Seguradoras recusam prestar serviço para mineradores de criptomoedas, demanda indica oportunidade para setor
Seguros para o mercado de mineração de criptoativos pode se tornar um grande negócio para as seguradoras
O negócio de mineração de criptoativos, pode ainda não ser grande o suficiente para fornecer receitas substanciais para a indústria de seguros, mas como se trata de uma indústria nascente e que requer investimentos massivos, pode se tornar um mercado atrativo para as seguradoras especializadas em seguros industriais.
O seguro para criptomoedas torna-se importante quando se considera a instabilidade do ecossistema de criptomoedas. A valorização vertiginosa do Bitcoin e de outras criptomoedas resultou em roubos maciços de carteiras e exchanges.
Por exemplo, uma criptomoeda no valor de US$ 500 milhões foi roubada da exchange de criptomoeda japonesa Coincheck em janeiro de 2018. O resultado cumulativo desses hacks é um ecossistema vulnerável que o ecossistema financeiro dominante ignora ou se recusa a levar a sério. No entanto, esses eventos são somente a ponta desse mercado. Roubos de criptoativos são eventos que podem até serem objeto de indenização, mas a atividade de mineração propriamente, assim como seus equipamentos, carecem de atendimento mais específico.
Um setor que pode render milhões
Os problemas no ecossistema de criptomoedas também podem ser uma fonte potencial de receita para o setor de seguros. A maioria dos produtos de seguro voltados para o setor são produtos sob medida, feitos sob medida para atender às necessidades dos clientes.
De acordo com o relatório da Bloomberg, startups e empresas que operam no setor de criptomoedas geralmente optam pela cobertura contra roubo, que inclui seguro cibernético e crime. Hacks, no entanto, são excluídos. As startups podem acabar pagando até 5% de seus limites de cobertura, de acordo com o relatório.
O Insurance Journal estima que os prêmios anuais podem chegar a US$ 10 milhões para cobertura de roubo. Em casos de grandes quantias, a cobertura é dividida entre dezenas de subscritores por valores que variam entre US$ 5 milhões a US$ 15 milhões para garantir que nenhuma seguradora fique presa em casos de hacks.
O Bitcoin e as demais criptomoedas apresentam desafios únicos para as seguradoras. Normalmente, os prêmios de seguro são baseados em dados históricos. Esses dados estão ausentes para criptomoedas. A volatilidade nas avaliações, onde oscilações de preços de três dígitos não são incomuns, também pode afetar os prêmios porque reduz o número total de moedas sendo seguradas.
A incerteza regulatória e a falta de supervisão nas exchanges podem complicar ainda mais as coisas para as seguradoras interessadas em fornecer serviços para o setor.
Em 2015, a Lloyd’s é uma das maiores seguradoras do mundo publicou um relatório listando os fatores de risco para cobrir seguros ligados às criptomoedas. “O estabelecimento de padrões de segurança reconhecidos para armazenamento de Bitcoin em carteiras frias (offline) e carteiras quentes (online) ajudaria muito no gerenciamento de risco e no fornecimento de seguro”, escreveu a empresa em seu relatório.
Também mencionou a segurança do lado do servidor, armazenamento frio e carteiras com várias assinaturas como métodos possíveis para mitigar ataques de risco. Mas nada relacionado à mineração e seus equipamentos são mencionados no estudo da Lloyd´s.
Outra grande seguradora que já observa o mercado de criptoativos, mas que não cobre nenhuma apólice ligada à mineração, é a Chubb. Em documento interno, a Chubb discorre sobre os cyberseguros e no documento, menciona-se a mineração, mas como uma atividade não coberta, pois se refere a ransomwares que infectam máquinas de forma furtiva e minera criptomoedas usando o poder de processamento das máquinas infectadas.
Falta de clareza sobre o setor dificultam as seguradoras
O setor de seguros está diante de um desafio que se assemelha aos primeiros negócios ligados à internet no seu início. Como emitir uma apólice para um site? Para um e-commerce? Eram as perguntas que as seguradoras faziam à época. O mercado de criptoativos está colocando as seguradoras no mesmo dilema.
Um minerador qualquer poderia tentar caracterizar suas operações como ‘data centers’, atividade na qual há seguros de todos os portes. Contudo, como explica Peter Hakenen, especialista do setor e consultor sênior da seguradora americana GenRe, os consultores das seguradoras estão preparados para analisar a natureza das apólices e investigar qual a real atividade de uma planta industrial e saber por fim, distinguir o que é um data center e uma planta de mineração.
Para Ty R Sagalow, CEO e fundador da Innovation Insurance Group, é muito difícil mensurar ‘valor’ para ativos digitais e portanto criar cobertura para roubo desses ‘bens’, por exemplo. Segundo Sagalow as seguradoras precisarão criar setores inteiros e multidisciplinares para lidar com as características do setor de criptomoedas.
A BitGo, uma empresa de custódia de criptoativos, há algum tempo tinha um acordo com a Lloyd´s para fornecimento de seguro ‘Bitcoin Theft’ para sua custódia. Contudo, sem explicações essa informação fora retirada do ar no site da BitGo.
Muita demanda e poucos fornecedores de soluções
Um jovem minerador canadense há poucos dias esbarrou na necessidade de encontrar uma seguradora para sua operação de mineração caseira. Conforme ele narrou em um post do BitcoinTalk, ele procurou todas as seguradoras de Québec e nenhuma se dignou a atendê-lo.
Fonte: BitcoinTalk
Em nossa pesquisa, descobrimos que no Canadá há uma seguradora que cobre atividade de mineração, a Kase Insurance de Toronto. Mas esta não atende a região autônoma francesa de Québec.
Nos EUA há duas seguradoras que cobrem atividade de mineração: Marsh e a Metzger Insurance. A Marsh possui operação no Brasil, mas não atende o setor de criptoativos.
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