Para além do Bitcoin e das criptomoedas, especialista destaca previsões financeiras para o 2º semestre
Para entender como o cenário macroeconômico pode impactar o preço dos criptoativos no Brasil o Cointelegraph conversou com Diogo Santos, assessor de investimentos da iHUB, escritório credenciado XP
O mercado de Bitcoin (BTC) e criptomoedas vive um grande momento de reconhecimento e valorização em grande parte devido a descrença da população na gestão centralizada do Estado e nos desmandos da classe politica com a economia e a sociedade.
Neste contexto soluções descentralizadas surgiram como forma de outorgar mais poder de decisão ao cidadão, seja do ponto de vista econômico ou de como seus dados devem ser compartilhados.
Desta forma, embora as criptomoedas sejam ativos ‘alternativos’ ao Estado e, portanto, não correlacionados ao mercado financeiro tradicional eles também sofrem, de certa forma, influência das decisões políticas e econômicas dos governos.
Um exemplo bem simples desse impacto pode ser sentido no preço do Bitcoin no Brasil que, cotado em dólar, torna a criptomoeda ‘mais cara’ toda vez que o dólar sobe na incerteza dos cenários econômicos nacionais.
Para entender como o cenário macroeconômico pode impactar o preço dos criptoativos no Brasil o Cointelegraph conversou com Diogo Santos, assessor de investimentos da iHUB, escritório credenciado XP.
“O 2º semestre de 2021 já começou com preocupações no avanço dos casos da variante Delta da covid-19. Desta forma, os investidores ficaram mais reticentes e interromperam o ciclo de aportes na bolsa brasileira, que vinha em um fluxo positivo desde março. Essa preocupação acontece de forma global, pois o receio é que novas medidas de restrições sejam implementadas e isso pode atrapalhar diretamente o crescimento das economias”, explica Silva.
Segundo ele, a expectativa dos agentes econômicos é de forte retomada da economia brasileira, devido a estimativa que o PIB cresça acima de 5% ainda esse ano. O ponto de esperança para esse cenário positivo é o fluxo da vacinação, que está sendo grande aliada dos sistemas de saúde e, consequentemente, da economia.
Mas, um ponto de atenção está no radar dos investidores: caso novas cepas surjam e as vacinas não sejam eficazes, o jogo pode virar.
Fora as criptomoedas, investimentos que merecem atenção na 2ª metade do ano
Quando o assunto é investimentos, sempre é importante levar em consideração o perfil do investidor e o balanceamento da carteira, pois são dois fatores imprescindíveis para a escolha de investimentos.
De acordo com Silva, no campo da renda fixa tem se observado muitas opções de títulos como CDB, LCI e LCA com taxas atrativas, como o IPCA+6%, ou 120% do CDI. Já nos títulos pré-fixados, com o aumento da taxa Selic de 4,25% para 5,25% a.a, é possível encontrar títulos que estão pagando 11% a.a.
“Na renda variável o cenário é de volatilidade, pois temos no campo político as reformas e estamos às vésperas de eleições. Mas, quem está disposto e se sente confortável com esse nível de volatilidade ainda há muitas oportunidades na bolsa brasileira. Setores como o varejo, locação de automóveis, papel e celulose, shoppings e commodities estão atrativos, conforme a carteira recomendada pela XP”, comenta Silva.
Como ficam as commodities?
Atualmente, o momento é do “boom” das commodities, que vem da recuperação das economias da China e Estados Unidos. Com a retomada da economia, dada pelo avanço das vacinações, a demanda de commodities disparou em relação a 2020.
Outro fator que contribuiu para essa evolução é o excesso de liquidez global, causado pelos pacotes de estímulos trilionários. Um exemplo é o minério de ferro que bateu sua máxima histórica ao atingir U$191 a tonelada. Os índices de commodities que englobam uma cesta de produtos também operam em suas máximas, como o Refinitiv.
Silva explica que uma commodity importante e que está sob atenção é a energia, devido à forte crise hídrica, onde o Brasil registra o menor nível de chuvas em 91 anos. O setor elétrico, por ter sua principal matriz nas usinas hidrelétricas, está em estado de alerta, por conta do risco de apagão.
“Isto fez o preço da energia disparar, o que impacta diretamente na renda das famílias. Hoje, a energia é comercializada na bandeira vermelha, faixa de preço da energia que pune o consumo com o objetivo de diminuir a demanda doméstica, mas também afeta setores como a agricultura e indústria”, explica.
Como a energia é driver de inúmeras atividades e setores, o aumento no preço gera forte pressão inflacionária, contribuindo para que o Banco Central seja obrigado a subir os juros.
Reforma tributária x investimentos
Para o investidor é possível segmentar os impactos da reforma tributária em três frentes: Fundos Imobiliários, Fundos e Ações. Abaixo, o assessor de investimentos da iHUB lista os principais pontos positivos e negativos:
Começando pelo lado positivo, os dividendos dos fundos imobiliários, por exemplo, não serão impactados, portanto, o imposto de renda continuará a incidir apenas sobre a valorização das cotas, outro ponto positivo para os FIIs é que deve haver uma equiparação da alíquota com à das operações com ações.
Atualmente, os FIIs pagam 20% sobre o lucro obtido com a venda das quotas, com a nova regra passarão a pagar 15% sobre o lucro, assim como ocorre com as ações.
Já para os fundos de investimentos são previstas mudanças muito positivas como a fixação da alíquota de IR em 15%, independente do prazo em que o investidor permanece no fundo, o que acabaria com o escalonamento que temos hoje, que começa em 22,5% e chega em 15%, sobre o lucro, de acordo com o tempo de permanência do cotista no fundo.
