“NFT empodera mulheres a produzir e comercializar suas artes” – Entrevista com a artista brasileira CECHK
A recente popularização dos tokens não fungíveis (NFT) abriu um novo mundo para que artistas possam exibir e vender o seu trabalho de forma 100% digital.
CECHK é uma das cripto artistas que mergulharam fundo nesse novo setor e vem construindo de forma consistente seu reconhecimento no mercado.
Apesar dos NFTs terem chamado a atenção do público apenas neste início de ano, CECHK comercializa suas obras em diferentes plataformas desde julho de 2020.
Quem está por trás do pseudônimo é Gabriela Cecchin, uma artista digital de 21 anos de Campo Mourão (PR). Hoje, ela concilia a vida de artista NFT com o seu trabalho de designer em uma agência e um curso de graduação em Letras.
O gênero, idade e local onde mora não impediram Gabriela de ganhar destaque no mercado de NFTs. De acordo com os dados do agregador Cryptoart.io, o total de obras vendidas pela artista estão hoje avaliadas em torno de R$ 220 mil.
Em conversa com o BeInCrypto, a artista conta, entre outras coisas, que a possibilidade de ter um espaço inclusivo para fazer sua produção ser reconhecida é a principal qualidade dos NFTs.
“A possibilidade de qualquer pessoa poder fazer um NFT é o que torna a cripto arte tão especial e por isso que eu vejo tantas artistas mulheres ganhando reconhecimento na área. É muito importante nos reunirmos para falar de temas como feminismo, seja no mundo cripto ou artístico. Eu noto que o setor dá muita voz às mulheres e nos empodera a produzir e comercializar nossa arte, gerando liberdade financeira o que é essencial para uma mulher. Eu tenho muita paixão por fazer parte disso.”
CECHK também falou de seu processo criativo, sobre detalhes da indústria nascente e revela se é possível, hoje, viver apenas de NFT no Brasil. Confira a entrevista completa.
Como você conheceu o mundo NFT?
Eu estava de bobeira no Twitter quando apareceu algo sobre criptoarte na minha timeline que me chamou atenção na hora. Fui pesquisar e achei aquilo tudo muito interessante e acabei entrando de cabeça neste mundo.
Eu já conhecia criptomoedas e bitcoin mas nunca tinha investido. Entender o setor de NFT é difícil no começo porque é muita informação nova para absorver de uma só vez, então eu fiquei o mês inteiro só pesquisando até eu conseguir entender como funcionava e fazer meu primeiro NFT.
Como esse novo meio de comercializar obras mudou a sua vida como artista?
Antes dos NFTs eu só postava meu trabalho no Instagram e mais nada. Na verdade, eu já tinha procurado formas de comercializar minhas obras, mas meu estilo não encaixava com nada de galeria.
O que mudou para mim é que agora eu me sinto empoderada com artista nesse meio digital da criptoarte. Eu vejo vários artistas que têm estilos muito diferentes que às vezes não se encaixam no museu, e na criptoarte tem espaço para todo tipo de arte e eu acho isso incrível.
Você ajudou a fundar o Women of Crypto Art (WOCA), um coletivo que reúne as artistas mulheres do setor NFT. Como surgiu esse grupo e qual foi o objetivo em criá-lo?
Não é meu, mas eu participo bastante. O WOCA é um grupo que começou no ano passado a partir de um grupo no Twitter que já existia com várias mulheres artistas. Lá nós notamos que haviam muitas mulheres fazendo criptoarte, mas não tínhamos um lugar para nos conhecer e assim surgiu também um grupo no Discord.
Hoje são várias mulheres de diferentes lugares do mundo fazendo parte do WOCA e lançamos recentemente um site para divulgação de trabalhos. Em seguida, planejamos lançar também uma DAO (Organização Autônoma Descentralizada) e no futuro uma plataforma de estudos.
Que tipo de arte você cria? Do que você gosta de abordar no seu trabalho?
Eu gosto muito de desenhar coisas bizarras, principalmente de assuntos relacionados com saúde mental, um tema que me interessa bastante. Eu também gosto de falar sobre feminilidade no meu trabalho, além de internet e o mundo neo-cyberpunk.
E suas técnicas? Como é o seu processo de criação?
Meu trabalho principal é digital, mas eu também faço bastante desenho em sketchbook e aquarela, mas esses trabalhos feitos eu acabo não publicando.
Eu prefiro o digital pela liberdade que o ambiente dá ao artista de poder experimentar no seu trabalho várias coisas diferentes. Muitas vezes eu pego algum desenho que comecei no papel e passo para o computador para trabalhar em cima dele, mas não tem uma regra de como é o processo de criação.
Depois que você entrou em contato com os NFTs, sua arte mudou? Por exemplo, você já cria pensando nos elementos que funcionam só no meio digital?
