Mãe e ex-cunhada do “rei do bitcoin” são sequestradas, amarradas e ameaçadas de morte
As dívidas do empresário Cláudio José de Oliveira, conhecido como “rei do bitcoin”, deixaram sequestradas a mãe e a ex-cunhada dele. De acordo com as polícias Civil de Minas Gerais e de Goiás, as mulheres foram sequestradas no sábado (30) e resgatadas neste domingo (1).
O suspeito do crime é um filho de um casal de empresários da cidade de Unaí, em Minas Gerais. Oliveira, segundo a polícia, está devendo R$ 8 milhões somente para os pais do suspeito do sequestro e cárcere privado. O empresário e sua empresa, o Grupo Bitcoin Banco, respondem a centenas de processos judiciais e devem R$ 616 milhões a pouco mais de 6 mil investidores.
“Como forma de obrigar o empresário a pagar essa dívida, esse suspeito realizou o sequestro na cidade de Anápolis, no interior de Goiás, junto com um comparsa que ainda não sabemos quem é. As duas foram trazidas para Unaí, em Minas Gerais. As vítimas eram o tempo todo ameaçadas de morte. A ex-cunhada foi pega perto do trabalho dela e foi obrigada a falar onde estava a mãe do ‘rei do Bitcoin’. A mulher estava em uma feira e foi levada também. Além do sequestro, as duas foram mantidas em cárcere privado”, explicou o delegado regional de Unaí, Douglas Antônio Ramos Magela.
Pouco depois do sequestro, Oliveira teria recebido uma chamada de vídeo (veja abaixo) dos suspeitos ameaçando as mulheres de morte. Nas imagens é possível ver o empresário chamando os suspeitos do crime de palhaços e mandando eles calarem a boca.
No vídeo ele também pergunta se a mãe está sendo maltratada e ela diz que não. Oliveira diz que vai pagar a dívida e fala para a mãe dele que “em duas horas eu chego ao escritório, pago a dívida e depois a gente acerta o resto”.
Veja a suposta chamada de vídeo do “Rei do Bitcoin” tomando conhecimento da mãe e ex-cunhada sequestradas
Após a ligação, o “rei do bitcoin” teria acionado a Polícia Civil de Goiás e mostrado as imagens. A polícia, ao saber da possibilidade de os suspeitos seguirem para Minas, acionou a Polícia Civil mineira, que ficou de sobreaviso e conseguiu resgatar as mulheres. Os suspeitos fugiram e são procurados. O crime será investigado pela Polícia Civil de Goiás, que ainda está fazendo levantamentos e apurando o que aconteceu.
Por nota, o Grupo Bitcoin Banco informou apenas que nenhuma quantia foi paga aos sequestradores. Nada foi dito sobre a dívida. “As autoridades já identificaram os responsáveis por este ato violento e já estão tomando as medidas necessárias. Não houve pagamento de nenhum valor aos sequestradores. Agradecemos aos policiais envolvidos pela agilidade e alto nível de profissionalismo que resolveram a questão preservando a segurança das vítimas”.
Como foi o sequestro da mãe e ex-cunhada?
De acordo com o Boletim de Ocorrência da Polícia Militar, o caso foi descoberto depois que testemunhas viram um homem e duas mulheres entrarem em uma casa que estava sem moradores – em uma fazenda em Unaí – e se acomodarem em um quarto. Como os três não eram conhecidos na região, os moradores estranharam a atitude e resolveram acionar os militares.
Tanto a Polícia Civil quanto a Polícia Militar já sabiam do sequestro da mãe e da ex-cunhada do “rei do bitcoin”. Eles foram para o local e encontraram as vítimas presas em um quarto, vigiadas pelos homens armados. Elas tiveram os pés amarrados por fitas e eram avisadas que se a polícia aparecesse, elas seriam mortas. As vítimas não se feriram, mas estavam em estado de choque.
Será que é fake o sequestro das parentes do “Rei do Bitcoin”?
Apesar da confirmação das policias Civil e Militar, muitos investidores acreditam que o sequestro e os vídeos – tanto o da suposta chamada como outros dois divulgados em grupos de conversa (veja abaixo) – não passam de uma armação de Oliveira, conhecido por fazer promessas e não cumpri-las.
“Pelo amor de Deus, pessoal, ele (Oliveira) é um ótimo ator e essa é uma encenação ridícula. Ele está parecendo aqueles atores de teste de fidelidade do João Kleber (apresentador de televisão). Ridículo. Trem mais superficial do mundo”, diz um dos clientes.
Outros dizem que é fake e questionam a atitude do suposto sequestrador.
“Para mim é mais uma tentativa de se fazer de vítima. Fake”, fala outro investidor. “Sequestrador não iria mostrar a cara”, diz outro cliente, se referindo ao fato de o suposto criminoso não ter tampado o rosto.
Alguns dizem ainda que é fácil perceber a “falsidade” porque o empresário aparece falando com um vídeo gravado, e não em uma chamada de vídeo. “Tanto que se você vir os segundos finais da conversa, o vídeo fecha e dá para ver que tem um vídeo minimizado em cima”, fala um cliente.
Procurado pela reportagem para comentar a opinião dos investidores, o Grupo Bitcoin Banco informou que a veracidade do sequestro poderia ser comprovada pela polícia.
Empresário Cláudio Oliveira é chamado de “Rei do Bitcoin”, mas passou até cheque sem fundo
A desconfiança dos investidores não é infundada. Desde maio, mês em que a empresa começou a atrasar os pagamentos, Oliveira e o Grupo Bitcoin Banco fizeram diversas promessas aos clientes, mas nenhuma foi cumprida.
O grupo criou filas de pagamentos que não funcionaram, desenvolveu uma criptomoeda própria (Br2x) sem valor, reformulou a NegocieCoins (exchange para negociar criptoativos) duas vezes com a promessa de normalizar os pagamentos – o que não ocorreu – e chegou a fazer acordos individuais que não foram cumpridos.
Um desses acordos, por exemplo, foi feito em agosto com investidores que viajaram mais de 2.000 mil para receber. Até hoje eles não viram seus bitcoins.
Em outro ponto, formalizado também em agosto, Oliveira chegou a passar um cheque sem fundo para duas clientes que investiram R$ 1,4 milhão nas plataformas de criptomoedas da empresa.
O que a empresa diz?
O grupo, desde o início da crise, vem alegando que foi vítima de uma ação criminosa de clientes, que se aproveitaram de uma brecha no sistema para roubar R$ 50 milhões, o que teria afetado a operação.
Além disso, na semana passada a Justiça do Paraná aceitou um pedido de recuperação judical feito pela empresa. Por causa da decisão, o Bitcoin Banco terá mais 180 dias para tentar recuperar a operação e pagar os clientes.
Finalmente, os investidores que não recebem desde maio, precisam esperar pelo menos mais seis meses para reaver (ou não) ou recursos.
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