Investimentos em startups de criptomoedas caem 43% em junho; especialista diz que movimento é normal

Embora o total investido por VCs seja o menor desde novembro de 2020, CIO da Uniera não considera a queda “necessariamente grave”

Em junho, as empresas do mercado de criptomoedas receberam US$ 344 milhões em investimento dos fundos de capital de risco (VC, na sigla em inglês), nos dados do DefiLlama. O valor ficou 43% abaixo do total injetado em maio, e é também o menor montante investido por VCs desde novembro de 2020. Caio Villa, CIO da Uniera, conta ao Cointelegraph Brasil que esse movimento é compreensível.

Interesse em infraestrutura

É normal que os projetos focados em infraestrutura recebam mais atenção dos fundos de capital de risco. Em junho, isso não foi diferente, com US$ 210,1 milhões sendo direcionados a esse setor.

O projeto que mais captou fundos não apenas no segmento de infraestrutura, mas considerando todo o mercado cripto, foi a Gensyn. Trata-se de um projeto que une arquitetura blockchain com inteligência artificial.

A Gensyn permite que usuários criem sistemas de inteligência artificial usando dispositivos mais acessíveis, como computadores montados para jogos. A aplicação de blockchain ocorre na criação da rede, que permite o compartilhamento dos projetos sem intermediários, de forma completamente encriptada.

Investimentos em jogos cresce

Em maio, as empresas voltadas a jogos em blockchain captaram apenas US$ 21 milhões. Apesar do recuo em relação ao valor total investido pelos VCs, a atenção aos jogos criados em blockchain cresceu. 

Os projetos do setor de ‘blockchain gaming’ receberam US$ 70 milhões em junho, 233% a mais em relação a maio. O maior investimento, de US$ 37 milhões, foi destinado à Mythical Games, que está desenvolvendo uma engine para criação de jogos onde os usuários são donos do que ganham jogando.

DeFi se mantém

As aplicações criadas dentro do ambiente das finanças descentralizadas (DeFi) conseguiram manter o nível de investimentos visto em maio, mesmo durante as quedas. Foram injetados US$ 29,1 milhões no setor, o que é um modesto crescimento de 1,2% em relação aos US$ 28,75 milhões aplicados por VCs em DeFi durante maio.

O Maverick Protocol realizou a maior rodada de captação de investimentos, que rendeu ao projeto US$ 9 milhões. O protocolo é especializado em criar fazedores de mercado automatizados (AMM, na sigla em inglês) focados em tornar o fornecimento de liquidez em DeFi mais eficiente.

Web3 e NFTs em baixa

Os setores que menos receberam investimentos em junho foram projetos ligados aos NFTs e à Web3. Os VCs investiram apenas US$ 10,25 milhões em iniciativas envolvendo tokens não-fungíveis em junho.

Já os projetos ligados a aplicações na Web3 receberam US$ 24,5 milhões em investimentos no mesmo período. A queda foi de quase 70% em relação ao total aportado neste setor em maio.

Movimento natural

Um conceito conhecido pelos investidores do varejo é comprar um ativo em uma faixa de preço baixa e vendê-lo durante sua recuperação. Nem sempre, porém, essa regra é seguida à risca: investidores deixam de comprar um ativo na baixa, e se desesperam para comprar enquanto ele sobe.

Caio Villa, CIO da Uniera, conta que os fundos de capital de risco também cometem erros como esse. Ele afirma que o investimento em projetos durante períodos de alta é mais comum nos fundos onde os profissionais atuaram por muito tempo no mercado tradicional. 

“Um fato que confirma esse ponto é que, quando o mercado está em alta, tem muito dinheiro, e quando o mercado está em baixa, tem pouco dinheiro. E essa, definitivamente, não é a melhor maneira de investir e nem a que proporciona os maiores ganhos”, diz Villa sobre a queda nos investimentos em empresas de criptomoedas entre maio e junho.

O CIO da Uniera avalia que o momento atual é muito vantajoso para os fundos de capital de risco, que poderão colher os frutos no próximo ciclo de alta. O período de baixa nos preços, contudo, está afastando o dinheiro do mercado.

“Há uns anos, eu falava de Polygon, que custava U$S 0,01. O mesmo com Solana, que custava U$S1,00 e, mesmo com toda a queda que o ativo sofreu, ainda está valorizado cerca de vinte vezes daquele preço. Ou seja, quem investiu lá atrás conseguiu um grande upside. Quem investiu de forma venture, nos estágios seed, pré-venda ou outros, antes da venda pública, acabou tendo um retorno gigantesco”, acrescenta.

Villa também comenta sobre os processos movidos pela Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês) contra as exchanges Binance e Coinbase. Em sua visão, eles não são responsáveis por ‘esfriar’ o interesse dos VCs no fim do primeiro semestre deste ano. 

“Venture Capital serve para investir em projetos que estão no início, e esses projetos que estão no começo não estão nos Estados Unidos. Eles estão no sudeste asiático, no sul da Suíça ou em outras localidades, mas já não eram norte-americanos. Então, não acredito que esse tenha sido o motivo dessa queda.”

Além disso, quedas como essa nos investimentos destinados a empresas ligadas a criptoativos não significam, necessariamente, algo grave, aponta Villa. Como os investimentos em renda fixa se mostram mais vantajosos atualmente, é normal que VCs estejam menos inclinados a assumirem riscos.

Como recuperar o interesse?

O interesse dos fundos de capital de risco pode voltar, na avaliação de Caio Villa, com a aprovação do pedido da BlackRock para lançar um trust com exposição ao preço do Bitcoin (BTC). Uma decisão positiva da SEC pode funcionar como “um catalisador no mercado”.

“[O trust] sendo aprovado, outros players devem seguir o mesmo caminho e, entrando dinheiro em Btcoin, entra dinheiro no mercado cripto como um todo. Isso significa que, após a aprovação da BlackRock, nós devemos observar um alívio, e o BTC deve atingir algo entre U$S 35 mil e U$S 38 mil, permanecendo estável próximo ao halving”, conclui Villa.

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