Narrativa em xeque: Por que o Bitcoin segue em queda apesar da alta da inflação

Contrariando a narrativa que vinha se consolidando ao longo do atual ciclo de alta de que o Bitcoin é um ativo de proteção, BTC manteve-se em queda após a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor dos EUA que apontou uma inflação anualizada de 6,8%, a mais alta desde 1982.

A divulgação do Índice de Preços ao Consumidor dos EUA (CPI) na sexta-feira apontou uma taxa de inflação anualizada de 6,8%, a mais alta registrada no país desde 1982. Esperava-se que a ação de preço do Bitcoin (BTC) fosse impulsionada pela alta dos preços na principal economia do mundo, mas o que se viu foi um movimento lateral, com variações na faixa de US$ 46.000 a 50.777, acompanhado de um volume moderado de negociação.

Enquanto isso, o ouro subiu 0,97% e o Índice Dow Jones está em queda de 0,65% desde a abertura dos mercados nesta segunda-feira, embora Wall Street tenha antecipado de forma bastante precisa os números revelados na sexta-feira. Ou seja, a inflação alta era dada como certa e já fora precificada pelo mercado.

O fato novo é que o comportamento do Bitcoin coloca em dúvida a narrativa que vinha se consolidando ao longo deste ano de que a maior criptomoeda do mercado é o melhor ativo de proteção contra a inflação e a desvalorização das moedas fiduciárias.

Embora em seus doze anos de existência o Bitcoin tenha se mostrado uma proteção efetiva contra a inflação analisando a valorização do ativo retrospectivamente, a ideia de que o Bitcoin continuará sendo um ativo efetivo enquanto reserva de valor no longo prazo é meramente especulativa.

A aposta de que isso poderá manter-se tão verdadeiro quanto tem sido até hoje é uma das razões pelas quais o Bitcoin é um investimento tão atraente nos dias de hoje e também é uma das principais razões para se estar exposto a ele no presente. No entanto, nos dias de hoje, o Bitcoin não pode ser considerado um ativo de proteção considerando-se o seu comportamento no curto prazo.

Caso a adoção do Bitcoin mantenha-se em expansão, atraindo mais empresas, investidores insititucionais e do varejo, e até países, como El Salvador, a estabilidade de preço poderá se tornar uma realidade. Aí sim, ele se credenciará como um ativo de proteção tal qual o ouro.

Quando comparado ao Bitcoin, o ouro apresenta uma performance muito menos atraente do que o Bitcoin nos últimos dez anos. Mas o que poderia ser entendido como uma falha talvez seja a sua maior qualidade: a estabilidade de preço e, consequentemente, a preservação dos valores nele investidos.

Nic Carter, sócio da Castle Island Ventures, cofundador e presidente da Coin Metrics, e pensador do Bitcoin, disse em uma recente entrevista a Peter McCormack que para atingir uma capitalização de mercado similar a do ouro hoje, o BTC precisaria crescer dez vezes. Embora o caminho até aqui tenha sido relativamente rápido – e se acelerou ainda mais nos últimos doze meses -, a paridade BTC-ouro nesse quesito ainda parece distante.

Por enquanto, a cotação do Bitcoin não guarda correlação direta com a inflação, muito embora os dois estejam em alta até agora em 2021. A se tomar apenas apenas este dado como parâmetro, a narrativa do “ouro digital” carece de sustentação.

O fato é que há outras forças em jogo impactando o preço do BTC nesse momento. A alta sustentada do Bitcoin iniciou-se logo a seguir o “crash” motivado pela confirmação do coronavírus como uma pandemia de proporções globais. Logo, é natural que mais cedo ou mais tarde os investidores venham a realizar lucros.

Especialmente, porque apesar da narrativa do “ouro digital”, o Bitcoin ainda é um ativo majoritariamente especulativo. Sua cotação não se baseia em sua utilidade no presente, mas em expectativas futuras.

Hoje, o Bitcoin já não é mais imune ao cenário macroeconômico e as informações a que o mercado está realmente atento quando se trata do destino do BTC no curto prazo virão da reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto do FED (Banco Central dos EUA) na próxima quarta-feira. É esperado que o FED anuncie a antecipação do fim de sua política de estímulos monetários e sinalize um aumento da taxa de juros.

Nesse momento, as incertezas prevalecem e a volatilidade está alta. A confirmação da mudança de rumos da política monetária nos EUA pode provocar a continuação da fuga do mercado cripto em um movimento de proteção contra o risco. E a inflação em alta não parece ser um indicador suficientemente forte para equilibrar a balança em favor do Bitcoin.

Deflação

Este é o cenário no curto prazo. No entanto, o estrategista-chefe de commodities da Bloomberg, Mike McGlone, defende que o Bitcoin e o Ethereum (ETH) poderão se beneficiar de um cenário macroeconômico deflacionário caso se confirme o aumento da taxa de juros pelo FED.

Segundo McGlone, se a deflação se confirmar o FED será obrigado a rever sua política monetária, reduzindo a taxa de juros para estimular o mercado, assim como aconteceu ao longo de 2020 e 2021.

Segundo McGlone, a combinação da taxa de juros de longo prazo do tesouro americano fixada em patamares abaixo de 2%, a queda do mercado acionário e a institucionalização das criptomoedas pelos EUA a partir do estabelecimento de um marco regulatório favorável à indústria voltarão a impulsionar o mercado cripto em 2022:

“O Bitcoin enfrentará obstáculos inicialmente se o mercado de ações cair, mas à medida que a queda dos preços das ações pressiona os rendimentos dos títulos e incentiva a injeção de liquidez do Banco Central no mercado pode fazer com que as criptomoedas se tornem as principais beneficiárias.”

McGlone acredita ainda que os gestores dos grandes fundos não podem correr o risco de ter ao menos parte de seus recursos alocados em criptomoedas uma vez que no acumulado dos últimos dois anos o mercado de criptomoedas teve uma performance muito superior ao S&P500, levando-se em conta o Bloomberg Galaxy Crypto Index.

A disputa entre o Bitcoin e o ouro também deve continuar em 2022, de acordo com o analista, que acredita na manutenção de uma tendência em favor dos ativos digitais:

“Os fundos têm se afastado do ouro em direção ao Bitcoin e ao Ethereum. A questão para 2022 está centrada na reversão ou na aceleração desses fluxos. Com os rendimentos dos títulos em declínio, sob nosso ponto de vista a tendência é que sigam se acelerando.”

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, duas métricas do mercado de derivativos indicam que o BTC já atingiu o fundo e está apto a retomar patamares de preço mais elevados.

LEIA MAIS

Você pode gostar...