‘Afetará a indústria blockchain’: especialistas falam sobre efeitos da atualização Shapella do Ethereum

Além do impacto positivo no preço dentro do curto prazo, mudanças para o longo prazo incluem maior presença dos institucionais em staking e transformação da ETH em ‘ativo premium’

O Ethereum (ETH) foi o criptoativo, entre os 20 maiores em valor de mercado, com a melhor performance no fechamento de quinta-feira (13): 11,1% positivos em 24 horas. O motivo pode estar ligado à realização bem-sucedida da Shapella, atualização que possibilitou o saque dos saldos em ETH alocados em staking.

Além das mudanças no preço, a atualização pode mudar a forma como investidores institucionais interagem com o Ethereum. Fontes ouvidas pelo Cointelegraph Brasil falam sobre a alta e avaliam o que pode mudar nos fundamentos da rede durante os próximos meses.

Força para continuar a alta

Uma análise publicada pelo Cointelegraph apontou que a ETH está próxima de um nível de preço que, quando rompido, em junho de 2022, desencadeou uma alta de 60%. Na visão de Vinícius Bazan, analista de criptoativos da Empiricus Research, os momentos são diferentes. 

Entre maio e junho de 2022, quando os preços dos criptoativos entraram em queda após o colapso do ecossistema Terra e empresas relacionadas ao token LUNA, a Ether sofreu uma das maiores quedas do período. Em julho do mesmo ano, quando houve um alívio nos preços, a valorização da ETH foi maior justamente por recuperar o espaço perdido anteriormente, utilizando também o impulso do Merge. 

“Além disso, diferente da época do Merge, não tivemos uma valorização [do Ethereum] pré-Shapella, foi um não-evento. Vimos a ETH subir, mas foi um movimento feito junto com o mercado. É também por isso que não estamos vendo a Ether cair”, avalia Bazan.

O analista da Empiricus Research salienta, no entanto, que há força suficiente para a criptomoeda nativa do Ethereum alcançar um patamar de preço maior. Ele menciona o cenário macroeconômico, com dados positivos vindos da economia estadunidense. 

“Com um ambiente macro mais sustentável para os ativos de risco, a gente tende a ver os criptoativos subindo. De forma interessante, Ether e altcoins estão subindo mais do que o Bitcoin. Então, caso a gente continue em um cenário como esse, acho que tem chão para a Ether fazer um rali mais forte do que o Bitcoin. Mas, dessa vez, não acho que veremos 100% em um mês”, afirma.

Ilya Volkov, CEO e cofundador do YouHodler, compartilha uma visão semelhante. Ele avalia que traders aguardaram a realização do Shapella para abrirem posições de compra, movimento que, aliado aos dados econômicos positivos dos Estados Unidos, causou a alta vista na quinta-feira. 

“Basicamente, a ETH continua no mesmo canal de alta do início do ano. Se a situação macro não piorar, é pouco provável que essa tendência sofra alterações em um futuro próximo”, diz Volkov.

Apesar de acreditar na alta da Ether, o CEO da YouHodler também espera uma pressão de venda nas próximas semanas, causada pela liquidez liberada dos saques de ETH em staking.

Mudança para a indústria blockchain

Além da alta nos preços vista no curto prazo, o sucesso nos saques de ETH em staking pode impactar também a forma como investidores, institucionais e do varejo, se relacionam com o Ethereum.

Ilya Volkov, da YouHodler, acredita que a atualização “afetará a indústria blockchain de forma massiva”, especialmente os provedores de staking líquido para ETH. “Creio que muitos investidores recorrerão ao liquid staking, pois eles podem utilizar os tokens derivativos em outras redes descentralizadas sem perder os rendimentos.”

Também é possível que investidores institucionais comecem a entender a ETH como um título, diz Vinícius Bazan, da Empiricus, o que pode aumentar a interação desse grupo com o Ethereum. “É uma ideia atrativa para o mercado institucional, que já está acostumado com essa visão. Um título que paga de 4% a 5% ao ano é interessante, e o institucional pode querer ainda investir na ETH por ser um ativo premium”, avalia Bazan.

José Gabriel Bernardes, sócio da gestora Fuse Capital, também acredita que o Shapella dá segurança ao investidor institucional que já investe em criptomoedas, e agora quer realizar staking na rede Ethereum. Ele menciona a gestora Hashdex como exemplo que, há duas semanas, anunciou que fará staking do saldo em Ether dos seus fundos. 

“Mas ainda é uma questão de custódia e regulação”, pondera Bernardes. “Nos Estados Unidos, ainda há o debate sobre staking ser um valor mobiliário ou não, e no Brasil [o tema] ainda não foi regulado. E na questão de custódia, as instituições ainda não se sentem totalmente confortáveis com a custódia descentralizada, que é o caso de ter uma carteira e a custódia ser totalmente sua”, completa.

De qualquer forma, o sócio da Fuse acredita que haverão mais instituições fazendo staking, embora acredite que não será um instrumento financeiro para todos esses investidores. “Ainda está muito no começo, mas quem já está exposto em cripto se sentirá mais confortável com outros produtos financeiros feitos na rede Ethereum”, conclui Bernardes.

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