Moeda Semente é selecionada para programa de aceleração de fintechs e pretende criar hub de ativos tokenizados para agricultura sustentável

A startup brasileira focada em serviços financeiros e desenvolvimento sustentável foi selecionada para participar de um programa de aceleração de fintechs do LIFT – Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas vinculado ao Banco Central.

Uma das pioneiras e mais bem sucedidas startups brasileiras de criptomoedas e tecnologia blockchain, a Moeda Semente acaba de ser selecionada para participar do Aceleração Next, o maior programa de aceleração de fintechs do Brasil.

A CEO e fundadora da Moeda Semente, Taynaah Reis, conversou como Cointelegraph Brasil algumas horas depois de receber a notícia e disse ver no programa uma oportunidade de consolidar o modelo de negócios da startup e desenvolver um hub de ativos tokenizados para a agricultura sustentável, conectando os diversos campos de atuação da empresa ao longo de seus cinco anos de existência.

A Moeda Semente é uma plataforma financeira baseada na tecnologia blockchain que fornece serviços bancários, de meios de pagamentos e microcrédito, facilitando o acesso a serviços financeiros e capital para pequenos empreendedores, especialmente mulheres e produtores rurais.

Fundada em 2017, a partir de um “hackathon” patrocinado pela Organização das Nações Unidas (ONU), a Moeda levantou capital através de uma oferta inicial de moedas (ICO) e se tornou a primeira startup brasileira de impacto social utilizando as criptomoedas e a tecnologia blockchain.

Hoje, contou Taynaah a Moeda Semente é um verdadeiro empreendimento multi-chain, com desdobramentos em seis redes blockchains diferentes, de acordo com as diferentes frentes de atuação da empresa:

“Se houvesse um protocolo que oferecesse todas as soluções que a gente buscava seria mais fácil né? Mas a primeira foi a Ethereum, em que a gente realizou o ICO. Depois, a gente viu que precisaria de uma moeda estável pra ter uma adaptação melhor às nossas necessidades. Para que as pessoas mais simples não tivessem que lidar com volatilidade, a gente escolheu o Stellar para fazer esses micropagamentos. a gente precisou de um token de incentivos, aí a gente construiu o MDA Loyalty para fazer toda uma gamificação da cadeia. Depois, a gente viu que não tinha movimentos em DeFi, finanças descentralizadas, então vamos usar a Binance Smart Chain. E agora com os NFTs, a Polygon. E para toda rastreabilidade dos projetos, a Hyperledger Fabric, que aí teria a LGPD, toda a parte de privacidade dos dados. Então, a gente foi encontrando em cada solução as funcionalidades que a gente precisava. Foi uma jornada de experimentação de vários protocolos na construção dessa integração, para chegar na nossa plataforma e no que é a Moeda hoje.”

Tecnologia de impacto social

Taynaah tornou-se programadora autodidata aos 12 anos de idade e aos 16 foi uma das idealizadoras da Rede Brasil Rural, uma espécie de marketplace para conectar os programas do governo federal com os programas da agricultura familiar.

O projeto foi inspirado e incentivado pelo pai de Taynaah. Funcionário do Ministério da Agricultura, ele fora criador do PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.

No entanto, a burocracia da máquina estatal a incentivou a buscar outros meios para atingir os seus objetivos: o empreendedorismo, aliado a humanização das finanças e a uma busca pela igualdade de gênero, como contou à reportagem:

“Eu sempre vi muita burocracia dentro do governo, né? Especialmente para as mulheres. Eu cresci vendo a dor das mulheres não terem uma garantia bancária porque o carro, ou o terreno estão registrados no nome do marido. Aí elas não conseguiam um crédito decente no em um banco tradicional, sem falar das taxas de juros exorbitantes. Eu fui vendo tudo isso e falei para o meu pai que, quando eu crescesse, eu ia construir um banco e as primeiras beneficiadas seriam as mulheres. E principalmente as mulheres de áreas rurais. Então foi uma construção: unir a tecnologia e o propósito para criar ferramentas capazes de multiplicar esse impacto positivo para muita gente.”

Atualmente, a empresa viabiliza transações que somam milhões de dólares por ano, em diversas partes do mundo, com mais de 100 mil usuários globais, e oferece aos seus clientes um cartão de crédito com bandeira Mastercard.

Além do acesso ao crédito e a instrumentos financeiros, Taynaah vislumbrou a importância de fortalecer outras pontas da cadeia para fomentar o ecossistema do qual a Moeda Semente faz parte. Em paralelo, surgiram iniciativas educacionais, com vistas à capacitação e à especialização dos clientes e usuários da plataforma, e a construção de um canal para comercialização dos produtos.

