acho que a forma como foi implementada é bastante falha. Se a Receita quisesse realmente ter controle sobre isso, eu sugeriria que ela instituisse um imposto sobre os saques de recursos das plataformas de negociação online e controlasse o banco de dados dessas exchanges. Seria uma forma muito mais eficaz de acompanhar a movimentação e arrecadar os impostos. Outro problema da normativa é o risco que ela traz para quem possui Bitcoin, ao obrigar o usuário a informar à Receita o total de criptoativos que ele detém. Essa é uma informação muito sensível. Quantas pessoas dentro da Receita têm acesso ao patrimônio de criptoativos dos usuários brasileiros? Se alguma dessas pessoas for sequestrada, será que recairão suspeitas sobre os funcionários da Receita que têm acesso a esses dados? A Receita tem recebido um volume de informações inúteis, de negociações de 0,001 Bitcoin, que beira a casa dos 100 mil registros todos os meses. Como ela consegue lidar com tanta informação, eu não faço ideia. Por isso, acho que a normativa não é muito inteligente. 

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