O Tether é melhor que o Bitcoin?
O mercado de stablecoins dobrou de tamanho nos últimos quatro meses e atingiu capitalização total de US$ 13 bilhões. Até a fatídica ‘Black Thursday’, em 12 de março, quando o preço do Bitcoin despencou praticamente 50% devido ao pânico gerado pela Covid-19, o valor de mercado das stablecoins era da ordem de US$ 6 bilhões.
Representando mais de 80% do market share neste segmento, o Tether (USDT) lidera entre os ativos digitais estáveis. Neste artigo, pretendo discutir os motivos deste expressivo crescimento.
No gráfico acima, podemos ver a expansão acentuada das stablecoins. Os tons de verde representam os tokens do Tether emitidos em diferentes blockchains.
Stablecoins, como o nome sugere, são ativos digitais estáveis, ou seja, são tokens que têm como finalidade principal manter o seu valor atrelado a algum ativo do mundo real.
Na prática, a maioria representa o valor de 1 dólar. Existem, contudo, stablecoins atreladas a outras moedas estatais, como o euro, o real brasileiro etc.
O principal combustível por trás da expansão do Tether está na Ásia. O USDT é o ativo digital preferido dos asiáticos para movimentar recursos para além das fronteiras nacionais.
Se antes vários deles utilizavam o Bitcoin para fazer isso, hoje em dia cada vez mais pessoas enxergam vantagens em realizar tais operações com stablecoins.
Transferências de Tether e Bitcoin
No gráfico acima, podemos verificar o valor total das transferências realizadas com Bitcoin (em vermelho), Tether (tons de verde) e USDC (em azul). A conclusão aponta para uma enorme relevância do Tether no volume total diário de trades.
Incluí no gráfico a segunda maior stablecoin, a USDC, para mostrar que nesse mercado de stablecoins o que mais importa é se o token tem liquidez ou não. Fatores como a tecnologia por trás do token, se ele é regulado ou não, se é descentralizado ou centralizado, não têm tanta relevância em termos práticos.
E quais seriam as vantagens de utilizar o Tether? Basicamente, são as mesmas oferecidas pelo Bitcoin, como velocidade, baixo custo de transação e segurança, porém com um diferencial que o Bitcoin não consegue geralmente oferecer: baixíssimo risco de volatilidade do valor do ativo.
Volatilidade
No gráfico acima, podemos observar que a volatilidade do Tether (em verde) ficou bem abaixo de 1% nos últimos 18 meses, quando olhamos para a média móvel de 30 dias.
Na prática, nos mercados bilaterais (OTC e P2P), o valor de trade do Tether é praticamente sempre na proporção de 1:1. Por sua vez, a volatilidade do Bitcoin (em vermelho), entretanto, representa o trajeto de uma montanha russa com fortíssimas emoções, com momentos de volatilidade que ultrapassam os 10%.
Mas o Tether não serve apenas para evitar volatilidade.
Se você, por exemplo, está cansado de ver o real brasileiro perder valor frente ao dólar, por que não ficar exposto ao dólar por meio do Tether? Por que deixar o seu dinheiro em um banco brasileiro se você pode ter em sua carteira digital uma stablecoin pareada em alguma moeda estatal forte?
Outra razão de existência do Tether, e não menos importante, é a sua utilização como porto seguro para traders que atuam no mercado de criptoativos.
É muito mais fácil fazer arbitragens entre exchanges ao utilizar stablecoins para enviar recursos de uma plataforma a outra.
Maiores holders do Tether
A tabela abaixo mostra que dentre os 10 maiores holders dos tokens de Tether emitidos na blockchain do Ethereum, cinco deles são grandes exchanges de criptoativos.
Assim como o Bitcoin oferece liberdade e controle dos fundos, as stablecoins são ativos que evitam fricções desnecessárias com bancos e entidades financeiras tradicionais.
Experimente movimentar altas quantias financeiras em sua conta bancária. Provavelmente, o gerente do seu banco irá lhe fazer algumas perguntas sobre a movimentação. Com o Tether, a liberdade é muito maior.
No Brasil, o Tether vem crescendo bastante como alternativa para quem trabalha no mercado de trades bilaterais. A principal razão para o crescimento do Tether no Brasil está relacionada à Instrução Normativa da Receita Federal que obriga exchanges e usuários de criptoativos no Brasil a declararem suas operações mensais que atinjam determinado montante.
Se antes ele era majoritariamente visto como uma ferramenta para evitar volatilidade em operações de day trade, agora o USDT ocupa cada vez mais espaço no segmento de remessas financeiras, a exemplo do que tenho visto acontecer na Ásia.
Obviamente que a comparação entre Tether e Bitcoin só é válida quando não estamos encarando esses ativos digitais com viés especulativo. Se o seu objetivo for especular no mercado, certamente o Bitcoin oferece um prato muito mais saboroso (ou indigesto) que uma stablecoin.
Muita gente, porém, utiliza o Bitcoin como um encanamento digital para escoar dinheiro de um lado para outro. Para esta finalidade, não tenho dúvidas que o Tether é um token muito melhor.
Sobre o autor
Allex Ferreira é fotógrafo e negocia Bitcoin no mercado P2P desde 2011. Na China, esteve à frente de operações de mineração de Bitcoin. Também escreve no blog Barão do Bitcoin, apelido pelo qual é conhecido na comunidade brasileira.
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