O que ninguém entendeu (ainda) sobre os ETFs de Bitcoin

A aprovação dos ETFs de Bitcoin à vista nos Estados Unidos no começo deste ano colocou uma estrada muito mais bem pavimentada para o mercado de criptomoedas, em comparação com o que estávamos acostumados há alguns anos atrás.

Pode não parecer muito novo isso que estou falando para vocês. Afinal, já vimos bons dez meses de negociações desses fundos regulamentados. Mas, há muito mais por trás desses produtos financeiros do que a gente consegue ver.

Para quem ainda não me conhece, eu sou Ricardo Dantas, CEO do Grupo Foxbit desde 2019. Acompanho e trabalho no mercado desde  2016 e, vou confessar a vocês, já vi muita coisa. E é por isso que a aprovação dos ETFs me chamaram a atenção.

Então, agradeço muito ao pessoal do BeInCrypto pelo espaço nesta coluna mensal para apresentar um pouco das minhas experiências.

História de muitos anos

Se você chegou agora ao mercado de criptomoedas, saiba que os ETFs de Bitcoin são tudo, menos novidade. Desde que escuto falar sobre Bitcoin, os tais “fundos regulamentos em bolsa” estão em pauta.

Só não esperava que acontecesse tão “cedo”.

Boa parte do mercado cripto é descentralizado. E isso acaba, sim, afugentando parte dos investidores e também abrindo espaço para agentes mal-intencionados. Então, uma regulamentação pode ser chata e burocrática, mas se faz necessária no mundo em que vivemos.

O problema é que esses ETFs nunca eram aprovados. Sempre faltava um documento aqui, uma justificativa ali, e os processos seguiram assim anos a fio.

Fato é que os investidores institucionais e os grandes ainda estavam começando a engatinhar no mercado de criptomoedas, enquanto o governo – principalmente o norte-americano – não se empenhou em nada para ouvir as demandas.

Ao contrário, as autoridades atrapalharam bastante. Assim como fez a China, em 2021, com a proibição de mineração e negociação de criptomoedas – que não funcionou tão bem assim, mas este não é nosso foco hoje!

Leia mais: O que é um ETF de Bitcoin?

Criptomoedas para quem?

O jogo começou a virar, quando algumas exchanges – e sem problema algum, eu cito a Binance – começaram a ganhar muito espaço dentro do setor financeiro norte-americano. Afinal, se a demanda por criptomoedas é forte hoje, até o ano passado o cenário era até mais intenso.

Foi aí que os “bancões” começaram a ver que os investidores institucionais – empresas com muito dinheiro – também queriam participar deste mercado. Mas, faltava aquela dose de segurança regulatória que esse tipo de player exige.

As autoridades, claro, não iam dar isso de mão beijada a empresas estrangeiras. Foi aí que os “amigos das antigas”, como a BlackRock decidiram, então, tomar a frente e entrar com seus pedidos de aprovação para um ETF de Bitcoin spot.

Isso, inclusive, aconteceu uma semana após a Binance ser processada pela Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC).

Não quero entrar no mérito de se a SEC está certa ou não, mas o jogo institucional é muito forte no país, e players mais consolidados tem certa “vantagem” contra mercados considerados emergentes.

Então, a decisão por aprovar um ETF de Bitcoin não veio de uma demanda do mercado financeiro global, mas, sim, de uma demanda forte institucional em que o ambiente tradicional aceitava ou, então, seria substituído por empresas do setor.

Um ato muito previsível

Ainda em 2023, eu ouvi de muita gente falando que esses ETFs não iriam ser aprovados ou que não teriam sucesso e morreriam em poucas semanas.

Não querendo ser o profeta aqui, mas, modéstia à parte, já vivenciei muito neste mercado. Por isso, cansei de falar que este era um caminho sem volta. Os ETFs seriam, sim, aprovados, e teria uma injeção de capital muito maior do que os analistas estavam imaginando.

E por que eu digo isso?

Bom, a começar pela estrutura de negociação para a formalização dos fundos. Houve muita polêmica em torno desses produtos, com uma certa inclinação para empresas tradicionais, em vez das criptonativas.

Mais do que isso, sejamos sinceros: Uma BlackRock não entra em campo para perder. Eles sabiam que ali havia uma demanda muito grande represada e que, com seu nome dentro do mercado, ela teria uma boa fatia desse capital.

Mais do que isso, as entrevistas de Larry Fink pré-aprovação eram uma declaração de poder ao Bitcoin que nunca havia acontecido antes.

Neste cenário, é importante entender que o investidor institucional não quer fazer sua custódia. Mas também não quer deixar seu dinheiro com qualquer um. Por isso existem produtos específicos para este público como – pasmem – os ETFs.

É por isso que eu bati muito na tecla de que 2024 começaria forte para o mercado de criptomoedas e que a SEC não iria adiar mais uma vez a decisão. Janeiro seria o mês oficial de aprovação dos ETFs de Bitcoin… Dito e feito!

Leia mais: ETF de Bitcoin: vantagens e desvantagens de se investir em ETFs

Dez meses de capitalização

E assim como muitos achavam que os ETFs não iriam sobreviver, hoje vemos o potencial que estes fundos trouxeram ao mercado de criptomoedas. 

Logo nos primeiros dias de negociação, os ETFs registraram uma entrada considerável de capital. Não à toa, os fundos da criptomoeda levaram dois meses para alcançar US$ 10 bilhões, contra dois anos do ouro.

Hoje, o que vemos é um acumulado de ETFs que detém mais de US$ 66 bilhões em Bitcoin. E só nos últimos 30 dias, foram injetadas mais de 65,9 mil unidades da criptomoeda – que apesar de menor do que o início do ano, ainda é bastante expressivo.

Fato é que não há qualquer tendência de que este movimento vá diminuir. Ao contrário, a perspectiva é de que esse mercado se desenvolva cada vez mais, como foi com a chegada dos ETFs de Ethereum e, por que não, os de Solana.

É igual, mas nem tanto

O que eu quis trazer neste primeiro artigo é mostrar que o mercado de criptomoedas tem certas semelhanças ao ambiente tradicional. Há, sim, políticas, interesses e muito capital em torno das criptomoedas.

Porém, ao contrário do que vemos com ações, big techs e qualquer outro player deste tipo, é que o Bitcoin – e muitas outras moedas digitais – é uma tecnologia extremamente valiosa e segue ainda sendo descentralizado.

Todos esses movimentos financeiros, sejam de instituições ou baleias, são totalmente rastreáveis. É possível antecipar, acompanhar e ver o destino final de cada uma das transações desses investidores.

Essa transparência não é vista em nenhum lugar do mundo. Ao mesmo tempo que a censura deste tipo de ativo só é condizente com ambientes autoritários, em que a internet é suprimida completamente.

Caso contrário, o Bitcoin é livre, você é livre, e seu dinheiro passa também a ser livre!

Agradeço mais uma vez ao pessoal da BeInCrypto pelo espaço e a você que acompanhou este artigo. No próximo mês estarei aqui com vocês, contando minhas experiências e novidades do mercado de criptomoedas. 

O artigo O que ninguém entendeu (ainda) sobre os ETFs de Bitcoin foi visto pela primeira vez em BeInCrypto Brasil.

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