‘Agora não é o momento de focar nas altcoins, muito menos nas pequenas e desconhecidas’, diz analista da TC

Analista Paulo Boghosian, head do TC Cripto, aponta que estamos em um bear market e que, no momento, o foco dos investidores deve ser no Bitcoin e não nas altcoins e criptomoedas de baixa capitalização

Para o analista Paulo Boghosian, head do TC Cripto, embora muitos analistas refutem em declarar que estamos em um bear market, todo os gráficos e métricas apontam pelo inegável fato de que o inverno cripto chegou.

Em uma análise exclusiva encaminhada para o Cointelegraph, Boghosian elecou diversos fatores que corroboram a afirmação, inclusive a correção entre o mercado de criptomoedas e o mercado de ações americano.

Ele detaca também que nesta semana tivemos a famosa “Super Wednesday”, a quarta-feira em que o FOMC (o comitê do FED, Banco Central dos EUA) decidiu sobre os rumos da liquidez global e aumentou novamente a taxa de juros nos EUA.

“O Banco Central Americano, passou mais de dez anos estimulando o crescimento na economia do país por meio da impressão de dinheiro, ou expansão monetária, durante um experimento conhecido como “Quantitative Easing”, começado após a crise do Subprime, em 2008. Nunca na história das moedas fiduciárias houve um processo tão longo de expansão dos bancos centrais mundiais, principalmente do americano e do europeu”, destacou.

Segundo ele, essa impressão desenfreada de dinheiro teve como resultado um bull market (mercado de alta) espetacular para as ações americanas, e para os criptoativos, principalmente o Bitcoin (BTC).

“Mas uma hora a conta chega. E agora o FED americano está em uma verdadeira sinuca de bico”, destacou.

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Ativos do FED Americano – FONTE: Saint Louis FRED

Bitcoin e inflação

Boghosian aponta que com a inflação batendo na porta dos duplos dígitos nos últimos 12 meses, e com um juro real da economia (diferencial entre a taxa base de juros e a inflação) na casa dos -5%, o FED tenta retirar os estímulos sem causar um crash na economia americana.

“Um pouso suave seria o melhor cenário para o FED, mas, com um mercado viciado em estímulos, investidores se perguntam se isso é possível”, disse.

Segundo o analista, o mercado passou a precificar sete aumentos nas taxas de juros ao longo das próximas reuniões, culminando em uma taxa entre 3,00% e 3,50% no final de 2021.

“Veja como se comportou a taxa de 10 anos americana, que mostra um ponto mais longo da curva, mas é frequentemente usada como referência. O ativo se encontra em níveis importantes de resistência”, apontou.

FONTE: TradingView, elaboração do autor

Ele destaca que essa abertura na curva de juros americana, somada a temores de redução de liquidez advindo do “Quantitative Tightening” (o oposto de “Quantitative Easing” que vem sendo realizado há anos), trouxe uma queda relevante nos mercados de ações, renda fixa e criptoativos.

FONTE: Bloomberg, Jim Bianco

“Para quem passou os últimos dois anos escondido embaixo de uma pedra, SIM, os criptoativos têm se comportado como ativos de risco recentemente, altamente correlacionados com as bolsas americanas. Veja neste gráfico abaixo que as correlações do BTC têm permanecido em valores historicamente altos (acima de 0,6)”, apontou.

FONTE: TradingView, elaboração do autor

Agora não é o momento de focar nas altcoins

No entanto ele aponta que se olharmos o desempenho recente das altcoins nesse momento do mercado, é possível perceber que o Bitcoin está mais forte e caindo menos do que os outros tokens. Ainda segundo o analista, o BTC também está mais forte do que muitas ações de tecnologias americanas, se fizermos um comparativo de retornos.

“Veja o gráfico que compara o BTC com o mercado total de cripto excluindo BTC (TOTAL2) e o mercado total excluindo BTC e ETH (TOTAL3), o pior de todos. Por isso, agora não é o momento de focar nas altcoins, muito menos nas small e mid caps (altcoins com capitalização de mercado média ou baixa). Goste você ou não, a dinâmica desse mercado é: cenário macro -> Bitcoin -> altcoins.”

FONTE: TradingView, elaboração feita pelo autor

Segundo Boghosian, é inegável que estamos em um bear market (mercado de baixa).

“Seja qual definição você use: cruzamento de médias móveis, queda em relação à máxima histórica, sentimento do mercado, etc., todas se encaixam nessa definição de bear market”, apontou.

