Napster e bitorrent: a diferença entre rede Ponto a Ponto (P2P) e Blockchain

Rede Ponto a Ponto (P2P) não é algo novo. O conceito de rede P2P surgiu com o Napster.

Infelizmente, o Napster, que quando ativo acumulava 80 milhões de usuários, foi retirado do ar em 2001 devido a desafios legais relacionados ao download ilegal de música.

Ele serviu de modelo para o BitTorrent, que hoje é uma popular rede para compartilhamento de arquivos.

Nos últimos tempos, a rede Bitcoin, baseada na tecnologia blockchain, tornou-se uma das principais referências de redes P2P descentralizadas nativas, servindo como uma camada de infraestrutura para sistemas financeiros globais alternativos de troca de valor digital.

O sucesso relativo do Bitcoin reacendeu o interesse por redes P2P como um método de infraestrutura viável para a proliferação de protocolos técnicos e funcionais.

Como resultado, várias redes P2P aspirantes e existentes começaram a despontar e marcar presença no mundo online.

Neste artigo, explicarei a diferença entre a tecnologia Blockchain e redes P2P e tratarei da confusão que geralmente surge quando essas tecnologias são mencionadas juntas. 

Entendendo o que é uma rede Ponto a Ponto (P2P)

Nos termos mais simples possíveis, uma rede P2P é estabelecida quando houver dois ou mais computadores pessoais conectados, com compartilhamento de recursos e sem a necessidade de acesso a um servidor remoto.

Uma rede P2P pode ser uma conexão ad-hoc caracterizada por um pequeno número de computadores conectados através de Barramento Serial Universal (USB) para facilitar a transferência de arquivos.

Como alternativa, uma rede P2P pode ser uma configuração de longa duração que conecta até seis computadores em um pequeno espaço de trabalho por meio de fios de cobre.

E essa rede pode ter um escopo maior, caracterizada por protocolos e aplicativos exclusivos usados para criar interações diretas entre usuários pela Internet.

O fator em comum de todos esses exemplos é que cada PC conectado à rede atua simultaneamente como cliente e servidor, eliminando a presença de uma configuração operacional de rede distinta.

Ou seja, a manutenção de rede não necessita de um dispositivo robusto para suporte de aplicativos exclusivos do lado do servidor, como acontece em serviços de diretório. 

Portanto, em uma rede P2P, o direito de acesso é controlado pela criação de permissões de compartilhamento em PCs individuais.

Como exemplo, vamos imaginar uma situação em que Usuário 1 está com seu laptop conectado a uma impressora a qual Usuário 2 quer ter acesso. Neste caso, Usuário 1 deve configurar seu dispositivo para permitir (compartilhar) acesso à impressora.

Da mesma forma, se Usuário 2 precisar de acesso de visualização a, digamos, um arquivo no laptop do Usuário 1, este deve permitir o compartilhamento de arquivos em seu dispositivo. Para adicionar mais controle, senhas são frequentemente atribuídas aos recursos.

Agora vamos considerar a estrutura blockchain. Não há dúvidas de que sua estrutura seja bastante avançada e sofisticada. No entanto, podemos simplificar seu funcionamento para facilitar sua compreensão.

Basicamente, o sistema blockchain oferece uma maneira pela qual os dados digitais podem ser armazenados e distribuídos, mas não copiados.

Para entender melhor esse sistema vamos considerar uma situação em que você está trabalhando com um documento no Microsoft Word.

Se você precisar que este documento seja revisado por um colega, não há como fazer isso a não ser enviando o arquivo para que este faça as modificações.

Se o seu colega também quiser que você releia o mesmo documento e faça novas revisões, ele precisará salvar a nova cópia e enviá-la de volta para que você possa editar.

Ou seja, apenas uma pessoa pode editar o documento em qualquer instância específica. 

Agora considere o mesmo cenário, mas substitua o Microsoft Word pelo Google Docs. Neste caso, você pode fazer edições no mesmo documento simultaneamente, desde que o proprietário tenha permitido.

Comparando a tecnologia Blockchain com a arquitetura P2P

A Tecnologia Blockchain é semelhante a um documento ‘compartilhado’. Basicamente, um blockchain possui blocos de dados relacionados mantidos em sua rede.

Uma autoridade ou pessoa isolada não tem capacidade de controle das informações e, portanto, o blockchain não registra pontos falhos localizados.

As informações registradas em um blockchain podem ser de qualquer tipo, seja uma transferência de dinheiro, propriedade, uma transação, a identidade de alguém, um acordo entre duas partes ou até mesmo o consumo de eletricidade associado a um equipamento.

No entanto, para ser registrado no sistema é necessária a confirmação de vários dispositivos na rede. Uma vez que um acordo, também conhecido como consenso, é alcançado entre esses participantes, o registro é feito no blockchain.

Uma vez concluído o registro, o dado não pode ser contestado, removido ou alterado, sem o conhecimento e a permissão de quem fez esse registro, bem como da comunidade da rede.

Portanto, a rede P2P é uma das principais bases da tecnologia de blockchain. Essencialmente, o Bitcoin, a primeira rede blockchain a existir, aproveitou dois pontos fortes das redes P2P:

● Descentralização

● Distribuição

Contudo, o Blockchain incorporou elementos adicionais como criptografia e algoritmos de consenso (Prova de Trabalho, por exemplo), dando maior robustez à tecnologia.

Com isso em mente, acredito que o blockchain seja uma aplicação definitiva da arquitetura de rede P2P.


Sobre o autor

Fares Alkudmani é formado em Administração pela Universidade Tishreen, na Síria, com MBA pela Edinburgh Business School, da Escócia. Desde janeiro de 2019, atua na empresa de criptomoedas Changelly como gerente-geral para a América Latina

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