‘NFTs poderão ter diversos casos de uso, mas não são um bom investimento financeiro’, diz especialista

Esfriamento do mercado vai contribuir para o desenvolvimento de aplicações e casos de uso ainda desconhecidos para os tokens não fungíveis.

Os primeiros seis meses de 2022 foram de altos e baixos para o mercado de NFTs (tokens não fungíveis). Em janeiro, o marketplace OpenSea registrou o volume mensal recorde de US$ 5 bilhões em negociações, ao mesmo tempo que as principais coleções do mercado atingiam preços recordes.

À medida que a tendência de queda do mercado de criptomoedas tornou-se evidente, prenunciando que há um longo inverno pela frente, o mercado de NFTs também sucumbiu, deixando no ar a dúvida: serão os tokens não fungíveis uma alternativa de investimento interessante?

Especialistas brasileiros ouvidos em uma reportagem do UOL são unânimes em afirmar que os NFTs poderão vir a ter diversos casos de uso, mas dificilmente serão considerados um bom investimento financeiro.

Segundo o pesquisador e diretor de projetos do IP.Rec (Instituto de Pesquisa em Direito e Tecnologia do Recife), Caio Scheidegger, o boom dos NFTs foi impulsionado pelo FOMO (fear of missing out, que em tradução livre significaria medo de ficar de fora):

“NFT não é um mercado regulamentado. Nenhuma premissa do modelo de negócios nem da tecnologia tem respaldo. A blockchain [usado na criação do ativo digital] não garante exclusividade do ativo, por mais que exista um token de identificação.”

Na prática, por ser apenas um certificado digital de propriedade, e não o ativo em si, a suposta exclusividade que eles garantem aos seus proprietários é ilusória, uma vez que qualquer um pode copiar e utilizar itens ou imagens vinculados a qualquer NFT, afirma Scheidegger. 

Enquanto uma tecnologia nascente, o potencial dos tokens não fungíveis ainda está por ser explorado, mas dificilmente eles serão capazes de capturar valor, conclui:

“A tendência é que os NFTs possam ser usados para fins diversos, mas não como um investimento. O mercado, em si, perdeu valor e financiamento”.

Boom ou bolha?

Os tokens não fungíveis foram a grande inovação tecnológica da indústria de criptomoedas durante o ciclo de alta de 2021. Os certificados digitais de propriedade registrados em redes blockchain emergiram através de obras de arte digital, tornaram-se extremamente populares e valiosos com coleções de fotos de perfil (PFP), como Bored Ape Yacht Club (BAYC) e Azuki, se configuraram como o alicerce do mercado de terrenos virtuais e encontraram nos games play-to-earn um dos seus principais casos de uso.

Em um ano, o mercado de NFTs movimentou mais de US$ 40 bilhões. Seis meses depois, o volume de negociação do OpenSea registra queda de 84% em 30 dias e junho se encaminha para ser o primeiro mês em que os NTFs movimentam menos de US$ 1 bilhão desde julho de 2021.

Os dados indicam que os investidores estão se tornando mais cautelosos e grandes projetos perderam uma quantidade significativa de valor. Ainda assim, o número de transações diárias no OpenSea segue em alta nestes mesmos últimos 30, embora o preço médio dos NFTs tenha caído significativos 67,78%, de acordo com dados da plataforma de monitoramento de aplicativos descentralizados Dapp Radar.

Isso indica que alguns investidores estão optando por se desfazer de seus NFTs a preços mais baixos em busca de liquidez, enquanto outros estão aproveitando os descontos do mercado para aumentarem suas coleções.

Embora o mercado esteja em queda, até agora em 2022, os NFTs já movimentaram aproximadamente US$ 37 bilhões, de acordo com um relatório recente da firma de monitoramento de dados on-chain Chainalysis. Ou seja, não há dúvidas que o mercado terá se expandido até o final do ano em comparação com 2021.

As oscilações verificadas até agora este ano são naturais para um mercado ainda muito novo, movido primordialmente pelo capital especulativo, conforme destacou o professor de tecnologia e design da PUC-SP e pesquisador do NIC.BR, Diogo Cortiz à reportagem:

“Toda tecnologia começa com um grande salto de empolgação, atrai especuladores e depois dá uma esfriada até chegar num ponto de equilíbrio. Não está sendo diferente com os tokens não fungíveis, que atraiu um monte de projetos sem sentido, com o mercado tentando vender qualquer coisa como NFT”.

Já o presidente da Associação Brasileira de Proteção de Dados (ABPDados), Renato Opice Blum, o esfriamento do mercado tem um aspecto positivo – a depuração e o desenvolvimento de novas aplicações e casos de uso para os NFTs:

“O capital especulativo é para movimentar coisas novas, como NFTs, criptomoedas e outras tecnologias disruptivas. Muitos que entraram só para experimentar estão retirando o seu capital. Acredito que os NFTs não vão acabar.”

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, o boom dos NFTs chegou com força ao Brasil na primeira metade de 2022. Na semana que vem, o Rio de Janeiro vai sediar a primeira exposição internacional inteiramente dedicada aos tokens não fungíveis realizada no Brasil. O NFT.Rio acontece de 29 de junho a 3 de julho, no Parque Lage, na zona sul da capital carioca.

LEIA MAIS

Você pode gostar...