Minerworld diz não ter bitcoin para pagar vítimas do esquema de pirâmide

Autorizada a abrir uma nova conta para depósitos de bitcoin e criptomoedas a fim de amenizar dívidas com consumidores lesados, a Minerworld frustrou todas as partes interessadas, inclusive a Justiça.

De acordo com o Midiamax em publicação no domingo (02), a empresa, que está sendo processada pelo crime de pirâmide financeira, comunicou à Justiça que não possui saldo para cumprir o acordo.

O fato é que havia uma expectativa de que a empresa pudesse depositar, em juízo, saldos de bitcoin, ethereum, litecoin e dash remanescentes da mineração da Minertech.

Segundo o site, a empresa comunicou a insolvência à Justiça na última sexta-feira (30), alegando que os saldos de sua mineradora foram usados para garantir manutenção e também para saldar dívidas oriundas de rescisões trabalhistas e contratuais de prestadores de serviço.

Junto ao comunicado de insolvência, a Minerworld solicitou autorização para anexar em mídia digital a prestação de contas referente ao período entre agosto e novembro.

A empresa pretende detalhar as entradas e saídas da carteira, bem como publicar o relatório de pagamentos realizados pela mineradora, diz a reportagem.

O pedido de reabrir uma conta em uma corretora para, mensalmente, serem depositados criptoativos foi autorizado pelo juiz David de Oliveira Gomes Filho da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos de Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

A autorização da reabertura de uma conta deu-se após um pedido de acolhimento da proposta da ré à Justiça, apreciada antes pelo promotor Luiz Eduardo Lemos de Almeida do Ministério Público Estadual (MPMS) e encaminhada para a jurisdição onde corre o processo de crime contra a economia popular.

Ficou acertado, então, que os dados de acesso da nova conta seriam entregues à Justiça para que as autoridades pudessem modificá-los e assim gerir a movimentação das criptomoedas, bem como convertê-las em reais para depósito em juízo, diz o site.

Minerworld e Bitofertas

Em meados de outubro, o processo recebeu mais um objeto de colaboração nos autos. 188 pessoas que cobram a Minerworld na Justiça se habilitaram como assistentes de acusação junto Ministério Público Estadual (MPMS) .

A empresa havia alegado que o pagamento aos clientes dependia da liberação de aproximadamente US$ 6 milhões (R$ 22,5 milhões) ‘retidos’ nos Estados Unidos.

O valor, segundo a Minerworld, estaria bloqueado em razão de uma invasão no sistema da Poloniex, exchange de criptomoedas que mantinha os 851 bitcoins que sumiram da conta da empresa.

Desde junho deste ano, o número de pessoas que se declararam vítimas da Mineworld quase que dobrou, sendo a maior parte do estado de Mato Grosso do Sul.

É estimado que pelo menos 50 mil pessoas em várias regiões do país foram lesadas no golpe. 21 suspeitos fazem parte do processo cujos autos já somavam cerca de 7.000 páginas há um mês.

A última decisão no processo havia ocorrido em 18 de setembro, quando o tribunal negou à BitOfertas (plataforma de criptomoedas ligada à Minerworld) um pedido de acesso a sua conta bancária.

Ela havia alegado ser dona de apenas R$ 332.000,00 dos R$ 1.369.330,71 bloqueados e que o restante pertenceria a clientes.

A empresa liberou, então, os saques dos bitcoins que estavam bloqueados pela Justiça desde o início das investigações e alertou que os servidores seriam desligados.

A empresa também deu instruções para aqueles que tinham saldo em reais, para que pudessem dar início ao pedido de ressarcimento junto à Justiça.

No caso para depósitos realizados e não efetivados, a empresa pediu que os usuários juntasse o comprovante mais os dados que eles inseriram na plataforma para serem usados como prova de crédito.

BitOfertas, Bitpago e MinerWorld

A empresas investigadas se apresentavam como plataformas de criptomoedas focadas no comércio de produtos usando o bitcoin como meio de pagamento e prometiam lucros exorbitantes em cima da criptomoeda.

Em 17 de abril deste ano, a BitOfertas, a Bitpago e a MinerWorld foram alvos do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco).

Os agentes deflagram, então, operações nas cidades de Campo Grande (MS) e São Paulo, cumprindo mandados de busca e apreensão em suas sedes.

O esquema tem como seus principais dirigentes Cícero Saad, Hércules Gobbi e Johnnes Carvalho, que recrutavam pessoas para fazer parte do grupo que, segundo eles, era uma mineradora de bitcoin.

A Minerworld, que no final do ano passado já recebia várias reclamações sobre pagamentos não realizados (dos lucros prometidos na pirâmide) anunciou, então, o roubo dos bitcoins que a empresa sofreu na Poloniex.

A exchange, que tem sede em Delaware (EUA), não se manifestou sobre o caso e tudo passou a ser investigado como suposta formação fraudulenta de pirâmide financeira.

A operação, chamada ‘Lucro Fácil’, foi solicitada pelo MPMS após uma ação cível pública proposta pela 43ª Promotoria de Justiça.

A instituição é responsável pelas atividades de proteção e defesa dos interesses coletivos e individuais do consumidor.

O início das investigações deu-se depois da denúncia da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que verificou o público lesado e pediu providências.


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