Sim, às vezes no papel você não consegue fazer tudo que você imagina. Por exemplo, eu tenho uma arte nova que surgiu de um pesadelo que eu fiz primeiro no papel. Eu não tinha gostado do desenho, mas da ideia sim. Então peguei aquilo e desenhei no digital e assim eu consegui transformar em algo com composição, com anatomia, dando um novo significado para aquela ideia.
Geralmente no papel é mais difícil porque você não pode dar Ctrl+Z, mas no computador sim. Além disso, permite que o artista adicione elementos interessantes à sua obra, como animações, e ir experimentando o que dá certo.
Qual foi a obra mais cara que você já vendeu? Você conseguiria se sustentar só com a venda de NFTs?
A obra mais cara que eu vendi foi 3.5 ETH (cerca de R$ 40 mil na cotação atual) no ano passado, quando o Ethereum estava em cerca de US$ 300, e fiquei muito feliz aquele dia.
Eu acho que NFT pode sim ser a única renda para um artista conseguir sobreviver apenas da sua arte, principalmente se você tiver colecionadores e pessoas que apreciam seu trabalho.
Agora para mim daria para sobreviver só disso, mas eu me prendo muito em ter a renda fixa do meu emprego, já que eu gosto de fazer tudo ao mesmo tempo, quero fazer um mestrado no futuro e continuar a ser artista.
Depois que sua obra é vendida e entra no mercado, você ganha algo quando ela volta a ser negociada pelo comprador?
Sim, cada plataforma tem suas taxas de repasse. Por exemplo, se um colecionador comprou minha obra por 1 ETH e vendeu por 10 ETH, eu vou receber 10% da venda. Eu acho que isso é uma das coisas mais legais dos NFTs.
Quais plataformas você usa e como são as taxas que esses mercados cobram dos artistas?
Eu não uso só uma. Como eu já estou há um tempinho na área eu acabei me envolvendo com várias plataformas. A primeira que eu entrei foi o Rarible, mas cada mercado tem seu formato, características e regras.
As taxas dependem da plataforma, no Rarible você paga 5% da sua obra vendida para a plataforma, já no Origin a taxa é 20%. Geralmente as taxas são nessa média. Mas eu acho muito justo principalmente pelo tamanho da tecnologia e pela inovação comparando com as galerias de arte tradicionais que vão cobrar 50% de taxa do artista.
As plataformas também deixam o artista escolher quais direitos conceder da sua obra para o comprador. No meu caso, por exemplo, eu nunca concedo copyright.
Você acredita que os NFTs vão conseguir se sustentar para além desse hype inicial?
Eu acho que depois da venda do Beeple com certeza tem bastante hype agora mas eu acho que a tecnologia está aí para ficar. Esse movimento do NFT no início do ano proporcionou para quem é artista, pensar numa maneira mais global e abrangente de como fazer a sua arte chegar a mais pessoas.
É claro que agora tem muitas pessoas que querem aproveitar a alta para fazer muito dinheiro com a venda de NFT, não só de arte mas também de outros colecionáveis, mas eu acho que essa nova forma de comercializar vai ficar sim porque é revolucionária.
Como está o movimento de artistas brasileiros entrando no mundo dos NFTs? Você que já está no setor consegue notar um crescimento?
Está crescendo sim, estou conhecendo uma galera nova do Brasil porque existe um grupo no Discord onde o pessoal do setor pode interagir e compartilhar o trabalho.
No Twitter eu sempre usei inglês porque quando eu entrei tinha poucos artistas brasileiros fazendo NFT. Eu ainda prefiro usar inglês no Twitter porque assim eu conheço artistas de vários países e me conecto com uma galera de diferentes culturas, o que enriquece muito.
Mas agora está aparecendo uma galera muito legal do Brasil. Tem vários artistas muito bons que vale a pena conhecer o trabalho, como Quézia & lesCogumelos, Etiene Crauss, Camo Leite e Lukas Azevedo, só para citar alguns. De fora do Brasil, eu me inspiro muito no trabalho da Miss Al Simpson e XCOPY.
Você sente que NFT sofre alguma resistência vinda do setor mais tradicional das artes?
Eu não estou vendo muita resistência, mas talvez seja por causa da minha bolha. Eu vejo muitas análises interessantes, nem sempre corretas do que os NFTs fazem, mas como eu sempre fui de arte digital então as pessoas deste setor são mais abertas.
Mas é verdade que NFT é um conceito muito alienígena para as pessoas entenderem. Eu vejo vários artistas que estão entrando agora com muita dificuldade de entender como blockchain funciona, por exemplo. É difícil de pegar no começo, mas depois que você entende o conceito central desse mundo, sua mente explode.
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