Número de criptomoedas em circulação explode em 2021 e passa de 10.000

O número de criptoativos em circulação não para de crescer. Na primeira metade de 2021, a agregadora de dados CoinMarketCap adicionou 2.655 novos criptoativos para sua base de dados, totalizando 10.810 moedas listadas.

O número de novas moedas supera com folga o boom das ofertas iniciais de moedas (ICOs) de 2018, quando a CoinMarketCap listou seu ativo de número 2.000.

Esse ano “presenciou uma explosão cambriana de novos criptoativos como uma consequência de inúmeros ventos favoráveis”, disse Aaron Khoo, head de listagem na CoinMarketCap, se referindo ao episódio evolutivo que ocorreu há 541 milhões de anos, quando um grande número de novos organismos passaram a existir como em uma “explosão”.

Assim como o CoinMarketCap, duas outras agregadoras de dados também adicionaram 2 mil criptoativos ou mais às suas bases de dados em 2021. A CoinGecko, de Singapura, listou 3.064 ativos novos em seu website, enquanto a plataforma de pesquisa e dados em criptoativos polonesa Coinpaprika listou 2 mil novos ativos.

Wojciech Maciejewski, gerente de desenvolvimento de negócios na Coinpaprika, disse que a plataforma está atualmente inundada de novas solicitações para a listagem de moedas digitais. “Nós não temos pessoal suficiente para trabalhar todas as solicitações”, disse Maciejewski.

Representantes de CoinMarketCap, CoinGecko e Coinpaprika concordam que o aumento de novos criptoativos em 2021 é motivado por uma combinação de ações favoráveis aos preços, o fluxo de entrada de instituições financeiras tradicionais, influencers e celebridades no espaço, em conjunto com o boom dos NFTs e o surgimento das moedas inspiradas em memes, como dogecoin, shiba e safemoon.

Não é a primeira vez que o mundo das criptomoedas é testemunha de uma alta drástica no número de novos ativos. Depois que o boom de ICOs estourou em 2017, novos ativos digitais surgiram no mercado da mesma forma. No entanto, mais de três quartos das ICOs eram na verdade fraudes, enquanto praticamente metade falhou em obter fundos.

Se o histórico serve de indicador, é possível afirmar que apenas alguns dos milhares de novos criptoativos que explodiram no mercado em 2021 irão sobreviver.

“Nós não temos dados que apoiam isso, mas a expectativa é que (os novos criptoativos) sejam mais ou menos similares aos que surgiram no ICO de 2017, onde apenas alguns conseguiram se manter no mercado depois do frenesi inicial”, disse Sze Jin Teh, gerente de produtos da CoinGecko em um email.

Por trás dos números

Entre 2014 e 2021, quase 16 mil criptoativos foram criados, de acordo com dados da CoinGecko, mas esse número inclui todas as moedas, ativas ou inativas (ligadas à projetos interrompidos).

Por exemplo, de acordo com Maciejewski, as moedas ativas consistem em aproximadamente metade dos 6.342 ativos listados na Coinpaprika, e uma parte desses criptoativos desativados foram criados no boom de ICOs.

Dados compartilhados pela CoinGecko revelam que aproximadamente 16 mil criptoativos foram criados nos últimos 6 anos e meioCoinGecko/Coindesk/Reprodução

A CoinGecko, por exemplo, registrou alta mensal histórica no número de novas moedas listadas na plataforma em 2017, de acordo com dados compartilhados com a Coindesk. A plataforma chegou a listar 914 ativos apenas em dezembro daquele ano.

De acordo com Kristian Kho, líder de operações na CoinGecko, o mês de dezembro de 2017 foi o pico do frenesi das ICOs, quando surgiu o interesse do varejo em criptomoedas, coincidindo com a alta histórica nos preços do bitcoin na época. “Foi a primeira vez que presenciamos uma corrida na criação de uma nova classe de tokens para capitalizar em cima do sucesso de pioneiros como Filecoin, Tezos, EOS e outros. Na época, nós criamos até mesmo uma página dedicada a rastrear todos os ICOs em andamento”, disse Kristian Kho. Mas a maioria desses tokens teve vida curta.

“Muitos dos projetos que angariaram fundos simplesmente se dissolveram após esgotarem seus meios de funcionamento”, disse Kristian Kho.

Mas Sze Jin Teh diz que um número ainda maior de moedas surgiu agora em comparação com 2017, e através de múltiplos blockchains, incluindo Ethereum, Polygon e o Binance Smart Chain.

