Cripto sob censura? MetaMask bloqueia usuários de ‘certas jurisdições’ à medida que sanções miram criptomoedas

Infura, a empresa que hospeda os nós da rede Ethereum e garante a infraestrutura operacional da MetaMask, diz que o bloqueio reportado por usuários venezuelanos na quinta-feira foi acidental e foi resolvido, mas comunidade cripto acusa empresas de tentativa de censura.

Inúmeros usuários venezuelanos da carteira digital MetaMask reportaram a impossibilidade de acessar a blockchain do Ethereum (ETH) e consequentemente aos ativos depositados na rede. na quinta-feira, 3, conforme relatou o Cointelegraph En Español. Usuários que tentavam acessar o Ethereum a partir da MetaMask eram surpreendidos com uma mensagem que dizia: “a MetaMask não consegue se conectar ao host da blockchain. Revise os possíveis motivos aqui.”

Algumas horas depois a Consensys, empresa vinculada à Ethereum Foundation que é responsável pela MetaMask, veio à público esclarecer que o problema teria sido causado pela necessidade de atender a demandas legais decorrentes das sanções impostas pelas potências ocidentais à Rússia em função da guerra na Ucrânia.

Em um comunicado postado na área de suporte ao usuário da MetaMask, a empresa declarou: 

““Por padrão, a MetaMask acessa a blockchain via Infura, que não está disponível em certas jurisdições devido à conformidade legal.”

A Infura hospeda os nós da rede Ethereum, fornecendo a infraestrutura de conexão à blockchain, e também é uma divisão da ConsenSys. Através de uma postagem no Twitter publicada ainda na tarde de ontem, a empresa disse que o bloqueio teria sido acidental e já teria sido resolvido.

A nota acrescenta ainda que o problema teria sido causado em função de uma reconfiguração acidental de atualizações que acabaram sendo “mais amplas do que precisavam ser” para atender as “novas diretrizes referentes às sanções impostas pelos EUA e outras jurisdições”. Assim, endereços de usuários venezuelanos teriam sido incluídos no bloqueio por engano.

Em resposta às preocupações manifestadas publicamente, queremos que todos saibam que corrigimos o problema que muitos de vocês apontaram. Ao alterar algumas configurações como resultado das novas diretrizes das sanções dos EUA e de outras jurisdições, configuramos erroneamente as atualizações de forma mais ampla do que o necessário. Este foi o nosso descuido, e estamos gratos por aqueles que o tenham apontado. Assim que identificamos o que aconteceu, conseguimos resolver o problema e o serviço foi restaurado.

— Infura (@infura_io)

Embora não mencione a Rússia ou a guerra da Ucrânia, a preocupação em atuar em conformidade com as determinações dos governos do Ocidente é imperativa para a empresa em um momento em que as criptomoedas estão sob a mira dos reguladores globais, conforme fica evidente pela declaração da assessoria de imprensa da ConsenSys a uma reportagem do Decrypt:

“A Infura monitora de perto as diretrizes nos programas de sanções dos EUA anunciadas pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros e adapta seus controles internos para cumprir a lei estritamente . Atualmente, essas regiões são Irã, Coréia do Norte, Cuba, Síria e Crimeia, Donetsk e regiões de Luhansk da Ucrânia. A conformidade da Infura com a lei é obrigatória e não reflete necessariamente as opiniões do serviço sobre qualquer questão de política pública.”

Recentemente, a senadora dos EUA Elizabeth Warren, o ministro das Finanças da Alemanha, Christian Lindner, e a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, manifestaram preocupação com a possibilidade de as criptomoedas servirem de instrumento para que a Rússia burle as sanções que lhe foram impostas pelo Ocidente.

Embora a Rússia não tenha sido mencionada na declaração, a ConsenSys confirmou que a Infura bloqueou o acesso a todos os endereços IP das três regiões da Ucrânia controladas pelas Rússia. A reação da comunidade cripto no Twitter colocou em dúvida a natureza descentralizada e não censurável das criptomoedas a partir do incidente, mencionando o fato de a Venezuela, um país alinhado à Rússia e opositor dos EUA, ter sido o único alvo do bloqueio acidental.

Através do Twitter, a MetaMask divulgou um link em que orienta os usuários a alterar as configurações da carteira digital para evitar eventuais bloqueios, mas o episódio evidenciou as contradições de administrar serviços financeiros supostamente incensuráveis através de entidades centralizadas. No caso, a Infura, que fornece a infraestrutura necessária para diversos projetos baseados na rede Ethereum – que é descentralizada – mas ao mesmo tempo é uma empresa com sede nos EUA e portanto sujeita à legislação do país.

Como aconteceu na quinta-feira, restrições locais podem acabar tendo efeitos que afetam usuários do mundo todo, compromentendo a natureza não permissionada do sistema, conforme destacou Josh Neuroth, CEO da da empresa de armazenamento de dados em nuvem descentralizada Ankr:

“Como uma entidade centralizada, financiada por investidores como o JPMorgan, provedores de infraestrutura como a Infura estão sujeitos a restrições regulatórias. Essa dependência excessiva de provedores de serviços centralizados vai contra tudo o que a Web 3 representa e deve ser – e representa um ponto central de falha que, por princípio, não deveria existir.”

Por outro lado, uma vez que o usuário mantenha a posse de suas chaves privadas é possível acessar a rede Ethereum (e todos os seus ativos digitais) usando uma carteira digital alternativa. Este é o ponto central que garante a descentralização e elimina qualquer necessidade de intermediação entre os usuários e seus ativos. Os criptoativos não ficam guardados na MetaMask, mas sim na rede Ethereum, cujo acesso não é censurável.

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