A reforma prevê ainda o fim do come-cotas em maio, mantendo apenas a cobrança em novembro.
Para as empresas da bolsa de valores, o ponto positivo será que a alíquota de IR também diminuirá gradualmente, passando a ser de 25%, como é cobrado hoje, para 20% a partir de 2023. Caso seja aprovada, essa mudança vai aumentar o lucro das empresas em 6%.
Um ponto positivo para o investidor pessoa física que pratica day-trade é que a alíquota para este tipo de operação, que hoje é de 20%, passará a ser de 15%, assim como as ações e os FIIs e, além disso, a apuração passaria a ser trimestral e não mais mensal.
Na esteira dos pontos negativos, o que se destaca é a tributação dos dividendos, o governo pretende taxar em 20% os dividendos distribuídos aos acionistas provenientes de empresas da bolsa independentemente do valor recebido.
A proposta sugere ainda extinguir os Juros sob Capital Próprio (JCP). Como hoje as empresas alocam os JCPs como despesas em seus balanços, eles diminuem a base tributária. Com a extinção deste mecanismo o lucro das empresas será impactado.
Os bancos são os maiores utilizadores deste mecanismo contábil. Com sua extinção seus balanços podem sofrer, porém esta queda será parcialmente absorvida pela redução na alíquota de IR.
O investidor estrangeiro enxerga esse movimento com muito bons olhos, à medida em que a reforma visa simplificar a legislação tributária, esse movimento atrai mais investidores e esse ingresso de capital estrangeiro tende a gerar uma valorização da moeda brasileira.
Aumento das IPOs na B3
O mercado de capitais está aquecido este ano, cerca de 38 empresas entram na bolsa de valores, com um valor aproximado de R$112 bilhões, considerando IPOs e Follow-ONs. Sendo que em 2020, a bolsa de valores registrou 28 IPOs.
Atualmente, 20 empresas estão com seus pedidos de IPO em análise na CVM, são elas: Vix Logística, Ammo Varejo, Topico, Althaia Indústria Farmacêutica, Conasa, Agribrasil, CSN Cimentos, Nova Harmonia, Invest Tech, Madero, Bluefit Academias de Ginástica, Athena Saúde Brasil, São Salvador Alimentos, Grupo Avenida, Rio Energy Participações, Hortigil Hortifruti, Nadir Figueiredo, Monte Rodovias, Rio Branco Alimentos e Librelato.
Apetite dos estrangeiros por investimentos no Brasil
Quando comparado com o exterior, a bolsa brasileira está barata, tanto em reais, quanto em dólar e o investidor estrangeiro sabe disso. A conexão entre a entrada e saída de capital estrangeiro na bolsa em 2021, já está positiva em R$41 bilhões, de acordo com dados da B3.
“O investimento estrangeiro deve seguir com esse fluxo positivo de entrada no país, porém, muito atento ao avanço das reformas, aos riscos políticos que vieram da presidência, do congresso e também ao cenário pré-eleitoral, levando em consideração que o ambiente global permaneça constante”, comenta Santos.
Ibovespa e Taxa Selic
Neste ano, a XP está trabalhando com um alvo que o Ibovespa pode chegar a 145 mil pontos. De acordo com os analistas da corretora, esse seria o valor justo da bolsa, quando avaliamos as empresas por seus múltiplos.
Já com a taxa Selic a previsão é que ela alcance 8% a.a, mas isso não significa um movimento de retorno para a poupança, quem saiu deste investimento dificilmente vai voltar, pois existe um investimento mais seguro e rentável, o tesouro direto, de acordo com Santos.
“O caso das pessoas que retornam à poupança é devido a uma experiência ruim com o mercado financeiro, onde provavelmente investiram em produtos inadequados aos seus perfis. Quanto à taxa Selic certamente é possível que ela atinja o patamar de 8% a.a. Vemos esta preocupação na última ata do COPOM onde foi reafirmado o compromisso da instituição com o controle da inflação”, comenta o especialista.
A maioria dos economistas ainda apostam na Selic por volta de 7% a.a, mas não há uma tendência de fuga para a poupança, porém, pode haver uma migração de parte dos investidores da bolsa para a renda fixa. Isto porque com a elevação da taxa Selic, a relação risco x retorno pode ser mais atrativa na renda fixa para alguns investidores, à depender do perfil.
Moedas de emergentes frente a vacinação
O valor de uma moeda entre tantas outras variáveis é composto pela capacidade de geração de riqueza do país. Comparado a outras moedas emergentes como do México, Colômbia e Turquia, o real foi a moeda que mais se desvalorizou durante a crise do coronavírus. Na mesma época, o dólar era cotado um pouco acima dos R$4,60 e disparou para quase R$6,00 em um curto espaço de tempo.
“Esse movimento é natural em crises, onde o capital dos investidores migram para as moedas mais fortes, mas isso já vem se corrigindo e gradualmente o dólar vem cedendo”, explica Santos.
O avanço da vacinação traz normalidade e desenvolvimento econômico, fortalecendo a saúde financeira das empresas, o que leva ao crescimento econômico do país e consequentemente da moeda. Há alguns entraves que impedem um avanço maior da nossa produtividade como a elevada e burocrática carga tributária, carência em infraestrutura, leis trabalhistas engessadas, risco político, entre outros.
“Vale salientar que os Estados Unidos estão passando por um momento pouco típico, momento este de elevada inflação. Provavelmente levará o FED (banco central americano) a realizar dois movimentos, o primeiro é interromper os pacotes de estímulo e o segundo é elevar os juros, já isso pode influenciar os fluxos financeiros globais e impactar na nossa taxa de câmbio”, finaliza
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