‘Metaverso vai permitir experimentação de novos modelos de organização social, econômica e política’, diz CEO do game Star Atlas

Na primeira parte da entrevista exclusiva concedida ao Cointelegraph Brasil, o CEO de Star Atlas, Michael Wagner, reflete sobre os potenciais impactos do metaverso sobre a vida real.

Em um futuro muito distante, três facções coabitam um mesmo ecossistema cujos recursos são escassos e o poder se equilibra sobre um tênue arranjo. O ano é 2620. Todos são convocados a se alistar a um dos grupos rivais para tomar parte na luta por conquistas territoriais e consequente dominação econômica e política dos subjugados. Entre as opções, o que resta da humanidade, um consórcio de raças alienígenas ou uma tropa de andróides sencientes.

O destino intergalático estará nas mãos daqueles que se engajarem na aventura espacial proposta por Star Atlas. Os criadores do jogo no modelo “jogar para ganhar” (play-to-earn) prometem uma experiência única através da combinação de uma estética audiovisual cinematográfica e os recursos da tecnologia blockchain.

Os limites entre realidade e ficção deixarão de ser óbvios como têm sido até então. Instaura-se uma nova dimensão em que as ambiências físicas e virtuais já não podem mais ser entendidas como coisas separadas. Bem-vindos ao metaverso.

Hoje, o metaverso é uma panóplia de narrativas concorrentes sobre a qual muitos têm opiniões, mas poucos são capazes de visualizá-lo além de um imaginário influenciado pela ficção científica. A não ser aqueles que estão participando ativamente da sua construção. 

É o caso de Michael Wagner, CEO de Star Atlas, um dos jogos em blockchain mais aguardados e comentados da comunidade cripto atualmente, embora ainda esteja em desenvolvimento, sem previsão de data de lançamento da sua versão integral. 

Star Atlas não será centrado unicamente em guerras ou batalhas. O universo virtual paralelo proposto pelo jogo é expansivo: um mundo em aberto em que os jogadores precisam incorporar personalidades alternativas para integrarem-se a uma sociedade autônoma, com um modelo econômico próprio, quase autossuficiente, uma organização política instável e um meio ambiente degradado. 

Na primeira parte da entrevista exclusiva concedida ao Cointelegraph Brasil, Michael Wagner reflete sobre de que formas os exeprimentos propostos pelo jogo podem impactar a vida real dos jogadores.

Cointelegraph Brasil: Como foi a sua experiência até chegar até aqui? Acredito que ela diz muito sobre a experiência que vocês estão criando com o Star Atlas.
 
Michael Wagner: Sim, tem sido uma jornada interessante. Eu venho do ambiente financeiro tradicional. Trabalhei nas áreas de gestão de carteiras e análise de investimentos em títulos, e fui apresentado ao Bitcoin por meio da mineração, em 2013. Embora o momento fosse ruim para investir em plataformas de GPU, com o mercado em baixa, eu fiquei realmente cativado pela tecnologia em si. E então eu passei os dois anos seguintes daquele ciclo apenas pesquisando e estudando tudo que pude encontrar sobre criptomoedas. Também me envolvi com coisas como cloud mining e a implementação de CPUs na nuvem para mineração. 

Em 2015, eu desisti da minha carreira formal e passei a me dedicar em tempo integral ao universo cripto. Em 2016, fundei a minha primeira empresa. A Tokes era uma empresa cujo propósito era fornecer infraestrutura financeira descentralizada para a indústria legal da cannabis nos Estados Unidos e no exterior. Foi assim que conheci Jacob Floyd e Danny Floyd. Eles eram o diretor de tecnologia e o diretor de experiência da Tokes. Juntos, nos tornamos cofundadores do Star Atlas. Em 2020, a gente criou o conceito do projeto. 

CT Brasil: Por que vocês optaram por desenvolver Star Atlas em um ecossistema de blockchain, e não como um jogo no modelo tradicional?

Micheal Wagner: Minha crença pessoal é de que tudo vai ser transferido para a Web3 no futuro. Teremos muito menos plataformas centralizadas onde quer que possam haver alternativas descentralizadas. Mas a principal razão, na verdade, é que apenas por meio das criptomoedas e da blockchain nós poderíamos desenvolver um jogo com uma economia verdadeiramente autossuficiente. Nossa empresa não precisa fornecer serviços de exchange para que os usuários manejem seu capital. Tudo isso, incluindo todos os ativos do jogo, estão inteiramente on-chain. 

Eu considero que o modelo tradicional ou legado funciona como uma espécie de aluguel que permite acesso a um jogo específico. Você pode pagar por itens no jogo, mas só pode usá-los enquanto joga. O valor primário e o retorno que se obtém é o entretenimento em si. A possibilidade de escapar da realidade por um tempo. Mas, mudando para um jogo baseado em blockchain, os jogadores realmente tem autoridade sobre todos os ativos que estão utilizando no jogo.

Portanto, há uma transição de uma economia baseada na renda para uma economia baseada na propriedade. E isso traz enormes potenciais benefícios. Não apenas na valorização dos ativos, embora a depreciação do valor também seja uma variável possível, é claro, mas há a possibilidade de alavancar esses ativos para obter receitas dentro do jogo. Com todas as funcionalidades criadas pelas finanças descentralizadas (DeFi), nossa capacidade de alavancar todo esses ecossistemas integrados à blockchain nos permite oferecer produtos que têm valor intrínseco para os nossos usuários e que são disponibilizados por meio de uma integração simples. Isso não existe no modelo tradicional, certo? 

CT Brasil: O conceito de metaverso é central para a experiência de jogos como Star Atlas. Como você vê o desenvolvimento desse conceito hoje e até onde ele pode chegar nos próximos anos?