Porém, de acordo com o analista, também há motivos para acreditar que a maior parte da queda já passou e que o Banco Central Americano em breve terá que alterar o seu discurso. Para justificar este ponto, o especialista aponta a análise de Zoltan Poszsar que soltou um relatório nesta segunda-feira (2) dizendo que o FED irá retomar o ciclo de afrouxamento monetário (“Quantitative Easing”) no início do ano que vem.

Ele destaca que o argumento dos touros é que, primeiro, o FED não tem espaço para grandes manobras considerando o iminente risco de recessão e, segundo, que o que o FED tem de munição já está em sua maior parte incorporada aos preços. Vamos entender melhor a seguir.

“Para quem não viu, o crescimento (contração) do PIB americano no primeiro trimestre de 2022 veio (-1,4%). A média das previsões dos economistas era de +1%. Esse dado foi um choque para o mercado. Mas um dado negativo de PIB não configura uma recessão. Para que isso aconteça, é preciso três dados negativos seguidos, e muitos argumentam que esse é o cenário mais provável”, disse.

FONTE: Tradingnomics, US Bureau of Economic Analysis 

“Isso porque, corroborando com o dado de contração do PIB, existem alguns outros indicadores que antecipam recessões, como leituras de PMIs (indicador de atividade da indústria) e pedidos de hipoteca (indicador de mercado imobiliário), que têm rapidamente piorado. Como exemplo, veja o PMI ISM Manufacturing:

FONTE: Bloomberg

Oportunidade para os traders

Seguindo essa linha, ele aponta que a recessão vai ajudar a controlar a inflação e o FED, em um primeiro momento, vai pensar duas vezes entre uma retirada de estímulos no país para não piorar a recessão e, em um segundo momento, poderá ter que voltar a estimular a economia uma vez que a inflação esteja controlada.

“Não vou entrar aqui na discussão se a inflação fez pico ou não. Outro argumento é que os investidores já estão posicionados de uma forma bem defensiva. Ou seja, o posicionamento dos investidores já incorpora esse cenário macroeconômico caótico. Para visualizar isso, podemos analisar os dados onchain que mostram as datas e os preços em que Bitcoins foram movimentados pela última vez (UTXOs), assim como dados de fluxo de moedas e stablecoins para dentro e fora das corretoras”, destacou.

Assim, segundo ele, olhando primeiro para os dados onchain, podemos ver que grande parte dos investidores com carteiras que tem perfil de movimentações de curto prazo, os chamados especuladores, já saíram do ativo.

“Perceba o gráfico de HODL Waves que mostra uma participação historicamente baixa das moedas mais novas (cores mais quentes)”, disse.

HODL WAVES – FONTE: Glassnode

Olhando para o gráfico ele destaca que dos Bitcoins que restaram, grande parte está em capitulação.

“Veja neste gráfico abaixo, que mostra lucros e prejuízos não realizados dos investidores de curto prazo, aqueles que costumam negociar mais ativamente suas moedas”, analisa

FONTE: Glassnode

O analista também aponta que um último dado importante para ser analisado é o dos balanços nas corretoras das stablecoins, que são criptomoedas, na maioria dos casos, utilizadas para comprar Bitcoin e outros criptoativos nas corretoras.

Segundo ele, o fato desse número estar historicamente alto indica que tem dinheiro nas corretoras esperando para entrar em criptoativos como Bitcoin e Ethereum.

“É difícil estimar o quanto disso é demanda que está aguardando preços melhores para entrar, e a quais preços entrariam, mas é um indicador de potencial de compras no mercado”, destacou.

 

FONTE: Glassnode

“Para finalizar, veja como foi a reação do mercado após a reunião anterior do FOMC, aquela realizada em 16 de março. O mercado passou meses caindo e, na data do anúncio, reverteu e iniciou um repique ao longo de um pouco mais de 10 dias”, apontou.

Assim, segundo ele, isso não foi o suficiente para gerar uma inversão de tendência, mas taticamente, no curto prazo, revelou uma oportunidade para traders se posicionarem e se aproveitarem de uma alta de mais de 20% no Bitcoin.

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FONTE: TradingView, elaboração do autor

“Seja como for, tentar exercitar a futurologia e traçar cenários para eventos pode ser extremamente complexo e perigoso. Não é esse o ponto do artigo, e sim, mostrar o quanto o cenário macro está afetando o preço do Bitcoin e outros criptoativos. E que, por mais caótico que o mercado esteja, existe um caso contrarian com argumentos sólidos para uma recuperação do mercado, ao menos no curto prazo”, finalizou.

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