“Existem cada vez mais ideias, mas também cada vez mais fraudes de que temos que deixar nossos usuários informados”, disse Maciejewski, adicionando que a Coinpaprika está recebendo sete vezes mais solicitações do que em 2018.

Esses números surpreendentes ainda não refletem o total de criptoativos circulando pela internet.

“As moedas listadas pela CoinMarketCap representam uma camada fina (aproximadamente 20% de taxa de aprovação) do número total de solicitações de novas moedas”, disse Aaron Khoo em um email.

De acordo com Aaron Khoo, durante a primeira metade de 2021, a CoinMarketCap recebeu o número gritante de 10.793 solicitações de projetos de criptomoedas e companhias buscando ter seus ativos listados.

O processo de aprovação

Para enfrentar o crescente número de criptoativos e solicitações de listagem, cada plataforma tem seus próprios critérios de aprovação.

A CoinMarketCap revisa uma lista extensa de métricas compartilhadas em seu website, mas de acordo com Aaron Khoo, há também um elemento de competição, ao comparar um ativo com outro similar que também solicitou listagem.

“A avaliação da CoinGecko é feita de forma holística com uma série de critérios internos que são utilizados para avaliar cada moeda. Os critérios exatos para aprovar a listagem não são divulgados para evitar a manipulação por parte do time do projeto”, disse Kristian Kho em um comunicado escrito.

Mas ambas as plataformas, junto com a Coinpaprika, observam bem de perto o volume ativo de negociações da moeda e sua liquidez, juntamente com outros fatores, incluindo a presença em mídias sociais, postura da comunidade quanto à moeda e o time por trás do projeto.

De acordo com Kristian Kho, o surgimento das corretoras descentralizadas (DEXs), onde a listagem não necessita de permissões e as taxas são baixas, tornou ainda mais fácil a criação e inserção de moedas no mercado. Isso significa que qualquer pessoa pode tokenizar qualquer coisa, alimentando o estranho mundo das moedas inspiradas em memes, disse Aaron Khoo. “Quanto à isso, a CoinGecko se tornou muito mais rigorosa na listagem de novos tokens. Isso acontece porque a ocorrência de fraudes aumentou com o surgimento das DEXs”, disse Kristian Kho.

No momento, a Coinpaprika aceita 95% das solicitações de ativos que já estão listados em corretoras centralizadas, como a Binance ou a Coinbase, descartando apenas solicitações incompletas. Mas quando se trata das DEXs, a taxa de aceitação cai para aproximadamente 60% ou 70% porque elas geralmente não têm canais de comunicação estáveis ou confiáveis, por conta de sua natureza descentralizada.

A corrida das memecoins

Segundo Kristian Kho, a maior parte das solicitações recebidas pela CoinGecko são de moedas inspiradas em memes.

“A popularidade e alta nos preços de moedas como dogecoin e shiba inu inspirou muitas pessoas a lançar suas próprias moedas inspiradas em memes, na esperança de capturar o sucesso das duas primeiras”, disse Kristian Kho.

Ele ainda adicionou que a facilidade em criar um token simples permite que qualquer pessoa lance uma moeda inspirada em meme, e assim solicite a listagem da CoinGecko.

“No último trimestre, as memecoins (especialmente as inspiradas nas variedades caninas) dominaram totalmente as solicitações de listagem, sendo três a cada quatro inscrições recebidas”, disse Aaron Khoo, da CoinMarketCap.

Ele também afirma que a partir da fama meteórica do jogo em blockchain Axie Infinity, que é parcialmente operado por seus jogadores, a CoinMarketCap testemunhou alta modesta nas moedas de jogos e NFTs.

Mas as moedas inspiradas em memes de 2021 aparentam ser os ativos que mais lembram os tokens de ICO de 2017 em termos de quantidade e longevidade.

“Tokens inspirados em memes tendem a ser efêmeros, e eu diria que aproximadamente 75% deles irá morrer rapidamente se não viralizarem dentro dos próximos meses”, disse Aaron Khoo.

Ele explica que os maiores determinantes de falha são times que se unem precipitadamente buscando dinheiro rápido e a falta de adeptos fiéis mobilizando causas comuns dentro das respectivas comunidades de suas moedas.

Mas ainda é cedo para dizer o que acontecerá com os novos criptoativos que se uniram ao mercado, de acordo com Aaron Khoo.

“Temos quantidade, mas a qualidade ainda permanece muito subjetiva – entre tokens inspirados em memes e fazendas de rendimento, ainda existem projetos genuínos buscando melhorar o espaço, então provavelmente ainda levará tempo antes de que possamos dizer”, afirma Khoo.

Texto traduzido e republicado com autorização da Coindesk

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