Michael Wagner: Sim, o metaverso é central para o jogo. Mas estamos em um ponto em que quase pensamos exatamente o contrário. A experiência de jogo é uma espécie de porta de entrada, é uma forma de atrair uma base inicial de usuários. As mecânicas que estamos introduzindo através do jogo pretendem ser divertidas para atrair as pessoas. Mas, no futuro, o próprio metaverso terá um efeito disruptivo sobre a interação social e a própria experiência humana.

As pessoas entrarão no metaverso simplesmente para socializar. Não necessariamente porque querem conquistar terras, ou navegar no espaço para explorar planetas e estrelas. Esses são recursos que continuarão disponíveis no metaverso, mas jogar não será um requisito. Nem mesmo um requisito para gerar receitas para si mesmo.

No futuro as pessoas poderão fazer compras em lojas de varejo dentro do mundo digital, dentro do metaverso, mas elas também poderão vender seus próprios produtos. Qualquer coisa, desde produtos digitais até produtos físicos, substituindo efetivamente a Amazon.

Você pode comprar um tênis no metaverso, visualizá-lo em 3D, interagir com eles em VR, e finalmente recebê-lo em sua casa. O benefício colateral é que você vai ganhar um NFT com o qual também poderá equipar o seu avatar. Então, para mim, o que o futuro dirá é como as pessoas irão se comportar dentro deste universo digital, independentemente do jogo.

CT Brasil: De que formas o metaverso poderá afetar nossas experiências na vida real?

Michael Wagner: Em primeiro lugar, teremos a oportunidade de experimentar diferentes modelos relacionados à política, à sociedade e à economia. Se eles tiverem sucesso no metaverso, é bem possível que os vejamos replicados na realidade física também. Se funciona no espaço digital, porque não funcionaria no espaço físico? Mas talvez haja algo ainda mais óbvio. Estamos vendo em países como as Filipinas, no sudeste da Ásia, na Venezuela, no Brasil e em outros países em desenvolvimento que o metaverso cria uma enorme gama de oportunidades de trabalho para as pessoas. 

Eu penso sobre isso sob três aspectos. Primeiro, você terá os proprietários. Pessoas que pretendem gastar seu tempo jogando para obter receitas. Depois, você terá pessoas que estarão apenas procurando direcionar seu capital para investimentos no metaverso, sem nenhuma intenção de realmente usar esses ativos jogando. Esses indivíduos vão procurar por protocolos de empréstimo através dos quais eles possam permitir que outras pessoas tomem esses ativos para usar no jogo, pagando uma taxa por isso. Isso vai gerar um fluxo de renda residual para eles. Por fim, há a pessoa que está alugando os ativos porque não pode comprá-los. Então, nesse tipo de economia compartilhada, tudo tem um custo, e todos, de alguma forma esperam lucrar a partir do jogo.

Além disso, existem pessoas que já estão formando grupos de assessoria e consultoria para orientar as pessoas no sentido de otimização de suas estratégias, certo? Qual é a melhor configuração de espaçonave com base em um determinado estilo de jogo? Ou qual é a melhor configuração da sua frota? Imagino que no futuro haverá consultorias de eficiência operacional para que você possa realmente maximizar o seu retorno, pois as fórmulas econômicas que estamos propondo em Star Atlas são bastante complexas. Existem verdadeiros custos operacionais. E se você não estiver trabalhando com a eficiência ideal, sua margem de lucro será menor.

Consultores de negócios no metaverso serão úteis para aconselhar as pessoas sobre a melhor forma de operar dentro dele. Portanto, há uma enorme quantidade de oportunidades para as pessoas que querem empreender em função do jogo em si, mas também haverá oportunidades fora da mecânica do jogo. Por exemplo, as pessoas poderão participar e monetizar eventos como festas, festivais de música, e espaços como galerias de arte, museus, bares e ambientes para reuniões virtuais. Em vez de usar o Zoom, nós poderíamos nos encontrar no metaverso, em 3D, com nossos avatares. 

Haverá muitas oportunidades novas para as pessoas. Especialmente em nações em desenvolvimento, onde elas poderão conquistar um padrão de vida mais alto e um salário digno ao se envolverem no jogo, impactando efetivamente também a economia local.

CT Brasil: Você imagina as experiências da vida real ficando mais sombrias com o desenvolvimento do metaverso, como no filme Ready Player One, de Steven Spielberg?

Michael Wagner: Em Ready Player One há essa sociedade distópica do lado de fora e as oportunidades estão no mundo digital. Certamente, nós não queremos ver o mundo entrar em um declínio maior do que este em que ele já entrou. Gostaríamos de ver o mundo físico melhorar também. Esperamos que a interação das pessoas com o metaverso produza melhorias na vida real também.

Mas também achamos que é um lugar onde as pessoas provavelmente poderão passar um tempo considerável de suas vidas, criando laços com pessoas de todos os lugares do mundo. De várias maneiras, o mundo vai encolher, se tornará mais conectado e, potencialmente, mais colaborativo, porque estamos convocando as pessoas para trabalharem juntas, agirem coletivamente no ambiente do Star Atlas. E isso é um motivador poderoso. A recompensa financeira é um motivador poderoso.

Então, não queremos que as pessoas fiquem aprisionadas como em Matrix. Não queremos que as pessoas fiquem conectadas o tempo todo. Queremos criar um lugar onde as pessoas possam fazer amizades, se divertir, ganhar a vida e, talvez, se valerem disso para melhorar a vida real ao seu redor também.

Na segunda parte da entrevista, Michael Wagner fala sobre a dinâmica interna ao próprio jogo e adianta detalhes sobre as próximas fases de desenvolvimento do projeto.

LEIA MAIS

Você pode gostar...