NFTs tomam conta de Nova York e em breve poderão estar na sua casa
por Michael J. Casey*
É difícil encontrar palavras para descrever o fenômeno do mundo cripto que Nova York está testemunhando agora.
A conferência NFT.NYC desta semana, que foi realizada pela primeira vez em fevereiro de 2019 como uma curiosidade peculiar perante um público de algumas centenas de entusiastas, foi distribuída por seis locais, com três dias de programação cobrindo 600 palestrantes. Cerca de 5.500 ingressos foram vendidos – com limitações de espaço, deixando mais 3.000 na lista de espera – para participantes que negociaram 700.000 NFTs.
Havia 15 outdoors temáticos diferentes sobre NFTs na Times Square. Houve festas, jantares, shows de música eletrônica e galerias de arte digital pela cidade, muitas das quais ostentavam estrelas do cinema e da música promovendo NFTs. E havia inúmeros projetos recém-criados promovendo tudo, desde soluções de royalties para músicos a NFTs de uísque. Foi um carnaval de inovação, uma ampla celebração de possibilidades.
Mas para o que tudo isso está apontando?
O aspecto mais impressionante de tudo isso é a rapidez com que essa indústria surgiu, aparentemente do nada, gerando novos modelos de negócios e invenções construídas com base nessas novas ideias. É isso que torna a evolução deste espaço tão difícil de prever.
No entanto, com essa advertência em mente, ainda acho que vale a pena refletir sobre algumas lições do evento, para tentar dar algum sentido a tudo isso:
O poder do evangelismo
Sam Ewen, chefe da CoinDesk Studios, usou esse termo religioso para descrever como os entusiastas de NFT compartilham, ideias, conceitos e os próprios NFTs, que estão ajudando a aumentar o espaço rapidamente . Não é puramente altruísta porque existem efeitos de rede reais e tangíveis que vêm de uma adoção mais ampla, o que aumenta o valor dos ativos em questão. Mas também há poucas dúvidas de que a comunidade dos NFTs é verdadeiramente apaixonada por esta indústria e que a paixão é um impulsionador de seu crescimento.
Ethereum é o rei
Mas por quanto mais tempo? Existem vários blockchains agora atendendo à indústria dos NFTs, mas o rei indiscutível ainda é o Ethereum. É uma pequena coincidência que o preço do ether, criptomoeda nativa da rede, saltou para novos recordes esta semana em meio ao tumulto em torno da NFT.NYC. Mas a questão é se essa liderança será sustentada. As taxas de Gas – os custos de transação – são muitas vezes proibitivamente altas no Ethereum, por conta do congestionamento da rede. Os recém-chegados no espaço que desembarcaram aqui por meio da conferência teriam ficado chocados ao descobrir que as taxas freqüentemente excedem o valor da NFT sendo negociado. Blockchains mais recentes como Flow, Avalanche e Solana agora competem para oferecer transações a preços mais baixos e atrair mais ação envolvendo NFTs. De forma notável, os preços dos dois últimos tokens também dispararam esta semana.
Quando haverá interoperabilidade?
É muito bom que as empresas migrem de Ethereum para Solana, mas o risco é que, ao fazer isso, acabemos apenas construindo castelos isolados que não permitem que as pessoas movam seus ativos. Para piorar as coisas, mesmo dentro de blockchains, o acesso à arte anexada aos NFTs geralmente depende de termos definidos pelos marketplaces ou plataformas construídas sobre eles. Assim, as pessoas acabam sendo forçadas a permanecer nesses ambientes. A preocupação é que essa tecnologia, supostamente um caminho para o futuro da Web 3, está apenas levando a uma nova versão das antigas plataformas fechadas da Web 2.
O maior marketplace, o OpenSea, por exemplo, é muito bem financiado por empresas de Venture Capital como a Andreessen Horowitz, que historicamente fez seu dinheiro investindo em empresas que seguem estratégias de centralização da Web 2. O que é necessário são protocolos e padrões que permitem transferências de ativos interoperáveis. O primeiro vem por meio de protocolos como Polkadot, mas também é preciso haver vontade de construir dessa forma e desistir dos interesses de monopólio. Felizmente, o espírito evangelístico e o desejo de maximizar os efeitos da rede levarão as pessoas nessa direção.
O metaverso? Um metaverso?
Todos no mundo dos NFTs estão falando sobre o metaverso, um termo cunhado pela primeira vez pelo autor Neal Stephenson, para descrever o conceito de uma nova existência digital. Os NFTs são vistos como uma espécie de bloco de construção do “direito de propriedade” dessa ideia. Agora, Mark Zuckerberg, CEO da recém-renomeada Meta (também conhecida como Facebook), afirma estar construindo-a. Mas parece contrário ao conceito de que esse ambiente digital não seria controlado por interesses proprietários. Talvez o Facebook esteja construindo uma versão do metaverso, mas não o metaverso. Em relação ao ponto anterior, precisamos de um metaverso aberto. É bom ver a Universidade de Nicósia no Chipre, que foi pioneira no fornecimento de cursos sobre blockchain, agora abrindo caminho neste tópico com sua Iniciativa de Metaverso Aberto.
O poder das celebridades
Não importa o quão abertas essas plataformas sejam, ainda vamos enfrentar a realidade de que a real centralização do poder na indústria da arte e do entretenimento está no poder das celebridades. Isso chegou às casas das pessoas por conta do frenesi gerado por grandes nomes da NFT.NYC: Quentin Tarantino, com seu lançamento exclusivo dos NFTs de “Pulp Fiction”, uma performance cujos ingressos esgotaram de Kaskade e um evento patrocinado pelo Bored Ape Yacht Club apresentando The Strokes, Lil Baby, Beck, Chris Rock, Aziz Ansari e Questlove.
Em suma, embora esta conferência tenha apresentado a inovação frenética que torna os NFTs uma promessa para uma economia digital nova e mais descentralizada, continuaremos a enfrentar alguns dos desafios humanos do Velho Mundo dentro de interesses concorrentes à medida que a tecnologia se desenvolve.
* Michael J. Casey escreve para a CoinDesk.
Este é um conteúdo da CoinDesk. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
Texto traduzido por Mariana Maria Silva e republicado com autorização da Coindesk
Siga o Future of Money nas redes sociais: Instagram | Twitter | YouTube