Incêndios em São Paulo afetam produção de cana-de-açúcar e elevam preços internacionais
Um surto inédito de incêndios que atingiu neste fim de semana os campos de cana-de-açúcar no Brasil, maior exportador mundial, deve impactar a oferta global de açúcar e elevar os preços.
As consequências podem ser ainda maiores do que as causadas por uma grande geada que danificou a cana no Brasil em 2021, de acordo com a Alvean, uma das principais empresas de comércio de açúcar.
“A gravidade dos problemas agora é muito maior”, disse Mauro Virgino, líder de inteligência de mercado da Alvean. “Os incêndios de 2024 são como as geadas de 2021, mas potencializados.”
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O impacto pode durar até o próximo ano, já que os incêndios afetaram canaviais que estavam brotando. Nesses casos, o calor danifica gravemente as raízes das plantas, o que significa que os produtores provavelmente terão que replantar ou enfrentar uma colheita menor na próxima safra.
São Paulo, responsável por produzir a maior parte do açúcar do país, enfrenta um número recorde de incêndios devido à baixa umidade e a uma onda de calor escaldante. Houve até 2.000 focos de incêndio neste fim de semana, segundo o grupo da indústria de cana-de-açúcar Orplana. Embora as chuvas posteriores tenham ajudado a reduzir os riscos de novos focos, cerca de 60.000 hectares de área cultivada foram afetados.
“Em 20 anos de mercado, nunca vi nada parecido”, disse Almir Torcato, diretor executivo da associação de produtores de cana Canoeste. A entidade reúne mais de 2.000 agricultores em algumas das áreas mais afetadas nos municípios de Sertãozinho e Bebedouro. “Recebemos inúmeros pedidos de ajuda.”
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Os contratos futuros de açúcar bruto subiram até 4,2% em Nova York, o maior salto intradiário em um mês. Os incêndios agravam as crescentes preocupações, uma vez que a seca e o calor já prejudicaram os rendimentos da cana-de-açúcar no Brasil. Dados sobre a produção de açúcar, esperados para esta semana, devem trazer alguma clareza sobre os rendimentos no país, mas podem não refletir o impacto das chamas.
Estima-se que até 5 milhões de toneladas métricas de cana-de-açúcar tenham sido perdidas em São Paulo devido ao fogo, segundo duas estimativas preliminares da Green Pool Commodity Specialists e da empresa de serviços financeiros FG/A. As primeiras estimativas usaram imagens de satélite, o que pode conter imprecisões. Ainda assim, representam cerca de 1,4% da cana em São Paulo. Os impactos na produção total de açúcar ainda não foram estimados, já que parte da cana queimada pode ainda estar em condições de ser processada.
Incêndios não são desconhecidos para a indústria do açúcar. Há mais de uma década, queimar cana-de-açúcar fazia parte do processo de produção, uma prática que teve grandes impactos ambientais e se tornou obsoleta devido a novas tecnologias.
Isso deu às usinas alguma experiência em triturar cana que foi queimada. No entanto, a indústria agora enfrenta um grande desafio: a produtividade pode ser prejudicada se demorar mais do que alguns dias para processar a cana queimada, e muitas empresas têm recursos limitados, pois ainda estão lidando com as consequências dos incêndios.