Criando oportunidades

A partir da participação no Aceleração Next, Taynaah pretende criar novos dispositivos para fortalecer o desenvolvimento sustentável e investimentos de impacto. Embora a agricultura seja o motor da produção econômica nacional, há pouca compreensão a respeito desse mercado e das oportunidades de investimento que ele oferece. Para Taynaah, a tokenização de ativos através da tecnologia blockchain abre um vasto campo para inovação no setor:

“Hoje, tanto se fala que o Brasil é agro. Todos os produtos que estão em ascensão de melhor investimento são commodities, mas pouca gente entende e pouca gente investe. Nem 5% da bolsa de valores é esse mercado que é o mais forte no Brasil. Eu vejo uma oportunidade tremenda pra gente fomentar iniciativas e tokenizar instrumentos da agricultura tanto para facilitar o acesso dos produtores rurais quanto para permitir que investidores possam investir na agricultura sustentável, regenerativa. Instrumentos que façam sentido não só para ter um retorno financeiro, mas para ter um retorno de impacto ambiental e social.”

Antes da seleção para o programa de aceleração do LIFT, Taynah fora incluída na lista New Economy Catalyst, da Bloomberg, que contemplou 28 personalidades cujos projetos têm contribuído decisivamente para o desenvolvimento de uma economia global mais sustentável.

Além do do reconhecimento em si, a presença na lista estabelece uma conexão entre estes empreendedores de diversas regiões do mundo, desde o multi-bilionário fundador e CEO da exchange de criptomoedas FTX Sam Bankman-Fried, até jovens líderes do continente africano, destacou Taynaah.

NFTs

Parte do sucesso da Moeda Semente se deve à construção de uma comunidade em torno de propósitos comuns e de valores compartilhados. Desde o ano passado, Taynaah está ampliando o alcance da comunidade da Moeda Semente também em ambientes virtuais, utilizando o potencial tecnológico e cultural dos NFTs (tokens não fungíveis):

“Você pode fazer N coisas com NFT hoje, conferindo essa característica de unicidade e de exclusividade, então você pode agregar valor também proporcionando experiências no metaverso, do que a gente chama de metaverso: essas realidades diferenciadas digitais. A gente tem experiências, hoje, no Decentraland, no Spatial IO para levar justamente a questão da narrativa do impacto até sua total transparência. Nós temos filmado vários projetos com a câmera 360. Então, você vai poder tomar o cafezinho, investir no café, ver a colheita, ver a lavoura, vivendo a experiência do princípio até o final. você tem um nft como porta de entrada e navegação para essas diversos diversos ambientes para construir uma narrativa mais coesa.”

Nesse sentido, os NFTs assumem também uma função educacional, afirmou Taynaah, na medida em que os usuários podem ter uma compreensão mais ampla sobre a relação dos impactos ambientais sobre a cadeia produtiva, impactando as decisões de consumidores e investidores na hora de escolherem um produto ou uma opção de investimento.

Além disso, os NFTs também são um poderoso instrumento para certificação de produtos, agregando dados de impacto social e ambiental, bem como instrumentos para cálculo da produção e antecipação de recebíveis.

Regulação

A trajetória de sucesso da Moeda Semente tornou muito mais fácil empreender e inovar nos campos da tecnologia blockchain, da agricultura familiar e do desenvolvimento sustentável do que era há cinco anos, quando a startup foi fundada, afirmou Taynaah. Até mesmo por conta das lacunas no ambiente regulatório que existiam então.

Embora a Moeda Semente tenha conseguido avançar no vácuo regulatório, Taynaah sempre defendeu a delimitação de regras para atuação dos players no mercado brasileiro de criptomoedas.

Segundo ela, muito mais do que criar limites à inovação ou reforçar um caráter punitivo, a regulação deve contribuir para estimular boas práticas de mercado, capazes de fortalecer o ecossistema como um todo, beneficiando empreendedores e usuários:

“Quando a gente tem uma base regulatória estabelecida, a gente tem mais confiança para poder inovar. Eu vejo com bons olhos a legislação, aquilo que está sendo construído. Acredito que poderia ser um pouco mais rápido. Às vezes as coisas demoram. Imagina se eu fosse esperar essas coisas acontecerem, eu estaria aqui parada há cinco anos. A gente quer empreender, quer inovar e quer esse acompanhamento também da parte regulatória para poder ter certeza dos caminhos. E poder pontuar bons projetos e ter referências no mercado para construir e consolidar o ecossistema.”

Você pode conferir a entrevista completa com Taynaah Reis no canal oficial do Cointelegraph Brasil no Youtube.

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, o Projeto de Lei 4401/2021 foi aprovado no Senado em abril, mas teve a sua votação travada na Câmara dos Deputados em função de prioridades mais urgentes. A votação só deverá acontecer após as eleições de outubro.

LEIA MAIS

Você pode gostar...